Ex-governador do Rio, Wilson Witzel, presta depoimento na CPI da Covid nesta quarta-feiraJefferson Rudy/Agência Senado

Por O Dia
Durante depoimento na CPI da Covid, nesta quarta-feira, 16, o ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, afirmou que seu processo de impeachment ocorreu de forma acelerada e sem garantia de direitos legais. Witzel também afirmou que teria sido vítima de “perseguição política” e que o processo de impeachment começou após investigações do caso Marielle Franco.  

“Tudo isso começou porque eu mandei investigar sem parcialidade o caso Marielle. Quanto foram presos os dois executores da Marielle, o meu calvário e a perseguição contra mim foram inexoráveis”, afirmou o ex-governador.
Witzel falou que enfrentou dificuldades para se comunicar com o governo federal após a acusação de que estaria interferindo na Polícia Civil do Rio para que o caso Marielle fosse adiante. "Ver o presidente da República acordar em Dubai para me atacar e dizer que estava manipulando a polícia do meu estado. Quantos crimes de responsabilidade vai cometer até que alguém pare ele?", indagou ele. 
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Em seguida, ele disse que após esse episódio não foi mais recebido no Palácio do Planalto para discutir sobre pandemia. “Depois desse evento, eu não fui mais recebido no Palácio do Planalto e nós tínhamos dificuldades de poder falar com os ministros para sermos atendidos. Governo e o presidente começaram a me retaliar. Eu encontrei com o ministro Guedes no avião, fui falar com ele, ele virou a cara e saiu correndo”, disse. 
"A CPI pode deferir sob segredo de justiça, e aqui vai uma sugestão, com o Supremo Tribunal Federal, medidas cautelares de busca e apreensão de celular e documentos para sabermos quem está por trás do meu impeachment", reforçou ele.
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Witzel falou que o seu impeachment foi o começo para uma perseguição contra governadores em todo o país. "Por trás do meu impeachment estão aqueles que se aliaram a esse discurso de perseguição aos governadores. É um governador que foi ilegitamente cassado por um tribunal de exceção. Isso não pode continuar. Espero que possa retornar a governar o meu estado para terminar meu mandato. Eu quero seguir na vida política desse país. Quem sabe o mandante do caso Marielle possa ser descoberto", pontuou ele.
'Corro risco de vida' 
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Após isso, Witzel falou sobre o risco de vida que corre com os milicianos ligados à saude. "Corro risco de vida, por causa da máfia da saúde no Rio de Janeiro e quem está envolvido por trás dela. Tenho certeza  que tem miliciano envolvido por trás disso. Inclusive, manifestei minha vontade de vida de deixar o país para manter minha integridade física, minha e da minha família", disse Witzel.
Ele contou ainda sobre um episódio com ex-ministro da Justiça Sergio Moro no qual o ex-juiz federal teria passado um "recado" de Bolsonaro a Witzel. Segundo o relato do ex-governador, Moro disse a ele para "parar de falar que quer ser presidente", a pedido de Bolsonaro, a quem Moro chamava de "chefe". "Acho que papel de menino de recado não se espera de você que, como eu, é magistrado de carreira", afirmou Witzel sobre o que teria dito ao ex-ministro. Segundo o governador cassado, Moro relatou a ele que a reunião entre os dois não poderia se tornar pública.

"Há indícios de intervenção no RJ no caso Marielle e atos de perseguição contra mim", disse o ex-governador, segundo quem Bolsonaro o chamou de "estrume, ditador e leviano".
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Sergio Moro
Para mostrar o papel de Moro e mostrar a influência do presidente Bolsonaro e de Moro, Witzel lembrou de uma situação do porteiro de Bolsonaro sobre o caso Marielle. "Logo após o porteiro prestar depoimento para a Polícia Civil, o então ministro Moro requisita um inquérito para investigar crime de segurança nacional. Isso porque o porteiro disse que o executor da Marielle teria chegado no condomínio e teria mencionado o nome do presidente da República", disse ele.
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O impeachment
O processo de impeachment contra o governador Wilson Witzel foi votado no dia 30 de abril e todos os votos do Tribunal Especial Misto (TEM) foram a favor da cassação do mandato de Witzel. Formado com cinco deputados e cinco desembargadores, o júri considerou que o ex-governador culpado por crime de responsabilidade em contratos da Secretaria de Estado de Saúde durante o período de pandemia.  
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As denúncias contra ele seguem dois pontos principais. O primeiro se referem à requalificação da OS Unir, por decisão de Witzel, em 23 de março de 2020, após a organização social ter sido impedida de contratar com a administração pública e ter tido contratos rescindidos para a gestão de unidades de saúde no Rio, por irregularidades no contratos, em setembro de 2019.

Outro aspecto da denúncia se refere à contratação da OS Iabas por mais de R$ 800 milhões para construir e administrar os hospitais de campanha do Rio, sem que empresa tivesse condições de realizar o serviço. A denúncia apontou, ainda, que as organizações sociais Unir Saúde e Iabas pertencem ao empresário Mário Peixoto. 
 
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*Com informações do Estadão Conteúdo