Estátua de Stella de Oxóssi é incendiada em SalvadorReprodução/Redes Sociais

A estátua da ialorixá Mãe Stella de Oxóssi foi incendiada durante a madrugada deste domingo, 4, em Salvador. A obra foi vítima de um ato de vandalismo, informou a prefeitura local através das redes sociais. Na publicação, a administração municipal escreveu: "Impossível não ficar indignado com o incêndio criminoso na estátua de Mãe Stella de Oxóssi, ocorrido nesta madrugada."
O texto afirma ainda que o caso já está sendo apurado "para que os responsáveis sejam identificados e punidos". "Salvador é uma cidade do respeito e do sincretismo religioso onde não deve existir espaço para intolerância religiosa", completou.
Nos comentários, internautas demonstraram revolta. "Um crime duplo se pensarmos na intolerância religiosa e no dano a uma obra do inesquecível Tatti Moreno. Estou indignada", disse um. "A impunidade para a intolerância religiosa está enorme e sem controle! Inadmissível aceitarmos dessa maneira", comentou outro. "Que absurdo! Isso é muito mais do que vandalismo. É um crime muito maior, que é o mal do mundo: preconceito, falta de respeito para com o outro, seja nas suas crenças, cultura, raça... Tem que ser punido firmemente. A Bahia é o berço das religiões, onde conseguimos juntar em um só ambiente todas as crenças, como prova a Festa do Sr. Do Bonfim... Não devemos permitir... Como bem disse a postagem, não deve existir espaço para intolerância. Nem religiosa, nem nenhuma outra", declarou mais uma pessoa.
O prefeito da cidade, Bruno Reis, também se manifestou, no Twitter. "Lamentável o incêndio criminoso na estátua de Mãe Stella de Oxóssi, ocorrido nesta madrugada. Não é a primeira vez que esse símbolo passa por uma situação de vandalismo atrelado à intolerância religiosa", escreveu. "Estamos apurando o caso para que os responsáveis sejam identificados e punidos. Já estamos registrando o boletim de ocorrência e determinamos a remoção da estátua para que seja recuperada", completou.
Em nota, a Prefeitura de Salvador informou que o registro foi feito através da Fundação Gregório de Mattos (FGM) na 12ª Delegacia, em Itapuã, e disse que acompanhará "as investigações do caso pelas autoridades policiais". Além disso, o texto também disse que a Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal) fará a retirada da peça danificada para recuperação.

A administração municipal lamentou "profundamente mais este atentado contra o patrimônio público, em uma das últimas peças produzidas pelo artista plástico Tatti Moreno (1944-2022) para a cidade". "O conjunto escultórico Mãe Stella e Oxóssi foi entregue em abril de 2019 e faz parte da avenida que leva o nome da famosa ialorixá que liderou, durante anos, o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá", afirmou o texto.

De acordo com a Polícia Civil, equipes tentarão identificar testemunhas que possam passar mais informações sobre a ação para que seja feita a identificação do autor.
A Polícia Militar chegou a ser acionada na manhã de domingo, no entanto, os órgãos de proteção ao patrimônio histórico já estavam no local adotando as medidas cabíveis.
Repercussão na internet
Nas redes sociais, diversas personalidades se manifestaram, lamentando o ocorrido. O governador eleito da Bahia, Jerônimo Rodrigues, disse que "Mãe Stella sempre foi uma pregadora da paz e do respeito. É com essa orientação que devemos agir. Que o episódio seja apurado com rigor e, caso seja confirmado um ato criminoso, os responsáveis sejam punidos".
A cantora e dançarina Daniela Mercury, natural da Bahia e candomblecista, escreveu: "A intolerância contra as religiões de matriz africana é inadmissível numa sociedade democrática. A escultura de Mãe Stella de Oxóssi, feita por Tatti Moreno, que atearam fogo esta manhã em Salvador vira agora, para nós, povo de candomblé, símbolo de resistência".
Erika Hilton, deputada federal eleita pelo PSOL, em São Paulo, e presidente da Comissão de Direitos Humanos, também se posicionou. "Minha solidariedade aos povos de terreiro de Salvador e também de todo o Brasil. O incêndio criminoso na escultura da Mãe Stella de Oxóssi é mais uma manifestação da intolerância, perseguição e racismo religioso que se instauraram no Brasil. Ainda temos muita luta pela frente", disse.
Renata Souza, líder do PSOL na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), publicou: "Absurdo o incêndio criminoso contra a escultura de Mãe Stella de Oxóssi, em Salvador. Mais um caso de racismo religioso e ataque aos símbolos das religiões de matrizes africanas. Que haja um rígida investigação e os autores desta covardia sejam responsabilizados!"
A influenciadora e ativista Tati Nefertari questionou as medidas que serão tomadas após o episódio, e comparou com o incêndio em 2021 à estátua de Borba Gato, bandeirante responsável pela morte, caça e escravização de milhares de indígenas. "A estátua de Mãe Stella de Oxóssi foi incendiada e já havia sofrido outros ataques antes. Será que vai ter a mesma comoção que teve o incêndio da estátua do genocida Borba Gato? Vão lá prender e condenar quem incendiou, como fizeram com o Galo?", escreveu.
A comparação do incêndio à Stella com o a Borba foi pauta no Twitter. "Sério, teve gente preta sendo processada por Tweet sugerindo estátua de colonizador pra ser derrubada, vamos ver o que vai rolar aqui", comentou um. "Estátua do Borba Gato: hot takes, comoção geral, grande imprensa fazendo uma semana de análises, gente presa, etc. Estátua da Mãe Stella de Oxóssi sofrendo ataques repetidos: nem um a. Porque será né", disse outra. "Teve gente preta sendo processada por só COGITAR derrubar uma estátua de escravizador em SP. Incendiaram a estátua da Mãe Stella de Oxóssi e com certeza não vai dar em nada", escreveu mais um.
Quem foi ela
Mãe Stella de Oxóssi, foi uma famosa ialorixá (mãe de santo) que liderou o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, de candomblé, fundado em 1910,no bairro do Cabula, em Salvador.
Mãe Stella morreu em 2018 - Reprodução/Internet
Mãe Stella morreu em 2018Reprodução/Internet
Maria Stella de Azevedo Santos morreu aos 93 anos, em dezembro de 2018, cinco meses antes da inauguração da estátua, que foi entregue em abril de 2019.
No mesmo ano, a obra foi alvo de vandalismo pela primeira vez. A arte foi pichada e teve uma placa arrancada.