Doria anuncia saída do governo de SP e mantém pré-candidatura à presidência da República
Decisão ocorre após uma reunião com tucanos no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Nesta quinta-feira, ele havia dito que iria desistir da corrida pelo Planalto
João Doria anuncia saída do governo de SP para se candidatar à presidência da República - Pablo Jacob/Divulgação SP
João Doria anuncia saída do governo de SP para se candidatar à presidência da RepúblicaPablo Jacob/Divulgação SP
São Paulo - Em discurso em tom emocionado na tarde desta quinta-feira, 31, João Doria (PSDB) anunciou a saída do governo de São Paulo e disse que irá se manter como pré-candidato à presidência da República. A decisão ocorre após uma reunião com tucanos no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
No discurso, para mais de 600 prefeitos no Palácio dos Bandeirantes, Doria argumentou que o momento é de se voltar para a criação de uma frente ampla para o trabalho coletivo, acenando para candidatos da chamada terceira via. "É hora de criar uma frente ampla para o Brasil e para os brasileiros. A melhor via é a Marina Cardoso, via da união, serenidade, bom senso, compreensão e liberdade. Nem Bolsonaro, nem Lula, tem a confiança da maioria dos brasileiros. Estamos numa disputa de rejeitados. Agora é hora do voto ser a favor do Brasil", disse ele.
"Quero estar ao lado de vocês a partir do próximo dia 2, para mostrar que é possível, sim, ter uma nova alternativa para o Brasil. Uma alternativa de paz, trabalho, dedicação, humildade e de integração de todo o Brasil. E fazer isso com determinação, longe da ideologia, distante do populismo e absolutamente condenando a corrupção e o mau-trato do dinheiro público", complementou ele.
Doria ainda elogiou seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB), que é pré-candidato ao governo de São Paulo. "Daqui para frente nosso trabalho continua em São Paulo pelas mãos experientes e competentes de Rodrigo Garcia, que a partir do próximo dia 2 será governador do estado de São Paulo", afirmou.
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Durante o seu pronunciamento, Doria destacou os projetos implementados durante a sua gestão ao longo dos três anos à frente do governo de São Paulo. Entre elas, sistemas de proteção aos mais pobres e vulneráveis e a criação de novos empregos no estado paulista. Na fala, ele fez comparativos do estado com o cenário em nível nacional.
"Implantamos sistemas de proteção aos mais pobres e vulneráveis, contratamos mães desempregadas para escolas públicas e estaduais. São Paulo cresceu cinco vezes mais do que o Brasil ao longo destes três anos, mesmo com dois anos de pandemia. Chegamos aqui e hoje temos 2,7 milhões novos empregos em São Paulo. 35% de todos os novos empregos gerados no Brasil", afirmou.
Ele também destacou o enfrentamento da pandemia do coronavírus (covid-19) no estado de SP e a urgência em adquirir vacinas para a volta da normalidade. "Trouxemos a vacina e acreditamos que este era o único movimento para trazer normalidade ao estado de SP e ao Brasil. Investimos na pesquisa e na ciência. Aliás, São Paulo investiu seis vezes mais na ciência do que o Brasil nesses últimos três anos. Acreditar na ciência é apostar na vida e acreditar no futuro", frisou ele.
Doria lembrou ainda da trajetória dos pais que, segundo ele, sofreram com a ditadura militar, no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu o período no país. "Carrego a herança de um pai e de uma mãe que sofreram com a ditadura militar, que aliás não merece ser celebrada, merece ser condenada", disse.
Nesta quinta, Bolsonaro usou a cerimônica de posse dos novos ministros para defender a ditadura militar, e os ditadores Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e Humberto Castelo Branco. Durante o discurso, o chefe do Executivo brasileiro disse que "nada" ocorreu em 31 de março de 1964, dia do golpe militar que derrubou o então presidente João Goulart e deu início ao regime de exceção.
"31 de março. O que aconteceu nesse dia? Nada. Nenhum presidente da República perdeu o mandato nesse dia", disse o presidente na cerimônia de posse de novos ministros no Palácio do Planalto. "Congresso, com quase 100% dos presentes, elegeu Castello Branco presidente à luz da Constituição", continuou ele.
No pronunciamento, o pré-candidato do PSDB à presidência também fez ataques ao governo de Bolsonaro e às gestões do PT. "Nesses três anos e três meses da nossa gestão no governo de São Paulo, nós enfrentamos grandes desafios. Enfrentamos a continuidade da crise econômica iniciada nos governos do PT, e o crescimento da fome e da pobreza no governo Bolsonaro. O Brasil enfrentou ataques à democracia, à imprensa e às liberdades individuais. Corremos em busca da ciência e das vacinas para salvar vidas que estavam sendo negligenciadas no governo negacionista de Jair Bolsonaro", disse.
Reviravolta
Mais cedo, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, encaminhou uma carta aos líderes do partido para defender o resultado das prévias e a garantia de Doria na corrida presidencial. "Venho, por meio desta, reafirmar que o candidato a presidente da República pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) é o governador do Estado de São Paulo, João Doria, escolhido democraticamente em prévias nacionais realizadas em novembro de 2021. As prévias serão respeitadas pelo partido", começou Araújo.
Segundo o presidente da sigla que se dirigiu ao presidente estadual do PSDB, Marco Vinholi, o governador tem a legenda para disputar a presidência da República. "E não há, nem haverá qualquer contestação à legitimidade da sua candidatura pelo partido. Aproveito a oportunidade para reafirmar o compromisso do PSDB com o processo democrático brasileiro", destacou ele.
Na manhã desta quinta, Doria afirmou para aliados e assessores que faria um anúncio para desistir da candidatura à presidência e permanece no cargo de governador até o fim do mandato. Dessa forma, o vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), que assumiria o posto, chegou a se reunir com aliados para definir o seu futuro político.
Segundo aliados de Doria, a chance de Doria deixar o PSDB existe. Diante da crise instaurada no partido, o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, afirmou a aliados que vai deixar a Secretaria de Governo, cargo que acumulava junto com a cadeira de vice.
Na semana passada, aliados de Doria cobraram um posicionamento do presidente do PSDB diante da pré-candidatura à presidência. Isso porque há as movimentações de Eduardo Leite, que anunciou na segunda-feira a saída do governo gaúcho e continuidade na sigla.
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