Ao divulgar o balanço com os números da pandemia de Covid-19, a Fiocruz reiterou a importância da vacinação no combate à doença Erasmo Salomão/Ministério da Saúde

Nesta sexta-feira, 11, data em que a pandemia do coronavírus completa dois anos desde que foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o novo Boletim do Observatório da Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) chama atenção para o relaxamento prematuro das medidas protetivas diante do cenário atual. Segundo os pesquisadores, é necessário ter prudência na adoção de qualquer medida de flexibilização, tanto pelo possível impacto do Carnaval e o potencial aumento de casos e internação, como pela vacinação que ainda precisa "ir além". 
A análise destaca que essas decisões, assim como não incentivar a população para se vacinar, significam abandonar a história de tantas vidas perdidas e pode gerar um risco de retrocesso nos ganhos obtidos no arrefecimento da pandemia.
“Flexibilizar medidas como o distanciamento físico ou o abandono do uso de máscaras de forma irrestrita colabora para um possível aumento de casos, internações e óbitos, e não nos protege de uma nova onda”, afirmam os pesquisadores.
Nesse sentido, o documento menciona que as próximas semanas serão cruciais para compreender como serão os novos cenários da Covid-19 em relação ao controle na dinâmica de transmissão.

Outra questão ressaltada é a do distanciamento físico, que voltou ao centro da atenção no momento atual, posterior ao feriado de carnaval. "O aumento de casos, mesmo entre vacinados, aumenta a demanda de hospitalizações e possivelmente os óbitos. Atualmente, o ideal é voltarmos ao padrão do início da pandemia, quando recomendávamos fortemente o uso de máscaras, higienização de mãos e evitar as aglomerações”, explicam eles.

De acordo com a Fiocruz, as variantes anteriores e mais recentemente a Ômicron deixaram como legado para a ciência e a saúde o aprendizado de que é fundamental um esquema vacinal completo, incluindo a terceira dose, quando for o caso, para a maior proteção da população. O Boletim destaca que, durante a onda da Ômicron, os países que tinham maiores parcelas da população com dose de reforço apresentaram uma redução substancial das hospitalizações, mesmo com alta no número de casos de Covid-19.
Além disso, estratégias de saúde pública que ampliem a cobertura e vacinação também são necessárias - tais como o passaporte de vacinas nos locais de trabalho e ambientes fechados, combinado com o uso de máscaras nos locais em que não há um controle do total de vacinados ou em situações que envolvem grande concentração de pessoas.

Com metade dos óbitos ocorrendo em pessoas com no mínimo 78 anos, que possuem maior vulnerabilidade às formas graves e fatais da Covid-19, os pesquisadores defendem ainda a necessidade de aplicação de uma quarta dose neste grupo, seis meses após a aplicação da dose de reforço. Porém, ao mesmo tempo em que casos graves são mais concentrados nas idades mais avançadas, cresce a contribuição de grupos mais jovens, principalmente de crianças, no quantitativo total de número de casos, como aponta o Boletim.
“A maior vulnerabilidade das crianças, provocada principalmente pela baixa adesão deste grupo à vacinação, compromete igualmente o grupo que se encontra no extremo oposto da pirâmide etária”, pontuam os pesquisadoras.

Casos e mortes

Os dados referentes às duas últimas Semanas Epidemiológicas (SE), de 20 de fevereiro a 5 de março, confirmam a tendência de queda nos indicadores de incidência e mortalidade por Covid-19. O documento aponta que houve um decréscimo de 48% em relação aos casos diários das duas semanas anteriores (de 6 a 19 de fevereiro) e uma redução de 33% no número de óbitos por Covid-19 no mesmo período.
Entretanto, esses resultados ainda não incluem a avaliação do efeito do carnaval e da flexibilização do uso de máscaras. Houve um ligeiro aumento da taxa de letalidade nas últimas semanas, indicando que pode haver uma redução do número de casos, no entanto com maior gravidade entre esses.

Leitos de UTI para Covid-19

Os dados relativos às taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS obtidos entre 7 e 8 de março confirmam a tendência de melhora no indicador verificada nas semanas anteriores. As duas Unidades Federativas que se encontravam na zona crítica (taxas iguais ou superiores a 80%) no dia 21 de fevereiro saíram da zona de alerta (taxas inferiores a 60%). A tendência foi semelhante à que ocorreu em nove Unidades da Federação que estavam em zona de alerta intermediária e passaram a estar fora da zona de alerta.

O único estado que se manteve na zona de alerta foi Santa Catarina, que apresentou um aumento de 19 pontos percentuais, passando de 60% de taxa de ocupação de leitos, em 21 de fevereiro, para 79% em 8 de março. Em 11 Unidades da Federação, as taxas caíram de forma bastante expressiva, em torno de 20 pontos percentuais ou bem mais: Acre (60% para 40%), Amapá (40% para 24%), Bahia (58 para 31%), Ceará (58% para 36%), Distrito Federal (100% para 56%), Mato Grosso do Sul (82% para 44%), Mato Grosso (63% para 32%), Paraná (67% para 43%), Rio Grande do Norte (49% para 28%), Sergipe (78% para 49%) e Tocantins (65% para 26%).

Entre as capitais com taxas divulgadas, a cidade do Rio de Janeiro pode ser considerada dentro da zona de alerta crítico, com 87% dos seus leitos UTI Covid-19 ocupados para adultos; ou fora da zona de alerta com 4,7% dos leitos ocupados por pacientes com Covid-19 ativa, a depender do indicador utilizado, uma vez que os dados do estado são desagregados. Quatro capitais encontram-se em alerta intermediário: Salvador (61%), Vitoria (67%), Goiânia (73%) e Porto Alegre (65%).
Outras 16 capitais encontram-se fora da zona de alerta: Rio Branco (50%), Maceió (38%), Macapá (18%), Manaus (14%), Fortaleza (54%), Campo Grande (56%), Cuiabá (35%), João Pessoa (33%), Curitiba (46%), Recife (30%), Natal (15%), Porto Velho (39%), Florianópolis (26%), São Paulo (38%) e Palmas (30%). Os dados referentes às capitais Belém (PA), São Luís (MA), Teresina (PI), Boa Vista (RR) e Aracaju (SE) não estavam disponíveis para consulta.

Incidência de SRAG 

As Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) permanecem em tendência de redução do número de casos no país, com uma taxa de incidência avaliada, pela média móvel, em 1,7 casos por 100 mil habitantes, o que é ligeiramente inferior aos valores observados em novembro de 2021, pouco antes do crescimento de ocorrências devido à variante Ômicron. Os registros de SRAG correspondem a casos graves de infecções por vírus respiratórios que levam à hospitalização ou óbito. Dentre esses registros, predominam os casos de Covid-19 (87,4% dos casos positivos) nas últimas quatro semanas.

Todas as faixas etárias tiveram redução das incidências nas últimas semanas, com exceção das crianças até 11 anos de idade. Os pesquisadores observam que estes casos em crianças também incluem infecções por outros vírus respiratórios e podem estar relacionados ao período de volta às aulas. No quadro geral, a taxa de incidência se mantém acima de um caso por 100 mil habitantes, o que ainda é considerada alta.
"Entretanto, como a tendência é de redução, há uma perspectiva positiva, mas exige a manutenção de esforços para que esta queda continue sustentada por mais semanas. Permanece a importância da vacinação, inclusive com doses de reforço, combinadas com outras medidas de proteção, pelas esferas de governo e pela população", orientam os pesquisadores.