A Belcher virou alvo da CPI após tentar vender vacinas a um preço mais alto que o de todos os outros imunizantes já comprados até agora pelo governo federal. Agência Brasil

Por ESTADÃO CONTEÚDO
Desconhecidas no mercado farmacêutico até poucas semanas atrás, as empresas Precisa Medicamentos e Belcher Farmacêutica têm em comum mais do que suspeitas de irregularidades nas negociações de vacinas com o governo federal. Alvos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado, ambas têm ligações com o deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), líder do governo na Câmara, e fecharam contratos na gestão de Jair Bolsonaro em processos sem licitação.
Como revelou o Estadão, os valores dos negócios da Precisa com o governo aumentaram 6.000% após a posse de Bolsonaro. No caso da Belcher, que negociou a vacina chinesa Convidecia com o Ministério da Saúde, mas não fechou acordo, foram 12 contratos a partir de 2020. Antes disso, a farmacêutica nunca havia sido contratada pela administração federal.
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Com sede em Maringá, reduto eleitoral de Barros, a Belcher virou alvo da CPI após tentar vender vacinas a um preço mais alto que o de todos os outros imunizantes já comprados até agora pelo governo federal. No caso da vacina Convidecia, a dose foi oferecida a US$ 17, valor acima do imunizante indiano Covaxin, o mais caro até agora oferecido ao Ministério da Saúde (US$15).
No caso da Covaxin, cuja compra foi intermediada pela Precisa, a negociação foi suspensa dias depois de se tornar alvo de investigações, após um servidor da pasta apontar suspeitas de corrupção no processo de contratação.
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Por trás da Belcher está Daniel Moleirinho Feio Ribeiro, sócio da empresa, filho de Francisco Feio Ribeiro, um ex-secretário de Ricardo Barros na época em que ele era prefeito de Maringá. Outra ligação é o advogado Flávio Pansieri, que defende o parlamentar em ações na Justiça e, ao mesmo tempo, se apresentou como representante da Belcher na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em nota, a empresa negou qualquer "interferência ou relação do deputado, de qualquer outro parlamentar, autoridade ou terceiro" nos negócios. O advogado não foi localizado.
Questionado, Barros admite que conhece os donos da Belcher e afirma que faz parte de sua posição no governo ter relações com empresas desse setor. "Na condição de ex-ministro da Saúde e coordenador da Frente Parlamentar da Indústria Pública de Medicamentos sou procurado por muitos parceiros do SUS e coopero naquilo que está ao meu alcance em todos os temas da Saúde. Em relação à pandemia da covid o objetivo maior é que todos os brasileiros possam ser imunizados e tratados o quanto antes. É minha obrigação como parlamentar", afirmou. Ele também diz não ver qualquer impedimento de seu advogado atuar como representante da empresa.