Currículo direcionado e escuta de alunos são saídas para o ensino médio, afirmam especialistasDivulgação/Prefeitura de Saquarema
A reforma pressupõe currículo flexível, que proponha escolhas para o jovem, e não modelo único. É assim em países referência, mas o formato criado no Brasil, com itinerários formativos muito amplos, levou a opções sem função pedagógica ou dadas por professores sem preparo.
Carga Horária
A reforma prevê elevar a carga horária total, das antigas 2,4 mil para 3 mil horas (nos três anos), o que especialistas elogiam. A questão é que no máximo 1,8 mil dessas horas são para formação básica - disciplinas tradicionais como Português, Matemática e Biologia.
O Todos pela Educação defende que essa divisão seja feita por porcentual e não por número de horas, e que a maioria do tempo seja na formação básica.
Há escolas que têm quase toda a formação básica no 1º ano. Depois, no 2º e 3º ano, diminui-se sensivelmente essa parte, ficando só com Português e Matemática, além dos itinerários.
O Todos ainda defende aulas em tempo integral. Com 7 horas diárias, Nogueira Filho acredita que a distribuição da carga horária permitiria que disciplinas básicas não fossem cortadas. "No paralelo com países desenvolvidos, o tempo integral é a regra", afirma.
Percursos
Os itinerários formativos estão entre as polêmicas do novo ensino médio. A lei prevê que eles sejam divididos em Ciências da Natureza, Humanas, Linguagens Matemáticas e Formação Técnica e Profissional. Nesses grandes grupos, os Estados deveriam criar opções que aprofundassem as disciplinas, levando em conta eixos como investigação científica, processo criativo e empreendedorismo.
Mas a ideia muito ampla de itinerários, para especialistas, abriu espaço para opções rasas e sem proposta pedagógica. "Professores assumiram itinerários sem formação para isso. Interdisciplinaridade é ótima, mas precisa de conhecimentos básicos", diz Anna Helena Altenfelder, do Cenpec, entidade que busca aprimorar a qualidade da educação púbica. Ela e outros pedem que o MEC "dê direção" para os itinerários, reduzindo o leque de opções.
Já Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP, que é a favor da revogação, acredita que os itinerários devem ser substituídos por áreas nas quais o aluno pode circular. "Teríamos formação geral básica mais extensa, até o fim do 2º ano. No 3º , haveria o ingresso em áreas nas quais o aluno poderia optar por matérias realmente eletivas de aprofundamento, pautadas nas disciplinas clássicas", afirma. Esse modelo, afirma Cara, ajudaria no desempenho dos alunos nos vestibulares, "além de garantir formação mais sólida".
Formação Docente
A dificuldade em preparar professores para a ampla gama de itinerários formativos é consenso ente os especialistas.
No período de implementação da reforma, ainda durante a gestão Jair Bolsonaro (PL), houve pouca ajuda federal para que os Estados fizessem essa adaptação. Especialistas defendem que o MEC assuma esse papel, após uma reavaliação do perfil dos itinerários.
Diálogo
Alunos e professores reclamam que não foram ouvidos na implementação, principalmente porque ela ocorreu na pandemia. "Se queremos pensar em mudar o ensino médio, precisamos discutir com as comunidades escolares", diz Maria Luiza, da Anped.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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