Marcelinho Carioca detalha pânico durante sequestro e se emocionaReprodução/TV Globo

O ex-jogador de futebol Marcelinho Carioca detalhou os momentos de pânico vividos por ele e uma amiga durante um sequestro em São Paulo, no dia 17. Em entrevista para o programa 'Fantástico', da TV Globo, neste domingo, 24, ele relata que passou 36h preso dentro de um quarto recebendo ameaças de criminosos. 
O atleta aposentado, de 51 anos, ficou em cárcere privado desde a madrugada de domingo, 17, até a tarde da segunda-feira, 18. Ele disse que foi abordado por uma quadrilha quando chegava à casa de uma amiga, em Itaquaquecetuba (SP).
Marcelinho estava no show do cantor Thiaguinho, no estádio do Corinthians, em Itaquera, na Zona Leste. Na volta para casa, ele faria uma parada em Itaquaquecetuba, para deixar ingressos com uma amiga, Taís Alcântara, que iria ao mesmo show no dia seguinte, pois ele não poderia comparecer. Os dois trabalharam juntos na Secretaria dos Esportes de Itaquaquecetuba, onde o ex-jogador foi secretário. 
Já era madrugada, e o carro do ex-jogador, que é importado, chamou a atenção. Ele e a mulher foram rendidos pelos sequestradores, obrigados a entrar num carro e tiveram seus rostos cobertos com um capuz. "Passaram quatro pessoas, cinco pessoas. Quando voltei para ver, fui encapuzado, e o cara já veio apontando (a arma). E eu, desesperado", conta Marcelinho. "Eu disse: 'Não, por favor, eu sou o Marcelinho Carioca'."
Taís estava no banco de trás do carro neste momento, quando ele recebeu uma coronhada. Segundo ele, os criminosos estavam muito nervosos. A quadrilha pediu cartões bancários e senhas, e exigiu o desbloqueio do celular para ter acesso aos aplicativos de banco e fazer transferências via PIX. Foi neste momento que Marcelinho e a amiga foram levados para o cativeiro.
"A todo momento aquele apavoro", relata Marcelinho, lembrando as ameaças dos sequestradores: "'A gente quer dinheiro. Impossível não ter dinheiro nessa conta. Jogador tem grana'".
Ele ainda relatou durante a entrevista ao Fantástico que sofreu ameaças, foi questionado se já tinha "brincado de roleta-russa": "Aí colocaram uma arma por baixo da toalha". "Ninguém se falava. Não trocava ideia, com medo", relata Marcelinho. Os criminosos fizeram alguns saques das contas de Marcelinho, segundo ele.
Resgate
Assim como o carro de Marcelinho Carioca chamou a atenção dos criminosos, foi através dele que a polícia conseguiu iniciar as buscas. O veículo foi encontrado por volta das 9h da manhã de segunda-feira, 18, pelo cabo Charles, da Polícia Militar.
Ele fez contato com um número de telefone que constava na documentação, do advogado de Marcelinho, Eduardo Pinheiro Rodriguez. Na entrevista, o advogado relatou que tentou se comunicar com Marcelinho, sem sucesso. Logo, ele recebeu uma mensagem suspeita. "O Marcelo sempre me trata como 'doutor', e ele falou: 'Irmão, estou em uma reunião'. Ali eu já tinha desconfiado 100% que não era ele", disse em entrevista.
No momento do resgate, Marcelinho Carioca disse que escutou o helicóptero da polícia, e que ouviu a reação dos criminosos. "Aí alguém já chegou e falou: 'A casa caiu'. Veio um policial sozinho. Ele chegou no portão e falou: 'Eu vou entrar. Abre'". Eu não sabia o que estava vindo. O que ia vir. Eu falei: vão atirar na gente, vão matar a gente. Eu abaixei a cabeça: Senhor, não deixa, não deixa", relatou.
"Ele (o cabo Ribeiro, da PM) falou: 'Vem. Vem que você está livre'", continuou Marcelinho. "Eu abracei ele como meu pai, meu irmão, meu amigo. Porque ele arriscou a vida dele", diz, emocionado.

Taís confirmou os momentos de terror vividos ao lado de Marcelinho. "Quando o policial chegou, eu estava em choque de ver que aquilo estava realmente acontecendo, porque não são todos que conseguem sair vivos de uma situação dessa", disse ao Fantástico.

De acordo com a polícia, Thauanatta dos Santos tomava conta das vítimas no cativeiro. Eliane de Amorim, Wadson Fernandes Santos e Jones Ferreira teriam usado contas bancárias para receber o dinheiro da extorsão. Os quatro estão presos, e a polícia ainda busca outros seis integrantes da quadrilha. O grupo é investigado por sequestro, associação criminosa e receptação.
Revelado no Flamengo, Marcelinho fez história no Corinthians

Marcelinho foi revelado pelo Flamengo e alçado ao time principal pelo técnico Telê Santana quando tinha apenas 16 anos. A estreia como profissional aconteceu em 1988, substituindo o ídolo Zico em um clássico com o Fluminense. Marcelinho fez parte de conquistas importantes no Flamengo, como a Copa do Brasil (1990), Carioca (1991) e Campeonato Brasileiro (1992).

O jogador foi negociado com o Corinthians em 1993, quando passou a ser chamado de Marcelinho Carioca. Apesar de ter ido contra a transferência, o jogador teve identificação imediata com a torcida e viveu o seu auge com a camisa alvinegra.

Marcado pela destreza na bola parada, especialmente nas cobranças de falta, ele empilhou títulos pelo time do Parque São Jorge: Paulistão (1995, 1997, 1999 e 2001), Campeonato Brasileiro (1998 e 1999), Copa do Brasil (2000) e Mundial de Clubes da Fifa (2000).

Marcelinho também acumulou passagens por Vasco, Santos e Valencia antes de se aposentar. Após pendurar as chuteiras, ele se formou em Jornalismo e trabalhou como comentarista. Posteriormente, ingressou na carreira política e até janeiro ocupou o cargo de secretário municipal de esporte e lazer de Itaquaquecetuba.