CPI da Covid em trabalho nesta terça-feira, 28, com depoimento da advogada representante de ex-médicos da rede de hospitais da Prevent Senior, Bruna MoratoDivulgação
Uma das figuras mais tradicionais da educação carioca, que fundou uma escola com ideais democráticos em plena ditadura militar, Aristeo Leite Filho, professor do Departamento de Estudos da Infância da Faculdade de Educação da Uerj e diretor da Oga Mitá, comenta que esse momento em que vive o Brasil é, mais do que nunca, a hora de levar crianças e adolescentes a refletirem, quando recebem uma informação, se é “confiável” ou não, mesmo que esteja vindo de lideranças políticas.
“Temos algo muito sério acontecendo no Brasil: quando se propagam ideias antidemocráticas ou anticientífica, crianças e adolescentes muitas vezes são atingidos por este conteúdo e podem ser influenciados por informações que, muitas vezes, são duvidosas. O pior é que não estamos falando de uma opinião sobre algo simples, como gostar ou não de uma cor, de um sabor de alimento: estamos falando sobre o risco de serem convencidas a não tomar uma vacina contra uma doença mortal, por exemplo”, comenta.
“O ponto positivo é que crianças e adolescentes são curiosos, antenados, querem saber os porquês das coisas. Essas características podem ser diferenciais para que percebam que por mais que uma informação pareça ser verdadeira, já que está sendo dita por autoridades, deve ser questionada. Mais do que nunca, crianças devem aprender a ter um método, ou seja, checarem se uma informação realmente deve ser seguida. Em quem acreditar: na Fiocruz, que estuda há tempos sobre saúde, vacinas, ou uma liderança política que nunca estudou a respeito, por exemplo?”, comenta o educador.
Sobre os necessários debates em sala de aula, a doutora em educação pela UERJ e professora de história, Cecília Schubsky, comenta que desde os mais novos trazem os temas para debater em sala e destaca uma experiência curiosa envolvendo as chamadas campanhas de desinformação:
“No ano passado tivemos uma discussão sobre o "chamado kit gay" que nos levou a descobrir um livro falso que aparece listado na Amazon mas que não tem preço ou como comprar”, comenta.
“Um trabalho bem bacana para entender sobre as fake news é o de apresentar algumas para eles e pedir para dizerem se é falso ou fake. É importante mostrar o contexto, entender como se produz esse debate, qual o efeito que isso tem sobre a vida deles, respeitando as diferenças de opinião e dando espaço para eles pensarem. Da mesma maneira que pensar a democracia faz parte do vivido. Numa das turmas estamos estudando a declaração universal dos direitos do homem e cidadão. O debate rende não só porque eles pensam em exemplos do vivido, mas são convidados a pensar sobre o que é a liberdade e como isso acontece em comunidade. Dessa vivência o movimento antivacina ser uma escolha individual ou uma questão coletiva rendeu bastante”, explica a professora de História da Oga Mitá.
Mestre e doutorando em ciências sociais pela UERJ e professor de sociologia Pedro Barbosa diz que é necessário apresentar as fake news como elas são: uma mentira.
“Abordamos o tema da democracia, falamos das posições antidemocráticas. Mas, frente aos ambientes e posições extremadas, é preciso lidar com o tema com cautela e atenção à diversidade. Apresentamos a fake news pelo que ela é, uma coisa mentirosa, mas que tem grande influência política. E que sempre existiram fake news, só que com as redes sociais isso foi levado à milésima potência. Não podemos nos furtar de falar sobre isso”, explica o professor da Oga Mitá.
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