CPI ouve Marconny Faria, apontado como lobista da Precisa MedicamentosReprodução

Brasília - A CPI da Covid ouve nesta quarta-feira, 15, o advogado Marconny Albernaz de Faria, suspeito de ter atuado como lobista da Precisa Medicamentos. Após negar atuação como lobista, o depoente foi questionado por parlamentares acerca do senador citado em conversas dele com o ex-diretor da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed) José Ricardo Santana. Em resposta, Marconny afirmou que não lembra do nome do senador ao qual se referia nas mensagens.

Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Fabiano Contarato (Rede-ES), Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Renan Calheiros (MDB-AL), Otto Alencar (PSD-BA), Humberto Costa (PT-PE) e Omar Aziz (PSD-AM) insistiram para que o depoente informasse quem é o parlamentar citado. Ao ser questionado se ele mantinha relação próxima com algum senador, Marconny negou.
“Bob [apelido de Roberto Ferreira Dias] vai estar com o senador às 20h”, diz a mensagem enviada por Marconny em conversa com Ricardo Santana no dia 20 de novembro de 2020. Assista:
“O senhor é mais um oportunista nessa zona cinzenta que temos em Brasília. Uma zona cinzenta de interação entre lobistas, que essa é a sua profissão, autoridades que se deixam corromper e maus políticos. O senhor está passando vergonha em rede nacional por sua culpa, não pela minha fala, porque o senhor participou de negociata e não tem a coragem de dizer o nome dos envolvidos”, criticou Alessandro Vieira na sequência.

Em mais uma mensagem, Ricardo Santana diz a Marconny que haverá um encontro entre Roberto Ferreira Dias e o senador em questão, “na intenção de destravar a venda dos testes rápidos”. Em harmonia com os senadores, Fabiano Contratado se posicionou acerca do comportamento de Marconny na comissão.

“Eu sou senador e o meu nome não está nessa mensagem e eu nunca vi o senhor. Quem é esse senador que teria esse poder para desatar o nó?”, questionou Contratado. Veja:

Anteriormente, o relator Renan Calheiros afirmou que mensagens cedidas pelo Ministério Público Federal (MPF) à CPI demonstram que Marconny participou ativamente de tentativa de fraudar licitações do Ministério da Saúde para a compra de testes rápidos de covid-19. Essa atuação aconteceu em associação com Francisco Maximiano e Danilo Trento, da Precisa Medicamentos, e Roberto Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde.
A CPI já aprovou um requerimento que solicita registros de entrada de Marconny Albernaz Faria no Senado e na Câmara. Mais cedo, senadora Leila Barros (Cidadania-DF) havia pedido para que a Polícia Legislativa apresente o registro de todas as entradas de Marconny Albernaz Faria nas dependências do Senado. O intuito é esclarecer se o depoente esteve no gabinete de algum parlamentar, fato que ele negou mais de uma vez à comissão.
No depoimento, Marconny Faria que não recebeu pagamentos nem chegou a tratar valor de comissão para o serviço de “assessoria política” que teria prestado à Precisa Medicamentos. Ele admitiu, no entanto, que recebeu “sondagens” para atuar em uma licitação para a compra de testes para o coronavírus pelo Ministério da Saúde.

"A gente não chegou nem a tratar desse assunto, porque a licitação não foi para a frente. Foi um lapso de 30 dias que eu tive com o pessoal da Precisa. No máximo", afirmou ele.

Questionado por Humberto Costa (PT-PE), o depoente afirmou que nunca apoiou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ou a gestão dele no Palácio do Planalto. "Nunca apoiei o presidente nem o governo Bolsonaro. A relação não é política nem profissional. Não é nada", afirmou.

