Brasília - O Brasil pode sofrer graves consequências devido ao avanço do aquecimento global. Entre elas está a possibilidade do país enfrentar o triplo de inundações, apontou o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), divulgado pela ONU na última segunda-feira (28).
O documento alerta ainda que os riscos climáticos estão aparecendo de forma mais veloz e tendem a se tornar mais graves em um prazo ainda menor. E eventos climáticos recentes acendem o alerta. No domingo (27), a cidade de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, chegou a bater 42,9 graus, se tornando a maior temperatura registrada no estado. Há duas semanas, um temporal em Petrópolis matou pelo menos 229 pessoas. No início deste ano, as chuvas também já haviam provocado estragos e tirado vidas em Minas Gerais, Bahia e São Paulo.
Mais vulneráveis serão os mais atingidos
O estudo também concluiu que metade da população mundial é "muito vulnerável" aos impactos cruéis e crescentes da mudança climática, e a inação "criminal" dos governantes ameaça reduzir as poucas possibilidades de um "futuro habitável" no planeta.
"Eu vi muitos relatórios científicos durante minha carreira, mas nenhum como este", reagiu o secretário-geral da ONU Antonio Guterres, que o descreveu como um "atlas do sofrimento humano e uma acusação que aponta para uma liderança falha em termos climáticos".
Questão de sobrevivência
A temperatura do planeta aumentou, em média, +1,1 °C desde a era pré-industrial e o mundo se comprometeu em 2015, com o Acordo de Paris, a limitar o aquecimento abaixo de +2 °C, e se possível de +1,5 °C.
Na primeira parte de seu relatório, publicado em agosto do ano passado, os especialistas do IPCC estimaram que até 2030 - ou seja, dez anos antes do que se pensava - a temperatura atingiria o limite de +1,5 °C.
Antes de um terceiro capítulo previsto para abril sobre as soluções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o documento publicado nesta segunda-feira destaca que superar, ainda que de maneira temporária a barreira de +1,5 °C, poderia provocar danos "irreversíveis" a ecossistemas frágeis como os polos, as costas e as montanhas, com efeitos em cascata para as comunidades que vivem nestas áreas.
As consequências desastrosas aumentarão com "cada décimo adicional de aquecimento". O relatório também prevê o desaparecimento de 3 a 14% das espécies terrestres e alerta que até 2050 quase um bilhão de pessoas viverão em áreas costeiras de risco.
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