Jadson e Rosita foram se afenturar pelo Brasil na juventudade, em 1993, e até hoje estão juntosReprodução

Na última quinta-feira, 4, a história de um homem arrependido por roubar um cobertor de hotel e devolvê-lo 30 anos depois viralizou na internet. Segundo o próprio estabelecimento, chamado Hotel Fraiburgo e localizado em Santa Catarina, ele entrou, deixou o objeto junto de uma carta e foi embora. No papel estava um pedido de desculpas e uma explicação para o furto: viver o sonho de casal de viajar pelo país de carro.

Ao O DIA, Jadson Martins, de 50 anos, explicou o contexto por trás de toda a história. Na época, ele e a então namorada e atual esposa, Rosita Boege Martins, de 47 anos, estavam juntos há apenas um ano quando resolveram pegar o carro da mãe dele e seguir juntos pelo país em busca de aventura.


“Minha mãe só descobriu quando voltei, depois de 15 dias. Não contamos a ninguém, tínhamos medo de ligar. Minha mãe ia achar ruim, meus irmãos, a mãe dela também. Assim não poderíamos nos divertir e aproveitar nossa aventura. Na época, minha mãe, meus irmãos, mandaram polícia, tudo, muita confusão que a gente causou, mas ficaram bastante felizes e aliviados quando retornamos”, pontua.
Jadson e Rosita em nova viagem durante 2004 - Reprodução/Arquivo Pessoal
Jadson e Rosita em nova viagem durante 2004Reprodução/Arquivo Pessoal
Viagem pelo Brasil
Jadson explica que o dinheiro para a viagem estava guardado há três meses. Na época, em junho de 1993, ele trabalhava para a Drogaria Catarinense e estagiava como tecnomecânico na Fundição Tupi. Mas, aos 20 anos, largou tudo, pegou os pagamentos e convidou Rosita, de apenas 17 anos, para a tão sonhada viagem. De Joinville passaram por 8 cidades: Urussanga (SC), Penha (SC), Fraiburgo (SC), São Carlos (SP), Brasília, Belo Horizonte, São Paulo e Curitiba.
No entanto, Jadson afirma que sempre manteve essa história no sigilo, deixando apenas alguns poucos amigos e a família a par do ocorrido. Tanto que não há muitos registros da viagem, apenas lembranças e dois cartões postais de Brasília, comprados durante a passagem do casal por lá. Um da Catedral de Brasília e outro da Esplanada dos Ministérios.


“Daí essa história eu sempre fiquei muito quieto, não espalhei pra ninguém. Contei pra mãe, claro e meus irmãos. Ficaram sabendo, mas eu não ficava contando por aí essa história”, explica. Ele também lembra que o custo de uma máquina fotográfica era muito alto na época, algo que dificultou ainda mais qualquer tentativa de catalogar o passeio Brasil afora.

Na viagem, eles chegaram a visitar alguns pontos turísticos importantes de Santa Catarina, como a Festa do Vinho e o Beto Carreiro. Interessado em conhecer os pomares de maçã de Fraiburgo, Jadson convenceu a namorada a ir até a cidade. O principal problema eram os preços das hospedagens. Ele conta então que entrou em contato com um conhecido e recebeu a indicação do Hotel Fraiburgo.
“Preço muito acessível. Nos atenderam muito bem e tudo era muito aconchegante. De lá, nós decidimos que iríamos seguir viagem para Brasília. Como não saímos preparados de casa, precisávamos dormir no carro. Nós já tínhamos um acolchoadinho, um cobertor mais grosso, mas precisávamos de outro para se cobrir. E esse cobertor seguiu a viagem todinha. Fomos para Brasília, depois para Belo Horizonte, São Paulo e fora outras cidades menores que andamos”, explica.
Arrependidos 

A história de amor não ficou apenas no passeio. De namorados, logo casaram e formaram uma família ao lado dos dois filhos a 31 anos atrás, praticamente fazendo bodas junto com o cobertor. Entretanto, o furto nunca foi motivo de orgulho para o casal. Envergonhados e com medo de como seriam recepcionados pelo hotel, eles sempre ficaram inseguros sobre devolver o objeto. Até Rosita dar a sugestão de enviar uma carta explicando o que ocorreu. Durante uma nova ida a Fraiburgo, eles decidiram colocar o plano em prática.
Jadson e Rosita durante o batizado de um dos filhos - Reprodução/Arquivo Pessoal
Jadson e Rosita durante o batizado de um dos filhosReprodução/Arquivo Pessoal


“É um sentimento de uma questão de civilidade, né? Uma questão de não é certo, não é correto. Então eu tentei devolver e ainda vou tentar reparar o erro com eles ainda. Vou tentar fazer isso. Se eu encontrar o dono da época do hotel, não sei se ainda está vivo ou não, né? Para pedir perdão pessoalmente para ele”, afirma Jadson.

Para o Hotel Fraiburgo não há mágoas. Em publicação nas redes sociais, o estabelecimento esclarece que “o que se leva dessa vida, é vida que se leva” e que foi uma honra participar da história do casal. Ao O DIA, eles explicaram que não só vão manter o cobertor como uma recordação do momento como criar um espaço especial para ouvir novos contos inspiradores e deixar exposto como um símbolo dessa história. Jadson e Rosita ainda foram convidados para passar uma noite na cidade, contar a aventura e reviver a estadia.
 *Matéria do estagiário Rodrigo Glejzer, sob a supervisão de Marcela Ribeiro