Marconny e a família Bolsonaro
Pressionado por Calheiros, a testemunha informou que conheceu Ricardo Santana em um churrasco na casa de Karina Kufa, advogada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). No entanto, ele não deu mais detalhes sobre quem mais estaria no encontro e, após ser questionado por senadores, disse não se lembrar se Jair Renan, filho do presidente, esteve presente na ocasião

Posteriormente, durante a inquirição, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) também reforçou a dificuldade da comissão em entender qual o papel era desempenhado por Marconny em seus trabalhos de consultoria. Logo em seguida, o senador questionou o depoente acerca de uma de suas festas de aniversário no Estádio Mané Garrincha. Segundo Marconny, a festa teria sido realizada em um camarote no nome de Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente.

“Se elucida com muita clareza porque vale a pena contratar um Marconny. O Marconny não conhece senadores, não é advogado, não entende de contrato, não entende da administração pública. Mas ele é um cara que vai para um churrasco com o advogado do presidente e faz sua festa de aniversário em um camarote de propriedade do filho do presidente”, enfatizou.
Segundo Marconny, sua relação com o filho do presidente é de amizade. Ele admitiu também conhecer a mãe de Jair Renan, a advogada Ana Cristina Valle, mas negou que tenha sido apresentado ou que mantenha negócios com outros integrantes da família.
O depoente reconheceu ainda que ajudou o filho do presidente a abrir a empresa Bolsonaro Jr Eventos e Mídia. "Ele [Jair Renan] queria criar uma empresa de influencer. Só apresentei ele para um colega tributarista que poderia auxiliar na abertura dessa empresa", afirmou.
Também durante a CPI, Randolfe afirmou que constatou que Karina Kufa, advogada de Bolsonaro, e a ex-mulher dele, Ana Cristina, recebiam indicações encaminhadas por Marconny Albernaz Faria para cargos públicos. Uma dessas indicações foi de Márcio Roberto Teixeira, que acabou na direção do Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA). Ele foi preso na Operação Parasita, da Polícia Federal, em 27 de outubro de 2020. Randolfe voltou a defender que ambas sejam ouvidas pela CPI.

“Arquitetura Ideal”
O senador Randolfe Rodrigues também apresentou à CPI diálogos em que Marconny Faria fala sobre burlar o processo licitatório do Ministério da Saúde para a compra de testes de covid-19. As mensagens, originalmente enviadas ao depoente por Danillo Trento, sócio da Precisa Medicamentos, a Marconny sugerem uma “arquitetura ideal” para eliminar concorrentes e privilegiar a Precisa no negócio.
Posteriormente, Marconny encaminha a mensagem a Ricardo Santana e, em seguida, Santana repassa os diálogos para Ricardo Ferreira Dias, que era diretor de Logística do Ministério da Saúde.
"Eu acho que nunca na história do levantamento da corrupção alguém escreveu um passo a passo de como fazer", ironizou Calheiros. Confira:
Após ser questionado por Calheiros, Marconny disse que a "arquitetura ideal" havia sido enviada pela parte técnica da Precisa Medicamentos. No entanto, ele afirmou desconhecer a pessoa que representa essa área da empresa. O relator informou que pretende identificar o responsável.
Calheiros também exibiu mensagens entre Marconny e Danilo Trento. Segundo o senador, os diálogos indicam que o o depoente atuou, junto à Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), para reforçar a denúncia sobre a qualidade do produto da Abbott Diagnóstico Rápido S.A e, eventualmente, prejudicar a empresa no processo licitatório para aquisição de testes de detecção de covid-19.
Operação Falso Negativo
Marconny decidiu ficar em silêncio ao ser questionado se recebeu ligação de Francisco Maximiniano, dono da Precisa Medicamentos, sendo informado sobre a operação Falso Negativo, realizada em agosto de 2020. 
A operação foi deflagrada em julho de 2020, sob alegações de que servidores da Secretaria de Saúde do DF se organizaram para fraudar licitações e para comprar testes rápidos de covid-19, do tipo IgG/IgM, com preços superfaturados. Segundo a investigação, houve troca de marcas de testes por outras de qualidade inferior, o que contribuía para o resultado falso negativo, que deu nome à operação.


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