Imagem de Ivanildo no momento do pagamento bancárioReprodução

Sem depoimentos, a CPI da Covid deu início à sessão desta terça-feira, 31, com votação de requerimentos e discussão de questões de ordem. Para esta manhã, estava prevista a oitiva do motoboy Ivanildo Gonçalvez, da empresa vinculada ao Ministério da Saúde, VTCLog. Ivanildo teria feito saques milionários, considerados suspeitos pela comissão, mas teve seu depoimento suspenso. Durante a sessão, o senador e relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), mostrou imagens do motoboy pagando boletos do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias.
“São imagens reveladas pelo sistema de bancos que comprovam dia e hora em que os boletos do Roberto Ferreira Dias estavam sendo pagos pela VTCLog, através do Ivanildo, o que comprova verdadeiramente o conluio existente no bastidor do Ministério da Saúde no exato enfrentamento à pandemia”, afirmou Calheiros.
A imagem mostra o pagemento que ocorreu no dia 26 de junho deste ano, e o valor pago na data em questão foi de R$ 6 mil. Ivanildo foi liberado do depoimento previsto para esta terça por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kassio Nunes Marques. Senadores rechaçaram a decisão.
“Se nós não tivermos a colaboração, no limite do direito das leis processuais, do Supremo Tribunal Federal, e nós temos tido, mas de todos os ministros, eu queria enfatizar, isso vai dificultar os nossos trabalhos”, mencionou Calheiros. “Eu quero lamentar mais uma vez a decisão do ministro Kássio”, completou.

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), “a CPI não pode concluir seus trabalhos sem antes fazer uma investigação profunda sobre a empresa VTCLog”.

“A empresa que, em 2018, passou a ser titular de um contrato milionário, de mais de R$ 500 milhões, para substituir uma atividade que era feita pelo Ministério da Saúde”, disse o senador. O senador disse ainda que a comissão deve agravar a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kassio Nunes Marques.

“Eu queria questionar ele, por exemplo, sobre a constatação de que ele [Ivanildo] esteve, ao menos uma vez, no Ministério da Saúde. O que ele foi fazer lá? Foi levar dinheiro para quem? O Brasil quer uma resposta para todas essas questões”, pontuou.

Humberto também ironizou que, segundo rumores, um dos advogados do motoboy, já prestou serviços para Adriano da Nóbrega, conhecido miliciano, e Fabrício Queiroz, ex-assessor de gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ).
Mais cedo, durante a comunicação de que Ivanildo havia sido liberado do depoimento por Kássio Nunes, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), reforçou que o motoboy é testemunha e não investigado. No entanto, afirmou que a CPI vai recorrer à decisão.

“Diferente do presidente Bolsonaro que, quando é contrariado em uma decisão judicial, entra com um pedido de impeachment contra ministros. Aqui nós respeitamos as decisões e quero tranquilizar que não vamos entrar com nenhum pedido de impeachment”, disse Aziz.
Convocações
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que a CPI não pode encerrar os trabalhos sem ouvir pessoas que, segundo ele, estariam ligadas a contratos do Ministério da Saúde com a VTCLog, que precisam de esclarecimentos.

O senador informou que vai reapresentar o requerimento de convocação do motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva para que as justificativas sejam reavaliadas pelo ministro do STF, Kassio Marques Nunes. Randolfe disse também que apresentará requerimento para que a CPI ouça Flavio Loureiro de Souza, que teria influência nos contratos da empresa de logística, assim como os sócios da empresa, Raimundo Nonato Brasil e Teresa Sá. O senador defendeu ainda os pedidos de quebra dos sigilos telefônico, fiscal e telemático dos envolvidos.
Logo no início da sessão, o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) chegou a afirmar que a presidente da VTCLog, Andréia Lima, já entregou à CPI documentos que podem esclarecer dúvidas dos senadores em contratos assinados com o Ministério da Saúde. Andreia teve sua oitiva marcada para esta terça, no lugar de Ivanildo, que recebeu o direito de não comparecer à comissão. A empresária, no entanto, não compareceu a tempo.

Izalci disse ter sido o primeiro integrante da comissão a denunciar a “ineficiência de controle” na pasta, "inclusive com relação a estoques e distribuição", e a defender o depoimento de representantes da empresa de logística.

“Falei da VTCLog, fui o primeiro a falar nisso. Foi entregue à comissão toda uma documentação pela senhora Andréia Lima que, desde o primeiro momento, se dispôs e trouxe documentos para mostrar e responder sobre tudo o que haja dúvidas", disse Izalci.
Senadores reagem
Ainda sobre a decisão de Kássio Nunes, as senadoras Soraya Thronicke (PSL-MS) e Eliziane Gama (Cidadania-MA) também deixaram claro o descontentamento com o ministro. Segundo Soraya, Nunes tomou a decisão enganado por citar jurisprudência de investigado, enquanto o motoboy foi chamado a falar como testemunha. Para a senadora, isso abre "precedente perigosíssimo". Eliziane Gama disse ainda que a CPI precisa direcionar o foco para a VTCLog durante as últimas semanas da comissão.
Mais tarde na sessão, o senador Otto Alencar (PSD-BA) também pontuou que é preciso a CPI deve exigir proteção policial ao motoboy, o que, de acordo com Randolfe, já foi solicitado pela comissão à Polícia Federal. O senador afirmou que há informações de que Ivanildo distribuía dinheiro em Brasília, “o que irá comprometer pessoas em todas as áreas”.
Segundo Randolfe, a CPI já possui comprovação de quatro pagamentos em agência do Bradesco em Brasília sendo, o maior deles, de R$ 13,5 mil — em favor de Roberto Dias.
Entenda quem é Ivanildo e a relação da VTCLog com o Ministério da Saúde
Ivanildo entrou na mira da CPI após ser apontada no relatório de inteligência financeira (RIF) do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) uma movimentação atípica da VTCLog no valor de R$ 117 milhões nos últimos dois anos. Desse total, Ivanildo foi responsável por movimentar R$ 4,7 milhões, quase 5%.

A VTCLog faz parte do grupo empresarial Voetur e foi selecionada pelo Ministério da Saúde para cuidar da armazenagem e distribuição de medicamentos desde 2018. A empresa é também a responsável pela distribuição de todas as vacinas da Covid-19 em todo o país.

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