Domênica, segunda filha de Shantal e Mateus Verdelho, nasceu em setembroReprodução/Instagram

São Paulo - O Ministério Público de São Paulo (MP-SP), por meio da Promotoria de Enfrentamento à Violência de Gênero, Doméstica e Familiar contra a Mulher, informou, nesta terça-feira, 14, que instaurou um procedimento de investigação criminal para apurar as denúncias de violência obstétrica feitas pela influenciadora Shantal Verdelho e pela jornalista britânica Samantha Pearson contra o ginecologista e obstetra Renato Kalil.
Em nota, o órgão disse que recebeu, nesta terça, a "notícia do fato" encaminhada pela Procuradoria-Geral do MP-SP - CAO Criminal contra o médico. O procedimento de investigação criminal atua para a apuração inicial dos fatos, recebimento de documentos e atendimento prioritário às vítimas, "sem prejuízo de futura reunião de feitos na hipótese de instauração de inquérito policial para investigação de fatos correlatados". A nota acrescenta: "Pessoas eventualmente interessadas em apresentar informações favor entrar em contato através do e-mail gevidcentral@mpsp.mp.br".
O caso veio à tona a partir de áudios e vídeos, enviados pela influenciadora em um grupo de amigos, que foram vazados nas redes sociais. Neles, ela relata o que ocorreu durante o nascimento de sua filha, Domenica, em setembro. "Quando a gente assistia ao vídeo do parto, ele (Renato) me xingava o trabalho de parto inteiro. Ele fala: 'porr*, faz força. Filha da mãe, ela não faz força direito. Viadinha. Que ódio. Não se mexe, porr*'", conta Shantal no áudio.

Em trecho do vídeo vazado, é possível ver o médico dizendo para Shantal 'fazer força' soltando um palavrão, que ela rebate: "Eu estou fazendo. Eu sou a maior interessada nisso". A influenciadora diz que era seu sonho ter um parto normal, por isso ao final tinha se sentido feliz por ter conseguido - o que mudou ao ver o vídeo gravado pelo marido, Mateus. "Depois que eu vi tudo, foi muito horrível. Quando mostrei o vídeo pra minha mãe e pra minha terapeuta, todo mundo chorou. Foi um show de horrores", diz na gravação.

Ela afirma, ainda, que o médico a teria 'rasgado com a mão' pois tinha a intenção de provar que ela deveria fazer a episiotomia, um procedimento que consiste em uma incisão no períneo, região entre o ânus e a vagina, para facilitar a passagem do bebê. A Cartilha da Violência Obstétrica, feita pela Promotoria Pública de Mato Grosso do Sul neste ano, coloca a realização da episiotomia sem necessidade como uma das formas de violência obstétrica.

Na gravação, diz que o médico falou de suas partes íntimas ao marido. "Ele chamou meu marido e disse: 'olha aqui, ela está toda arrebentada, vou ter que dar um monte de ponto na parereca dela'. Ele falava: 'olha aí onde você faz sexo, está tudo fodid*'. Ele não tinha que mostrar isso pro Mateus, ele nem sabia se a gente tinha essa intimidade", desabafa no áudio.

Violência obstétrica é o termo que caracteriza qualquer ofensa verbal ou física praticada contra mulheres gestantes, em trabalho de parto ou no período do puerpério - seja praticado pelo médico, pela equipe hospitalar, por familiar ou acompanhante. Em 2014, a violência obstétrica foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma questão de saúde pública que afeta diretamente as mulheres e seus bebês.
*Com informações do Estadão Conteúdo