Brasília - Damares Alves (Republicanos), candidata ao Senado pelo Distrito Federal, teve neste domingo (25) uma mensagem de áudio de sua autoria publicada por uma jornalista nas redes sociais. Na mensagem, enviada como parte de uma entrevista para o jornal O Tempo, a ex-ministra do governo de Jair Bolsonaro (PL) afirma que o movimento integralista defende pautas muito parecidas com as suas e não se mostra contrária ao apoio recebido por ele.
"O movimento integralista, pelo que conheço, defende Deus, pátria e a família, é a minha bandeira. Eu sou religiosa, sou cristã, sirvo a um Deus vivo e poderoso. Pátria, eu amo essa nação, você sabe disso, o que eu faço pelo meu país. Eu oro pela minha nação desde que tinha 6 anos de idade. Eu quero servir muito a minha pátria. Família, eu fui a primeira ministra da família do Brasil, eu defendo o fortalecimento de vínculos familiares, então esse movimento se identifica comigo porque as minhas pautas são muito parecidas com as deles”, disse Damares.
"As minhas pautas são muito claras, e diversos movimentos têm manifestado apoio à minha candidatura", adicionou a candidata. O movimento integralista brasileiro é altamente contestado por estudiosos devido à sua natureza, frequentemente sendo ligado ao fascismo.
"O integralismo é um braço do fascismo no Brasil", esclarece o historiador Leandro Pereira Gonçalves, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, pesquisador sobre o tema e autor do livro "Plínio Salgado: um católico integralista entre Portugal e o Brasil (1895-1975)". Plínio Salgado foi o criador e líder do movimento, surgido no Brasil na década de 1930.
"Nos últimos anos, o crescimento do fascismo e da extrema-direita foi significativo no país. Acho que o integralismo conseguiu um espaço (na imprensa e no debate público) que, até pouco tempo atrás, o próprio movimento não imaginava que teria", afirmou o professor em 2019.
Mas, afinal, como e quando surgiu o integralismo?
"O integralismo foi criado em outubro de 1932, em São Paulo, através da liderança de um escritor, jornalista e intelectual chamado Plínio Salgado. O movimento integralista tinha como propósito arregimentar a sociedade brasileira em torno de ideais nacionalistas, cristãos, com o propósito de formar e estabelecer uma grande nação", afirma Gonçalves, que explica também que o integralismo brasileiro foi influenciado por elementos vindos da intelectualidade católica do final do século XIX, do integralismo lusitano de Portugal e do fascismo italiano – movimento que "seduziu e chamou a atenção de Plínio Salgado para a formação do integralismo".
A inspiração no fascismo, contudo, é atualmente negada pelos integrantes do movimento. Em uma nota publicada em dezembro de 2019, a Frente Integralista Brasileira chama Plínio Salgado de "injustiçado" e afirma que o movimento nunca foi fascista. "Os integralistas e os neo-integralistas (como são chamados os representantes do movimento após a morte de Plínio Salgado) têm como propósito se distanciar do conceito fascista", explica o pesquisador.
"Entretanto, a presença do fascismo na proposta integralista é visivelmente presente e marcante", afirma. "A ideia do antifascismo está presente no discurso, mas a sua essência fascista é evidente", atesta Gonçalves.
O DIA tentou contato com a assessoria de Damares Alves, mas não houve resposta até a publicação desta matéria. O espaço está aberto para manifestação.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.