Zambelli é acusada de pedir para forjar falso mandado de prisão contra Alexandre de MoraesMyke Sena/Câmara dos Deputados

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) voltou à mira do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados após PSB e PSOL entrarem com representação contra a parlamentar por pagar um hacker para invadir os sistemas do judiciário. No pedido, os partidos pedem a cassação de mandato da parlamentar, com base nas denúncias feitas por Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da ‘Vaza Jato’.

Zambelli é acusada de ter pedido a Delgatti Neto para invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça para incluir um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Para os partidos, há “indícios do uso do dinheiro público para financiar atividades ilegais e golpistas”.

“É absolutamente inconteste que as condutas perpetradas pela representada se deram no contexto de fomento aos crimes contra o Estado Democrático de Direito. Para além do golpismo, há o uso da cota parlamentar de forma indevida”, afirma o pedido.

As legendas ainda lembram da denúncia feita por Delgatti em que Zambelli e Bolsonaro pediram para que tentasse invadir as urnas eletrônicas. À Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, o hacker afirmou que ainda foi solicitado uma tentativa de grampo no telefone de Moraes.

Em um dos pedidos, o PSB afirma que as ações da deputada mostram que o objetivo era colocar em xeque a legitimidade das urnas e da democracia.

“Aproveitou-se da posição de deputada federal e serviu-se das estruturas da Câmara dos Deputados, especialmente recursos orçamentários, para financiar atividades ilícitas visando a incutir no povo, titular da soberania popular, dúvidas sobre a legitimidade da representação parlamentar e, consequentemente, da própria democracia”, afirma o partido.

Zambelli já tinha sido alvo do Conselho de Ética nas últimas semanas por ofender o deputado Duarte Júnior (PSB-MA) em uma oitiva do ministro Flávio Dino na Comissão de Segurança Pública na Câmara. Ela chegou a ser ameaçada a perder o mandato, mas entrou em acordo com os parlamentares e teve o processo arquivado.
Depoimento de Delgatti
Em seu depoimento à CPMI dos atos antidemocráticos, Walter Delgatti Neto apontou envolvimento direto do ex-presidente Jair Bolsonaro, da deputada Carla Zambelli e outros aliados do Palácio do Planalto em uma conspiração para levar à cabo um golpe de Estado.

Delgatti afirmou à CPMI que se encontrou com Carla Zambelli e Bolsonaro, numa reunião na qual o então presidente da República pediu ao hacker que assumisse a autoria de um grampo ilegal que teria sido feito contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

O encontro teria sido aceito, segundo Delgatti, mediante uma promessa de emprego que Zambelli lhe teria feito.

“Apareceu a oportunidade da deputada Carla Zambelli de um encontro com o Bolsonaro. Ele queria que eu autenticasse a lisura das eleições e, por ser o presidente da República, eu fui ao encontro. Eu estava desamparado, sem emprego, e ofereceram um emprego a mim. Por isso que fui até eles”, declarou Delgatti.
Ele afirmou ainda que a deputada Carla Zambelli lhe pediu para invadir sites de órgãos do Poder Judiciário, com o objetivo de criar uma imagem de fragilidade do sistema das urnas eletrônicas, por meio da criação de um código-fonte falso.

O código falso, sugerido por interlocutores do PL, serviria para criar fake news e insuflar a revolta popular por meio de vídeos falsos em que as urnas supostamente mostrariam pessoas tentando votar em Bolsonaro, enquanto o voto seria registrado para Lula.

Tudo isso teria ocorrido após Bolsonaro perguntar a Walter Delgatti se seria possível invadir, de fato, o sistema eleitoral, e receber “não” como resposta. Além de Bolsonaro e Carla Zambelli, o hacker também apontou a presença do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, no encontro.