Após ter o pulmão totalmente comprometido por uma fibrose irreversível, em consequência da Covid-19, José Hipólito não tinha outra chance de sobrevida se não fosse o transplante. E o sucesso da cirurgia não foi apenas importante para o empresário, como também para a história da medicina brasileira: apenas 50 operações semelhantes foram feitas em todo o mundo desde o início da pandemia e, no Brasil, outro paciente que passou pelo procedimento antes não resistiu.
Transplante foi feito no Hospital Israelita Albert Einstein
A cirurgia levou dez horas e envolveu sete profissionais. O paciente ainda ficou conectado a duas ECMOs simultâneas: a que ele já estava ligado antes e outra usada durante o transplante. ECMO (Membrana de Oxigenação Extracorpórea) é uma espécie de pulmão artificial que oxigena o sangue fora do corpo, substituindo temporariamente o órgão comprometido de maneira severa.
“Para a alegria geral, os dois equipamentos foram desconectados logo após o procedimento”, celebra Samano.
Já são sete meses de internação
No estado de São Paulo, há pelo menos cem pacientes à espera de um pulmão. Só no Einstein, são 35.
A favor do empresário estava o fato de que ele era muito saudável antes da Covid (caminhava em torno 15 quilômetros por dia) e, mesmo com a doença, seus outros órgãos estavam preservados.
O caso foi levado à Câmara Técnica de Transplante de Pulmão, ligada ao Ministério da Saúde, que autorizou a cirurgia. “É um procedimento de alta complexidade, que exige que o paciente tenha condições mínimas de fazê-lo. Ao fazer um transplante sem grandes chances de dar certo, você não só mata o paciente como mata também aquele outro da lista que não teve a possibilidade de ser transplantado”, explica o pneumologista José Eduardo Afonso Júnior, coordenador médico do programa de transplantes do Einstein.
Segundo o médico, antes da pandemia, pacientes que ficavam gravemente doentes do pulmão por um evento agudo nunca eram candidatos a transplante. “É um paciente que está há muito tempo na UTI, muito enfraquecido, colonizado por bactérias.”
Em razão da covid-19, muitas pessoas saudáveis passaram a morrer rapidamente de complicações pulmonares. Diante de relatos de transplantes bem sucedidos ao redor do mundo, o Einstein decidiu encarar o desafio.
Os candidatos precisam passar por avaliação de médicos, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas e pelo serviço social (o paciente tem que ter condições de fazer reabilitação após a alta, por exemplo).
Outro critério é o paciente estar consciente, para poder autorizar o transplante. Costa estava sedado, mas foi acordado. “Na maioria das vezes, a gente tem um paciente grave e não consegue acordá-lo. Acordamos o paciente, conversamos com ele e ele respondeu que, sim, queria muito criar os netos e os bisnetos”, conta o médico responsável.