O relator da proposta, Marcos do Val Divulgação/Agência Senado

Brasília, 08 (AE) - Um grupo de parlamentares do Podemos pressiona o senador Marcos do Val (Podemos-ES) a deixar o partido, após ele revelar, em entrevista ao Estadão, que recebeu R$ 50 milhões em emendas do orçamento secreto como "gratidão" por ter apoiado a eleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência do Senado, no ano passado.
Em conversas reservadas, Alvaro Dias (PR) e Oriovisto Guimarães (PR) têm dito que a permanência de Do Val "ficou difícil" e que o próprio senador deve pedir seu desligamento, conforme apurou a Coluna do Estadão.
Em nota, ontem, a bancada do partido no Senado reforçou que é contra as emendas de relator. "Nós, senadores pelo Podemos, declaramos que somos contrários ao recebimento de verbas ou recursos provenientes das emendas RP-9 (orçamento secreto). Não compactuamos com essa forma de fazer política", escreveu a bancada.
Parte da sigla já havia ficado incomodada quando Do Val assumiu a relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2023 e decidiu tornar esse tipo de emenda impositiva.
No ano passado, o Podemos declarou apoio à eleição de Simone Tebet (MDB-MS) para a presidência do Senado, que ocorreu em fevereiro. Marcos do Val e o senador Romário (RJ), que mudou para o PL, apoiaram Pacheco, contrariando a decisão da bancada. Conforme o Estadão publicou na ocasião, o Planalto liberou verbas do orçamento secreto para favorecer Pacheco na eleição do Senado e Arthur Lira (Progressistas-AL) na disputa pela presidência da Câmara.
"Entendemos que as emendas individuais e de bancada são suficientes. Sempre defendemos o fim das emendas RP-9", diz a nota do Podemos.
Contrariedade
Na ocasião, integrantes do partido demonstraram contrariedade com a conduta do colega, mas não houve nenhuma decisão em relação ao parlamentar.
"Sempre fui contra o orçamento secreto, a começar que tudo que é secreto é reprovável e censurável. Em segundo lugar, o orçamento secreto foi discriminatório e correspondeu à compra de votos", disse o senador Lasier Martins (Podemos-RS) na noite de anteontem, após as declarações de Do Val ao Estadão.
Além de Pacheco e Simone, Major Olímpio (PSL-SP), que morreu em decorrência da covid-19 em março de 2021, Jorge Kajuru (Cidadania-GO) e Lasier apresentaram candidaturas - os três, no entanto, desistiram e acabaram apoiando a senadora emedebista.
A candidatura de Pacheco contou com o apoio do presidente Jair Bolsonaro e de pelo menos dez partidos: PSD, PP, PT, DEM, PDT, PROS, PL, Republicanos, Rede e PSC.
Já Simone teve o apoio declarado do seu partido e de senadores do Podemos, do Cidadania e do PSB, além de parte do PSDB e votos de parlamentares dissidentes das legendas que apoiaram o atual presidente do Senado na disputa. Na ocasião, Pacheco recebeu 57 votos e Simone, 21.