Chuva causa enchentes no sul da BahiaDivulgação

O governo federal recusou a ajuda humanitária oferecida pela Argentina para o socorro às vítimas das enchentes e temporais que atingem a Bahia. De acordo com a Defesa Civil do estado baiano, a decisão do Ministério das Relações Exteriores comunicou ao consulado argentino na noite desta quarta-feira, 29.

O país vizinho ofereceu envio de profissionais especializados em áreas de água, saneamento, logística e apoio psicossocial para vítimas da tragédia causada pelas fortes chuvas.
No comunicado de recusa da ajuda argentina, o governo brasileiro agradeceu o apoio, mas afirmou que a crise na Bahia está “sendo enfrentada com a mobilização interna de todos os recursos financeiros e de pessoal necessários”.
De acordo com o governo baiano, o Ministério das Relações Exteriores chegou ainda informar que “na hipótese de agravamento da situação, requerendo-se necessidades suplementares de assistência, o Governo brasileiro poderá vir a aceitar a oferta argentina de apoio da Comissão dos Capacetes Brancos, cujos trabalhos são amplamente reconhecidos”.
Nesta quarta-feira, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), chegou a agradecer a ajuda humanitária do país argentina em uma rede social e pediu agilidade do governo federal para autorizar o auxílio internacional.
"Meu agradecimento ao governo argentino pela oferta de ajuda humanitária às vítimas das enchentes na Bahia, em especial ao embaixador Daniel Scioli, ao cônsul-geral na Bahia, Pablo Virasoro, e à presidente da comissão nacional dos Capacetes Brancos, a embaixadora Sabina Frederic", escreveu ele. 
O governador explicou que o país vizinho ofereceu envio imediato de uma missão com dez profissionais. Isso inclui, por exemplo, a oferta de comprimidos para potabilização de água.
"Com a união de esforços, vamos superar este difícil momento. Agora, a missão argentina aguarda a autorização do Ministério das Relações Exteriores para que possam vir à Bahia. Agradeço aos argentinos e peço ao governo federal celeridade na autorização para a missão estrangeira", afirmou Costa.
Nesta quarta, o governador fez uma publicação em crítica a ausência do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Estado, diante da tragédia ocasionada pelas fortes chuvas. Sem citar o nome do mandatário, o político usou sua rede social para dizer que "governar é cuidar de gente e não há como fazer isso longe das pessoas".
"Estou no sul da Bahia desde domingo, visitando as cidades atingidas pelas fortes chuvas e posso afirmar que e o estrago vai além das sedes das cidades e das casas (...). À medida em que faço essas visitas, vou identificando, junto com a equipe técnica, as necessidades que envolvem limpeza das ruas, desapropriação de áreas para novas casas, além do acolhimento às pessoas", acrescentou o governador.
Vítimas das enchentes
O número de mortos provocadas pelas enchentes e temporais subiu para 24. A quantidade de feridos, por sua vez, saltou de 358 para 434, de acordo com a Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec). 
Este é o dezembro mais chuvoso do Estado desde 1989, o que tem causado riscos à população. Cerca de 91 mil moradores do Estado já tiveram de deixar suas casas, enquanto o total de atingidos já chega a 629,4 mil pessoas.

Segundo o governo da Bahia, as três mortes confirmadas nesta quarta são de um casal que teve o carro arrastado por uma enxurrada em São Félix do Coribe e de um homem, morador de Ubaitaba, que foi atropelado por um motorista que perdeu a visibilidade por causa das chuvas. Ambas as cidades ainda não tinham registrado óbitos em consequência das precipitações.

Com as novas ocorrências, os municípios com vítimas fatais agora são: Amargosa (2), Itaberaba (2), Itamaraju (4), Jucuruçu (3), Macarani (1), Prado (2), Ruy Barbosa (1), Itapetinga (1), Ilhéus (2), Aurelino Leal (1), Itabuna (2), São Félix do Coribe (2) e Ubaitaba (1).

Dados da Sudec apontam que, ao todo, cerca de 91 mil moradores do Estado já tiveram de deixar suas casas desde a intensificação das chuvas, no início deste mês. Desse total, 37,3 mil pessoas estão desabrigadas e outras 53,9 mil, desalojadas.

As cidades em situação de emergência caíram de 136 para 132, mas o número segue alto. Ainda corresponde a praticamente um terço dos 417 municípios do Estado.

Coordenador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o climatologista José Marengo explica que, pela atual situação, até mesmo precipitações mais fracas podem gerar riscos de deslizamentos e entupimento de bueiros.

"O solo está muito umido, muito saturado", explica o climatologista, que ressalta que a situação foi se agravando ao longo de dezembro. "É uma situação catastrófica, pouco frequente na Bahia. Qualquer chuva pode acarretar em riscos a partir de agora", alerta Marengo.
*Com informações do Estadão Conteúdo