Preta Gil anuncia fim da rádio terapiaFoto reprodução internet

Rio - A batalha de Preta Gil contra o câncer no intestino tem feito muita gente olhar com mais atenção para este tipo da doença. Para alertar sobre os riscos e detalhar sobre os sintomas, O DIA ouviu a opinião de especialistas, que também destacam sobre a importância da prevenção.
O tumor no intestino possui diversos sintomas, como sangramento, presença de muco e alteração do formato das fezes; mudança do hábito intestinal, sendo prisão de ventre ou diarreia; dor abdominal e emagrecimento repentino. A avaliação médica, diante do surgimento de qualquer um destes sinais, é importante, já que, quando diagnosticado precocemente, as chances de cura aumentam em 90%.
Chefe da oncologia clínica do Instituto Nacional de Câncer José Alencar (INCA), Alexandre Palladino ressalta a importância do diagnóstico precoce. "Quando o câncer de intestino é descoberto no estágio um, as chances de cura giram em torno de 90%. No estágio dois, a porcentagem cai para 70%. No terceiro, 50%. E no quarto, e último, cerca de 10 a 20% dos pacientes são curados. Pode-se dizer que, de maneira geral, 60 a 70% dos pacientes ficam livres da doença."
A maioria dos cânceres de intestino estão relacionados com idade, fatores esporádicos e, principalmente, hábitos alimentares. "É importante evitar o alto consumo de carne vermelha, enlatados, embutidos e ultraprocessados, além do consumo abusivo de álcool e tabagismo. A obesidade, o sedentarismo, baixo consumo de frutas, verduras e legumes também são fatores de risco. Cuidar dos hábitos de vida é fundamental para a prevenção deste tipo de tumor”, alerta Virgílio Souza e Silva, oncologista clínico e coordenador da comissão de tratamento multimodal da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).
Embora o fator hereditário não esteja presente na maioria dos diagnósticos de câncer no intestino, cerca de 10% a 15% dos pacientes têm caso na família. Portanto, é recomendado que pessoas que possuem familiares com este tipo de tumor conversem com seus médicos para fazer um rastreamento da doença e ter o diagnóstico precoce.
"Para população em geral, nós recomendamos a colonoscopia para pacientes acima de 45 anos, mesmo que não tenha sintomas. O exame permite a visualização de todo o intestino e avalia a presença de lesões que podem se desenvolver para um câncer. Para os pacientes que possuem um histórico familiar, este exame pode ser indicado mais cedo", recomenda Virgílio.
O médico oncologista gastrointestinal e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Alexandre Jácome, alerta sobre a efetividade dos exames: "A colonoscopia previne o câncer no intestino, porque nós detectamos pólipos, uma das formas mais iniciais da doença, prematuramente. Assim como se previne o câncer do colo do útero com o exame papanicolau, feito por ginecologistas, nós prevenimos tumores no intestino com a colonoscopia."
Na última terça-feira, Preta, 48 anos, diagnosticada com um câncer na porção final do intestino, publicou um trecho de sua participação no programa "Mais Você", no Twitter. No vídeo, a artista relembrou os sintomas que teve antes do diagnóstico.  
Ainda na entrevista, Preta revelou que, na correria da rotina, ignorou os sintomas que surgiram aos poucos. "A gente prioriza muito diversas coisas, o trabalho, por exemplo, na frente da nossa saúde. Eu passei seis meses com uma prisão de ventre absurda, ficava sem ir ao banheiro por dez dias. Depois eu tive picos de pressão e uma dor de cabeça absurda, chegaram a me indicar um neurologista. Um dia, depois de ir ao banheiro, senti escorrer um líquido das minhas pernas e quando olhei, era sangue. Mas não era pouco sangue, era muito sangue. A partir daí, eu já fui levada para o hospital, fizeram uma tomografia e já encontraram o tumor... Ele tem seis centímetros", relembrou.
Quadro de septicemia
Preta Gil também recordou o drama que enfrentou no hospital. "Tive uma septicemia. No meu caso os órgãos que mais sofreram foram os pulmões, pois tive uma pneumonia grave, fígado e pâncreas."
O médico Virgílio Souza explica que a septicemia é uma infecção generalizada e se trata de uma resposta exagerada do próprio organismo contra uma infecção. "Isto gera uma série de consequências e pode causar falência de múltiplos órgãos. É importante ficar atento aos sinais de infecções que podem evoluir para um quadro mais grave."
O oncologista Alexandre Jácome define a sepse como uma síndrome resultante de vários problemas isolados: "É um ponto de convergência de diversas condições patológicas."
De maneira geral, os sintomas que devem servir de alerta, principalmente para os pacientes oncológicos, são: febre, queda da pressão arterial, aumento da frequência cardíaca, vermelhidão na área do cateter, dificuldade para respirar, confusão mental, ardência ao urinar, tosse persistente, entre outros. 
Vale ressaltar que a septicemia pode afetar qualquer pessoa. No caso de pessoas com câncer, como elas costumam ter a imunidade mais afetada, a condição se torna mais perigosa e os riscos de morte são mais elevados. "A infecção deve ser tratada no início, para evitar que a cascata inflamatória evolua para uma sepse", diz Virgílio Souza.
O médico Alexandre Palladino alerta, também, para os cuidados excessivos. "Isto [a septicemia] não é o mais frequente. Às vezes, vejo as pessoas muito preocupadas, com medo de contato social, mas não é assim. O paciente com câncer que trata com quimioterapia não precisa ficar isolado temendo uma infecção, desde que haja acompanhamento médico e cuidados com o cateter. O isolamento pode acabar adoecendo ainda mais", analisa.
Durante a conversa com Ana Maria, Preta revelou que a bactéria entrou pelo cateter utilizado na quimioterapia. Ela contou que, durante o quinto ciclo do tratamento, não se sentiu bem e foi hospitalizada: "Fiquei doze dias numa cama, sem poder levantar, tomando banho e lavando cabelo no leito", disse a cantora.
Segundo os oncologistas, embora as taxas de infecção pelo cateter sejam baixas, ele é uma quebra de barreira e se torna uma porta de entrada para possíveis bactérias. Portanto, é importante que os cuidados sejam mantidos, tanto durante a implantação, em centros oncológicos especializados, quanto na manutenção.
"Alguns tratamentos de quimioterapia só podem ser feitos se o paciente estiver com o cateter, se tornando um dispositivo indispensável. Como toda intervenção médica, é uma relação entre riscos e benefícios. Há riscos de complicações com o cateter, mas os benefícios são superiores", afirma Jácome.
A sepse, quando diagnosticada, precisa de um tratamento imediato para que não evolua e chegue a causar uma falência múltipla dos órgãos. De acordo com os médicos, o tratamento é feito no hospital, geralmente em UTI, e são usados, principalmente, antibióticos para bloquear a cascata inflamatória causada pela infecção.
Embora a condição tenha afetado Preta Gil, o câncer que a cantora possui não é o mais suscetível a um quadro de septicemia. Geralmente, os tumores hematológicos são mais propensos a esta complicação.