Brasil atinge mais uma triste marca e chega aos 300 mil mortos por coronavírus
No período mais grave da pandemia, país vive com situações críticas de estado com risco de escassez de medicamentos do "kit intubação" e de oxigênio
Por Gustavo Vicente* e Marina Cardoso
Após mais de um ano desde o início da pandemia do coronavírus, o Brasil atingiu mais uma triste marca nesta quarta-feira. O país chegou a 300 mil vidas perdidas decorrentes da infecção da covid-19. Monitoramento independente do consórcio de veículos de imprensa indicou que o Brasil já tem 300.015 pessoas mortas pela doença até as 16h40 desta quarta.
O número se confirma no período mais grave da pandemia no país, com a maior taxa de contaminações desde o ano passado, estados enfrentam com falta de oxigênio, com o risco da escassez de medicamentos para o chamado "kit intubação" e filas para leitos de UTI. Junto a isso, o governo federal desestimula a adoção de medidas mais duras para conter o vírus e Bolsonaro chegou a entrar na Justiça para desobrigar estados que restringissem suas atividades não essenciais. Além disso, o país lida com novas variantes da Covid-19, que apresentam maior poder de contágio.
Desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) demonstrou que era contrário às medidas de isolamento e distanciamento social. Bolsonaro deu declarações que não eram recomendadas pelas principais instituições mundiais sanitárias, como a falta de necessidade do uso de máscara, colocou em dúvida a gravidade da doença, chamando-a de “gripezinha” e ironizando as mortes "falando que não era coveiro" e, ainda, estimulou e promoveu aglomerações.
O Ministério da Saúde não elaborou um plano contra à Covid-19. Até o momento, o governo federal não conseguiu articular medidas em conjunto com estados e municípios para a criação de um plano nacional de combate à pandemia e de imunização, assim que as primeiras doses foram chegando ao Brasil. O governo federal preferiu entrar em um atrito com governadores e prefeitos quando as medidas estipuladas por esses grupos não vinham de encontro com a posição do Planalto.
Durante a gestão do primeiro dos quatro ministros da Saúde durante a pandemia, Luiz Henrique Mandetta, a pasta da Saúde chegou a defender o isolamento social. Porém, o governo federal passou a agir contra qualquer medida restritiva, o que, segundo os especialistas, ajudou a disseminar o vírus. Bolsonaro criticou duramente o fechamento temporário de setores não essenciais.
Além disso, contrariando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o governo apostou em medicamentos que a ciência já havia demonstrado que são ineficazes contra o coronavírus, como a hidroxicloroquina e ivermectina. Bolsonaro afirmou que não iria tomar a vacina. Ele chegou a ironizar falando que quem tomasse viraria "jacaré".
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A compra de vacinas também ficou em segundo plano. Bolsonaro chegou a criticar em dúvida a eficácia das vacinas, como fez em relação à Coronavac. Inúmeros países decidiram fechar contratos em caráter emergencial para a compra de imunizantes, enquanto que o Brasil, quando decidiu fazer negócio, ficou com poucas opções e hoje enfrenta falta de vacinas. Além disso, a lentidão para compra de agulhas, seringas e kits para diagnóstico.
Para Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, a tendência de alta de mortes continuará ao longo de todo mês de abril. "Próximo mês ainda será complicado, se mantendo pelas próximas semanas até maio. Acredito que será uma média de 2 a 2,5 mil mortes por dia", afirma ele.
Questionado sobre o superferiadão que estados como Rio e São Paulo farão, Chebabo explica que não deve apresentar um resultado que garanta alívio ao sistema de saúde. "O impacto seria muito menor se tivesse organização sanitária. A gente teria um lockdown verdadeiro com barreira sanitária e limitação de pessoas, além da contrapartida do governo federal ao liberar o auxílio emergencial. Infelizmente, não há uma coordenação central", pontua ele.
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A presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, Tânia Vergara, observa que não há como diminuir os casos hoje sem uma medida mais dura do que as que foram anunciadas. "Estamos atendendo neste momento pessoas em situações complicadas dentro de casa, pois como não tem vaga não há o que fazer. Os pacientes acabam sendo internados já em estado gravíssimo. Eu não vejo solução se a gente não fechar tudo", diz ela.
Mais do que nunca, ela diz que as pessoas têm que entender que a situação é muito grave. "Não tem como o sistema de saúde suprir no momento o número de casos. Só poderemos ter algum resultado se a circulação de pessoas apresentar queda. Elas não têm que se expor nos próximos dias", pondera ela.
