Estudantes têm queimaduras de 1° e 2° grau após trote universitário na UFPRCorreio do ar

Cerca de 20 estudantes tiveram queimaduras de 1° e 2° grau após participarem de um trote organizado por alunos de medicina veterinária na Universidade Federal do Paraná (UFPR). O caso ocorreu na quarta-feira, 30, no campus de Palotina, região oeste do estado.
Segundo a polícia civil, depois de pedirem dinheiro nas ruas, os novos alunos foram levados pelos veteranos, estudantes que já estão há mais tempo na instituição, para um terreno baldio. No local, as vítimas foram obrigadas a ajoelhar e, nesse momento, receberam
Segundo a polícia civil, os veteranos levaram os novos estudantes para um terreno baldio, há menos de 100 metros da entrada da universidade, onde jogaram creolina, desinfetante e germicida de uso veterinário, no corpo das vítimas.
"A menina abriu a lata de creolina e falou: 'abaixa a cabeça'. Eu achei que fosse o menino que ia jogar água, porque eles estavam aplicando em grupo o trote. E ela jorrou, despejou nas minhas costas. No mesmo momento que caiu, que eu vi que ela começou a jogar no meu colega, eu comecei a gritar, porque tava doendo muito, ardia muito. Eu falei: gente, tá queimando, tá queimando", contou um calouro ao G1.
O delegado Pedro Lucena, que apura o caso, suspeita que os veteranos tenham misturado outro produto à creolina. O material recolhido passará por perícia para que seja identificado o que provocou as lesões. Segundo o fabricante da creolina, o contato com o produto pode causar dor de cabeça e estômago, além de vermelhidão na pele, náusea e tremores.
Depois do trote, 21 vítimas foram levadas para o Hospital Municipal de Palotina, que afirmou que os alunos tiveram queimaduras de 1° e 2° grau. Desse grupo, 20 tiveram alta na noite de quarta-feira, e uma garota, que desmaiou após inalar o produto, precisou ficar em observação, mas foi liberada na manhã desta quinta-feira, 31.
Também na quinta, quatro estudantes de medicina veterinária, com idades entre 21 e 23 anos, foram presos em flagrante por suspeita de lesão corporal grave e constrangimento ilegal. Segundo a polícia, eles confessaram que jogaram creolina nos novos alunos, mas a participação de mais pessoas ainda não foi descartada.
O delegado à frente do caso informou que o grupo ainda pode responder por tortura e cárcere privado caso seja comprovado que os calouros foram obrigados a permanecer em algum lugar.
A Universidade Federal do Paraná abriu um procedimento interno para apurar a conduta dos estudantes e informou que o grupo pode ser expulso da instituição. As investigações devem durar 60 dias.
“Eles serão julgados, com direito a ampla defesa, e a penalidade será aplicada. Em outra frente, estamos acolhendo as vítimas e prestando apoio neste momento difícil”, informou a diretora do campus de Palotina, Yara Moretto, ao Uol.
Yara também afirmou que o caso é um ato isolado e que a universidade não tinha conhecimento do trote.
"Já faz muito tempo que banimos o trote violento. Antes, isso era muito frequente por aqui. Incentivamos uma recepção organizada e festiva. Não temos nada a ver com organização desse trote infeliz. Estamos indignados", diz a diretora.
Já o reitor da UFPR disse que o caso é ‘injustificável’.
"Apresento minha solidariedade tanto aos alunos e alunas, quanto aos seus familiares que sofreram essa violência injustificável no momento do trote. A insatisfação da universidade é imensa porque temos trabalhado continuamente nos últimos anos para que haja tolerância zero com relação a esse tipo de atitude na recepção dos nossos estudantes. Quero assegurar aos alunos e estudantes, como a toda comunidade que nós faremos uma apuração imediata e rigorosa das responsabilidades para que isso não possa se repetir."
A partir da próxima semana, as vítimas passarão por consultas com os dermatologistas da instituição.