Sergio MoroReprodução

São Paulo — Sérgio Moro, ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça, iniciou o ano de 2022 como um celebrado pré-candidato à Presidência pelo Podemos. Nos últimos meses, no entanto, trocou de partido, perdeu a posição de presidenciável em sua nova legenda — o União Brasil — e ainda sofreu derrota da Justiça Eleitoral, que o impediu de concorrer por São Paulo. Agora volta ao Paraná, seu Estado natal, por onde deve concorrer a deputado federal. Ao Estadão, Moro comenta as declarações dos ministros Luiz Fux e Gilmar Mendes sobre a Lava Jato e afirma que o Supremo Tribunal Federal perdeu "força e legitimidade" perante a opinião pública.
Por que o sr. não recorreu ao TSE para manter o domicílio eleitoral em São Paulo?
Fizemos uma avaliação de que poderíamos ser bem-sucedidos. A transferência de domicílio tinha amparo na jurisprudência e resoluções do TSE, mas correríamos o risco de ficar num limbo jurídico. Não foi negativo para mim voltar ao Paraná. É a minha terra.
Sua mulher, Rosângela, que manteve o domicílio em São Paulo e pode concorrer a deputada federal, não corre o mesmo risco?
Não, porque nós temos amparo jurídico. Foi tudo feito com acompanhamento do advogado e margem de segurança. O julgamento do TRE foi uma surpresa. A transferência do domicílio dela nem sequer foi impugnada.
Vê motivação política do TRE-SP?
Respeito o tribunal, mas discordo da decisão. Os próprios juízes falam que estavam inclinados a mudar a jurisprudência consolidada do TSE. É uma pena que tenham escolhido esse caso para proferir a decisão. Mas sou uma pessoa institucional. Não vou brigar ou atacar as instituições.
Vai usar dinheiro do fundo eleitoral na campanha?
Sim. O fundo foi criado por lei. Podemos até ter críticas, mas, se ele existe e não usarmos isso, nos deixaria em desvantagem em relação a concorrentes.
O sr. faz alguma autocrítica por seu projeto presidencial ter fracassado?
Não creio que eu tenha errado. Fiz tudo que eu podia para que a candidatura fosse bem-sucedida. Talvez eu tenha superestimado a candidatura dentro de um partido que tem seus méritos, mas com estrutura menor, que é o Podemos. Mas outros também não foram bem-sucedidos. Infelizmente essa polarização, que é uma cegueira do País, foi se acentuando. Nenhuma candidatura da terceira via conseguiu se destacar até o momento.
Como avalia a liderança de Lula nas pesquisas?
Um grande erro. Um grande risco colocar alguém que foi condenado por corrupção em três instâncias e foi beneficiado por um erro judiciário numa posição dessa e com perspectiva de poder.
O ministro Luiz Fux, sobre a Lava Jato, disse que a anulação foi formal e houve corrupção. O ministro Gilmar Mendes, por sua vez, afirmou que a ocorrência da corrupção é indiscutível, mas não se combate o crime praticando crime. Esta ideia se consolidou como saldo da operação?
Ninguém praticou nenhum crime para condenar ninguém. Nós éramos competentes para julgar aquele caso. O Supremo mudou sua jurisprudência dizendo que era da Justiça Eleitoral e anulou o caso. Culpar os procuradores e juízes que fizeram seu trabalho é um absurdo. É fazer o jogo dos que querem a impunidade dos poderosos. Existe essa mudança de discurso porque os poderosos que cometeram crimes não têm como justificá-los.
O Centrão elabora no Congresso uma PEC que prevê a derrubada de decisões não unânimes do Supremo ou quando o Legislativo entender que elas extrapolam o limite Constitucional do Poder Judiciário...
É um erro uma PEC dessa natureza. Ela foi gerada porque há um desgaste do Supremo Tribunal Federal. Historicamente falando, os melhores momentos do STF foram o mensalão e durante a Lava Jato, quando ela era apoiada pelo Supremo. Depois, com a ressalva de que há ministros que sempre defenderam o combate à corrupção, decisões começaram a ser maiorias que enfraqueceram o combate à corrupção. O STF acabou perdendo força e legitimidade frente à opinião pública. Isso favorece a apresentação de propostas dessa espécie.
No meio político há uma avaliação de que o sr. precisa de imunidade parlamentar e por isso é candidato.
Busco mandato para continuar defendendo as minhas bandeiras. Sempre fui contrário ao foro privilegiado. Não sigo esse caminho na busca de privilégios.