O estudo, foi feito a partir de semelhanças entre o novo coronavírus e o vírus da hepatite C. Se esses dois medicamentos eram eficazes contra um, também poderiam apresentar resultados contra o outro, explica Thiago Moreno, pesquisador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz).
O uso de um medicamento conhecido traz vantagens e desvantagens ao tentar adaptá-lo a outra doença. “É como se uma roda do carro estivesse caindo porque perdeu um parafuso. Você acha um outro, que não é exatamente o mesmo, e tenta usá-lo para a roda não cair, mas não tem certeza absoluta de que vai funcionar”, diz Moreno.
Vantagens
Entre as vantagens estão o preço e a praticidade. Os pesquisadores buscaram medicamentos na forma de comprimidos, para que sua administração fosse mais fácil, podendo ser usado em tratamento ambulatorial. Além disso, anos atrás, a empresa que o produz o daclatasvir abriu mão da patente, possibilitando a fabricação de genéricos. O tratamento com o medicamento produzido na Índia sai em torno de US$ 5 (cerca de R$ 27), observa Moreno. No momento, o daclastavir está sendo usado em pacientes hospitalizados e com alta carga viral para melhor acompanhamento dos resultados.
Apesar de a publicação final ter sido agora, o estudo já foi discutido com Anvisa ao longo de todo o segundo semestre de 2020, e no começo deste ano recebeu sinal verde para começar o ensaio clínico com o HCor e o Grupo Coalizão Covid. “É provável que para o segundo semestre deste ano a gente já tenha os resultados da fase 2 e até da fase 3”, diz, referindo-se ao aumento do teste em escala, com mais pacientes.
A divulgação em 2020 do estudo em uma pré-publicação atraiu grande interesse internacional. Além dos grupos do CTDS/Fiocruz, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), do Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (Idor) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foram fechadas parcerias com as Universidades de Columbia (EUA) e Liverpool (Reino Unido), que desenvolviam pesquisas complementares: a instituição britânica fez as predições das doses e a americana realizou os experimentos enzimáticos. “É um estudo que é muito completo, fornecendo várias camadas de evidências para o efeito dessas drogas”, diz Moreno.
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