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A primeira etapa da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2022 foi realizada neste domingo, 13. Em mais de 1,7 mil municípios de todo o país, os candidatos tiveram que fazer uma redação e responder questões de Linguagens e Ciências Humanas. De acordo com os professores ouvidos pelo O DIA, a prova foi mediana, não fugiu do padrão e manteve suas características gerais sobre a abordagem das questões.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 2.490.880 participantes compareceram no primeiro dia da prova. O número corresponde a 73,3% dos cerca de 3,4 milhões de inscritos nas duas versões (impressa e digital). No Rio de Janeiro, mais de 177 mil candidatos participaram do exame, o que corresponde a 72,1% dos 246.062 inscritos.
O Exame trouxe questões sobre o papel da mulher na sociedade, democracia, meio ambiente e povos tradicionais, como indígenas e quilombolas, que foi o tema da redação. Foram 90 questões de múltipla escolha sobre Ciências Humanas, Linguagens, Códigos e suas Tecnologias: 45 questões de linguagens — 40 de Língua Portuguesa e cinco de Inglês ou Espanhol — 45 de ciências humanas, além da redação. 
Para o professor Roberto Lota, que analisou, especificamente, Língua Portuguesa e Literatura, a prova não fugiu do padrão sobre a abordagem das questões. "A prova de Linguagens do Enem manteve suas características gerais no que tange à abordagem das questões: muitos textos ancorando os enunciados e alternativas, multiplicidade de gêneros textuais (...) e presença de conteúdos discutidos atualmente pela sociedade, tais como os impactos da rede social e a relação entre gênero e esporte", disse.
"Em Artes e Literatura, houve, ao lado dos assuntos mais conhecidos (como Vanguardas Europeias e Machado de Assis, respectivamente), temas menos recorrentes, como o Maneirismo e o romance regionalista de José Américo de Almeida — e não os tradicionais Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz. Dentro disso, grande surpresa foi a presença de Maria Firmina dos Reis, considerada primeira romancista negra do Brasil", ponderou o professor do Pensi, da Rede Eleva Educação.
Para o professor, foi possível perceber "a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional. Assim, a presença da língua indígena na formação de epistemologias e identidades revelou-se como algo central. Assim, o Enem enfatizou aquilo que ele tem de melhor: a inserção de múltiplos autores e perspectivas, a fim de valorizar distintos saberes, mundividências, estruturas sociais, identidades e, por fim, humanidades".
Marcos Chaves, professor de geografia, conta que na prova de humanidades, as questões de Geografia "ocuparam mais de 40% da prova, isso fazendo uma divisão bem generosa, porque se geografia quisesse encapar mais questões poderia. Porque algumas questões interdisciplinares ficaram na fronteira da Geografia e da Sociologia".
Chaves considerou o nível de dificuldade das questões "mediano" e enfatizou que os candidatos poderiam resolver as questões sem muitos problemas. "Acho que vale chamar a atenção para uma retomada da Geografia Física. As questões foram bem diretas em relação a Geografia Física. Algumas com um nível de dificuldade um pouco maior, mas de um modo geral, a prova teve um nível de dificuldade mediano. Realmente, a gente tem algumas questões mais difíceis, como é o padrão, mas não tinha nada impossível de ser feito pelo aluno", pontou.
"Outra característica dessa prova, que ela trouxe assim, a Geografia como base ali das humanidades, e um fio norteador foi a questão social. Falou de moradia, de acesso a água, falou até de desigualdade, então uma prova marcada por alguns temas que tangenciam a questão social. Até mesmo o tema da redação. Então isso tangencia a geografia e a sociologia", disse o professor.
Após o término do Exame, Chaves recebeu mensagens e ligações de seus alunos, que comentaram sobre as questões e pediram a opinião do professor: "Alguns alunos acharam a prova boa, tranquila. Alguns temas a gente realmente trabalhou em sala, então para eles foi bem tranquilo. Foi uma prova bem conceitual, então tinha que saber alguns conceitos, mas de um modo geral, tá todo mundo ainda muito nervoso com a prova. Mas a galera acha que conseguiu fazer uma boa prova".
Na Redação, os candidatos tiveram de falar sobre os "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais do Brasil", como indígenas e quilombolas. Entre os textos de inspiração para os candidatos, havia uma Carta da Amazônia, levada por movimentos sociais à Cúpula do Clima de 2021. O manifesto fala sobre reconhecimento de territórios protegidos, ameaça de direitos indígenas e respeito a saberes tradicionais.
O Vítor Campos, professor e coordenador de Redação do colégio Elite, explica que assim como nos últimos anos, a banca organizadora da prova (FGV) apresentou como discussão central direitos básicos associados a um determinado grupo da sociedade brasileira. "Uma temática mais que importante, necessária! Embora os termos 'comunidades' e 'povos' sejam bastante abrangentes e, para alguns participantes, pouco esclarecedores, os textos de apoio se encarregaram de descrever algumas populações que se encaixam nesse grupo, como indígenas, quilombolas, pescadores artesanais, quebradeiras de coco babaçu, entre outros.", disse.
"Os textos também se encarregaram de apontar, em formato de dados estatísticos, a concentração de famílias de povos tradicionais distribuídas por estados no Brasil. Além disso, destacaram os direitos dessas comunidades e povos, sobretudo no que diz respeito à preservação das regiões em que se encontram, enfatizando a importância de valorizar a sociobiodiversidade amazônica", explicou.
O professor ainda destaca como os candidatos poderiam ter desenvolvido o texto: "Aos participantes, caberia relacionar o assunto 'comunidades e povos tradicionais no Brasil' aos 'desafios' na sua 'valorização', o que já deixa claro que a argumentação deveria considerar o desrespeito a que são submetidos esse grupo social. É inegável que criar uma relação única entre as comunidades e os povos em questão frente aos desafios em valorizá-los provaria a compreensão total do tema".
"A respeito dos argumentos com os quais poderiam ser trabalhados nos parágrafos de desenvolvimento da redação, os participantes poderiam abordar a negligência governamental e a pouca mobilização ou a alienação da sociedade civil. Apesar de serem argumentos recorrentes em redações nota 1000 de anos anteriores, é importante ressaltar que os critérios de correção da Prova de Redação do Enem não contemplam, explicitamente, originalidade e criatividade, o que não invalida ou diminui a qualidade desses argumentos", pontua.
No próximo domingo, 20, os participantes fazem as provas de matemática e ciências da natureza. O exame seleciona estudantes para vagas do ensino superior públicas, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), de obtenção de bolsas por meio do Programa Universidade para Todos (Prouni) e de participação no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Os resultados também podem ser usados para ingressar em instituições de ensino portuguesas que têm convênio com o Inep.
O gabarito oficial da prova será divulgado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão responsável pelo Enem, até o dia 23 de novembro. Enquanto isso, os cursinhos fazem seus próprios gabaritos, debatidos pelos professores.