Jair Bolsonaro (PL)DHAVID NORMANDO/FUTURA PRESS

Na contramão do que pede sua equipe de campanha, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a atacar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (2), e afirmou que Alexandre de Moraes quer incriminá-lo. Moraes será empossado no próximo dia 16 presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e será o responsável pelas eleições, que têm a lisura atacada sem provas pelo chefe do Executivo.
"Inquéritos do Alexandre de Moraes são completamente ilegais, imorais. É uma perseguição implacável por parte dele, a gente sabe o lado dele", afirmou o presidente em entrevista à Rádio Guaíba, de Porto Alegre. "É maneira de jogar a rede e me incriminar em algum lugar. Moraes está fazendo tudo de errado e, no meu entender, não vai ter sucesso em seu intento final", acrescentou.
Bolsonaro citou o pedido da vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, de arquivamento de investigação contra ele por suposta violação de sigilo de inquérito da Polícia Federal. "O que Lindôra fez é dizer que esse inquérito do Moraes não tem fundamento", declarou o presidente.
Bolsonaro vazou investigação da PF em live para fazer ataques sem provas ao sistema eletrônico de votação. Nesta terça-feira, cobrou conclusão do caso. "É interferência dentro da PF? De quem? Não sei, mas não fecha esse inquérito", criticou. "Quebraram sigilo do meu ajudante de ordens, é um crime", seguiu, sobre as investigações contra o coronel Mauro Cid, também nas apurações sobre o vazamento.
Fux e Barroso
Em ataque a outro ministro do STF e ao sistema eleitoral, Bolsonaro defendeu que o presidente da Corte, Luiz Fux, deveria ser incluído no inquérito das fake news por ter defendido, na segunda-feira, dia 1º, a lisura das urnas eletrônicas durante seu discurso de abertura do semestre do Judiciário.
"Fux está no mínimo equivocado, ou é fake news. Deveria então o Fux estar respondendo no inquérito do Alexandre de Moraes das fake news, se fosse um inquérito sério", declarou o presidente na entrevista à Rádio Guaíba. "Prezado Fux, qual país desenvolvido do mundo adota nosso sistema eleitoral? Que maravilha esse sistema eleitoral que ninguém quer".
Bolsonaro também atacou o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, a quem chamou de "criminoso" por ter articulado junto a parlamentares a rejeição à proposta do voto impresso defendida pelo governo, e voltou a convocar seus apoiadores para os atos de 7 de Setembro. "Vamos pela última vez às ruas para mostrar para aqueles surdos ministros do STF que o povo tem que ser o nosso norte", declarou na entrevista.
De acordo com Bolsonaro, os atos de 7 de Setembro terão, pela primeira vez, um desfile cívico-militar em Copacabana, no Rio. "O desfile deve durar no máximo uma hora, com tropas das Forças Armadas", revelou o presidente. "Da nossa parte, ninguém vai querer protesto para fechar isso, fechar aquilo. Moralmente tem instituições se fechando. Dá para a gente ganhar essa guerra dentro das quatro linhas", acrescentou. "Uma das frases mais mostradas lá deve ser a questão da transparência, em especial a eleitoral. Vamos ter eleições, mas queremos transparência".
Os atos bolsonaristas do Dia da Independência de 2021 foram um dos pontos mais altos de enfrentamento entre Bolsonaro e as instituições brasileiras. Na Avenida Paulista, Bolsonaro declarou à época que não mais cumpriria decisões de Alexandre de Moraes. A ameaça ganhou reação do mundo político, que viu chance de crime de responsabilidade passível de impeachment. Pressionado, Bolsonaro teve de publicar uma carta à nação escrita pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) para diminuir a fervura.