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Duas semanas como o país com mais mortes
Na última sexta-feira (19), o Brasil completou duas semanas como o país com mais mortes diárias por Covid-19 no mundo. O país, no dia 16 deste mês, chegou a ser o responsável por um total de 28% das novas mortes e 16% de todos os novos casos de Covid-19 registrados no mundo. Os dados são do Our World in Data.
No ranking mundial de mortes diárias, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos no último dia 5 deste mês, quando registrou 1,8 mil óbitos em 24 horas, enquanto os EUA tiveram 1.763. Desde a data, a diferença entre os dois países só aumentou.
Desde terça-feira (16), o país também registra mais mortes diárias por Covid-19 do que toda a União Europeia, além da América do Norte. O Brasil tem registrado mais mortes mesmo com uma população menor que a dos EUA (209 milhões contra 328 milhões) e da União Europeia (447 milhões).
Em número de casos, o Brasil também se tornou na terça o país com mais casos diários no mundo (83.926, frente 53.579 dos EUA).
CRONOLOGIA DA COVID-19
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10 de abril 2020
Número de mortes decorrentes do novo coronavírus passa de mil. As Secretarias estaduais de Saúde registram 1.074 mortes e 19.943 casos confirmados da Covid-19.
16 de abril 2020
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Completa um mês a primeira morte pelo novo coronavírus no Brasil. Presidente da República, Jair Bolsonaro, decide exonerar o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Quem assume o ministério é o médico oncologista e empresário Nelson Teich.
9 de maio 2020
Brasil supera a marca de 10 mil mortos decorrentes do novo coronavírus. Neste sábado, 10.627 pessoas morreram, depois de registrados 730 óbitos em 24 horas.
15 de maio 2020
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Secretarias estaduais de Saúde começam a sexta-feira (15) com registro de 14.058 mortes decorrentes do novo coronavírus. Salta para 204.795 o número de casos diagnosticados.
Ministro da Saúde, Nelson Teich, pede demissão do cargo pouco menos de um mês à frente da pasta. O médico oncologista alertou sobre riscos da cloroquina e defendeu medidas de distanciamento social – posicionamentos científicos, mas contrários ao que defende o presidente Jair Bolsonaro.
18 de maio 2020
Mais um recorde no balanço diário de coronavírus no Brasil. Com 254.220 casos confirmados, o país é o terceiro do mundo com maior número de pessoas contaminadas. Em 24 horas, foram contabilizados mais 13.140 novos casos.
19 de maio 2020
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Mais um dia de recorde no Brasil: país ultrapassa a marca de 1.000 mortos pelo coronavírus em 24 horas. Dados do Ministério da Saúde indicam o registro de 1.179 novas mortes em um dia. Ao todo, são 17.971 óbitos desde o início da pandemia.
Coronavírus se torna a maior causa de mortes no Brasil atualmente. A doença supera o conjunto de todas as doenças cardiovasculares, que matam 980 pessoas por dia. Também deixa para trás mortes diárias por câncer (624) e acidentes e violência (413).
8 de agosto 2020
País ultrapassa a marca de 3 milhões de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. A inclusão de 46.305 novos casos em 24 horas elevou para 3.013.369 o total de diagnósticos da doença.
Outra marca também foi atingida: passa de 100 mil o número de óbitos. A confirmação de 841 mortes em 24 horas atualizou para 100.543 o total de óbitos decorrentes da Covid-19.
7 de Janeiro 2021
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Após as festas de final de ano, o Brasil atingiu o número de 200 mil mortes pela COVID-19 e um outro número recorde foi batido neste mesmo dia: 1.841 mortes nas últimas 24 horas.
9 de março 2021
Com o registro de 1.972 mortes, a data é a pior da pandemia, segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass). Foram identificados também 70.764 novos casos da doença. O dia marca a pior semana do Brasil durante a pandemia do novo coronavírus.
10 de março 2021
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O Brasil ultrapassou a marca de 2 mil mortos por COVID-19. Nesta data, foram registradas 2.349 vidas perdidas por causa do novo coronavírus. é o maior número desde o começo da pandemia.
16 de março 2021
O Brasil teve 2.798 mortes registradas em 24 horas, outro recorde. O total de mortes desde o começo da pandemia foi para mais de 282 mil, com média móvel de 1.976 mortes em uma semana.
Ao mesmo tempo, de acordo com a Fiocruz, o Brasil vive o maior colapso hospitalar de sua história, com 24 estados e o Distrito Federal com taxas de ocupação de leitos de UTI para pacientes adultos com Covid-19 no Sistema Único de Saúde, iguais ou superiores a 80%. 15 estados estão com ocupação acima de 90%.
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