Investigações da Operação Sequaz da Polícia Federal (PF) apontaram que integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa acusada de planejar sequestro e morte de autoridades, tinha acesso ao "Detecta", sistema de monitoramento de câmeras do governo de São Paulo lançado em 2014.
A descoberta ocorreu após a Justiça retirar o sigilo da investigação realizada pela PF sobre o plano de matar o senador Sérgio Moro. Nas mensagens obtidas pelos policiais, um suspeito pede a um “parceiro” informações sobre a localização de um veículo do qual ele tem interesse.
O sistema Detecta realiza automaticamente o reconhecimento de um veículo utilizando as câmeras de monitoramento.
Logo depois, o suspeito envia outra mensagem pedindo o percurso realizado por um veículo nos últimos dias: “Parceiro, precisava saber aonde esse carro andou (de) sábado até hoje. Consegue dar uma força pra mim pra vê no detecta lá”.
Em resposta, o outro homem envia uma imagem ao suspeito com todas as informações do veículo que aparece como propriedade da Polícia Civil, se tratando de uma viatura policial descaracterizada.
“Temos indicativo claro de que os investigados têm acesso a dados que deveriam ser sigilosos, o que permite a eles agir com desenvoltura na prática de crimes, pois conseguem identificar veículos das forças de segurança”, afirmou o delegado da PF Martin Bottaro.
Operação
A Polícia Federal deflagrou na manhã da última quarta-feira, 22, a Operação Sequaz que investiga um grupo suspeito de planejar matar e sequestrar autoridades, segundo o ministro da Justiça, Flávio Dino. Após a divulgação da ação policial, o senador Sergio Moro (União Brasil) afirmou, por meio de sua assessoria, que era um dos alvos dos criminosos.
"Sobre os planos de retaliação contra minha pessoa, minha família e outros agentes públicos, farei um pronunciamento à tarde na tribuna do senado. Por ora, agradeço a PF, PM/PR, Polícias legislativas do Senado e da Câmara, PM/SP, MPE/SP, e aos seus dirigentes pelo apoio e trabalho realizado", escreveu Moro.
Nove pessoas foram presas na operação:
- Janeferson Aparecido Mariano;
- Patrick Uelinton Salomão;
- Valter Lima Nascimento;
- Reginaldo Oliveira de Sousa;
- Sidney Rodrigo Aparecido Piovesan;
- Claudinei Gomes Carias;
- Herick da Silva Soares;
- Franklin da Silva Correa.
Segundo a PF, são cumpridos 24 mandados de busca e apreensão e 11 de prisão em São Paulo, Paraná, Rondônia e Mato Grosso do Sul. Seis pessoas foram presas em Campinas, no interior paulista.
Os criminosos pretendiam realizar ataques contra servidores públicos e autoridades, incluindo homicídios e extorsão mediante sequestro, em pelo menos cinco unidades da federação.
De acordo com a corporação, os "ataques poderiam ocorrer de forma simultânea, e os principais investigados se encontravam nos estados de São Paulo e Paraná".
Os atentados eram planejados desde o ano passado, e os planos partiam de uma retaliação de integrantes de uma facção criminosa por causa de uma portaria do governo que proibia visitas íntimas em presídios federais. A restrição passou a valer a partir de 2021.
A facção atua dentro e fora dos presídios brasileiros e internacionalmente. Quando era ministro de Segurança Pública, Moro determinou a transferência do chefe da facção, Marcola, e de outros integrantes para presídios de segurança máxima. Na época, o senador defendia o isolamento de organizações criminosas como forma de enfraquecê-las.
Os criminosos alugaram chácaras, casas e até um escritório ao lado de endereços de Moro. A família do senador também teria sido monitorada por meses pela facção, apontam os investigadores.
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