Homem destrói relógio histórico nos atos golpistasReprodução: redes sociais
Onde foi publicado: X.
Conclusão do Comprova: O homem que quebrou o relógio de Dom João VI durante os atos antidemocráticos em Brasília, em 8 de janeiro do ano passado, não é militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), ao contrário do que afirma post viral.
A publicação mescla o vídeo do homem jogando o relógio no chão, dentro do Palácio do Planalto, com uma gravação em que aparece um homem com uma camiseta do MST fazendo a letra L com a mão, em referência ao apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na publicação, o autor do post diz ser a mesma pessoa, o que não é verdade.
O vândalo foi identificado como Antônio Cláudio Alves Ferreira e foi preso em 23 de janeiro. Contatado pelo Comprova, o MST afirmou que o post é "uma montagem grosseira na tentativa de criminalizar o movimento" e que conteúdos de desinformação com o mesmo assunto circulam há um ano. Ainda de acordo com o grupo, o homem com a camiseta do MST se chama Danilo, é estudante e mora com a família em um acampamento no Paraná.
Em análise feita a pedido do Estadão, o perito audiovisual Ricardo Caires dos Santos, presidente da Comissão Nacional de Perícia Audiovisual, da Academia Brasileira de Ciências Criminais, também concluiu não ser a mesma pessoa nos dois vídeos. Segundo a perícia, há diferenças nos olhos, sobrancelhas e bigode.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Apenas um post no X havia sido visualizado mais de 69 mil vezes até 2 de fevereiro.
Como verificamos: O primeiro passo foi pesquisar no Google termos como “vândalo relógio Dom João VI” e “MST”. O resultado mostrou três verificações que desmentiram a associação dos dois vídeos.
Também foram pesquisadas notícias sobre Antônio Cláudio Alves Ferreira, identificado como a pessoa que quebrou o relógio. O Comprova também entrou em contato com a assessoria de imprensa do MST. Além disso, mandou mensagens para o perfil que compartilhou o vídeo original, que mostra o homem identificado como Danilo, e com o Movimento por Moradia Popular. Mas até a publicação dessa verificação não obteve resposta.
Vândalo se chama Antônio, não Danilo
Logo depois, testemunhas, entre elas a irmã de Antônio Cláudio Alves Ferreira, o reconheceram como sendo a pessoa que aparece no vídeo, segundo reportagem do Diário de Pernambuco. Antônio é natural de Catalão, em Goiás, e, de acordo com a Polícia Civil do estado, foi a Brasília de carro, onde chegou no dia 2 de janeiro. No dia 9, após os ataques, o mesmo veículo foi visto de volta à Catalão.
Antônio foi preso em 23 de janeiro em Uberlândia e está detido desde então no Presídio de Uberlândia I, antiga Colônia Penal Professor Jacy de Assis. Foi incluído no inquérito 4922, do Supremo Tribunal Federal, de relatoria do ministro Alexandre de Moraes. O inquérito investiga os participantes da invasão que não foram presos em flagrante. Na ação, ele responde por cinco crimes, incluindo golpe de Estado.
Relógio de Balthazar Martinot
No dia dos ataques, o relógio foi destruído. Foram arrancados a estátua de Netuno que ficava no topo do objeto, os ponteiros e também os números.
O item foi enviado à Suíça, que se ofereceu para fazer o reparo. O objeto foi entregue a representantes do país em 26 de dezembro de 2023. A restauração será feita pela Audemars Piguet, fabricante tradicional de relógios. Não há data para finalização do restauro. Os custos também não foram divulgados.
Vídeo do MST é viagem para posse de Lula
O que diz o responsável pela publicação: Várias páginas no X republicaram o vídeo e não foi possível identificar o perfil que fez a primeira postagem. A reportagem também não conseguiu contatar os perfis que publicam por ser proibido o envio de mensagens.
O que podemos aprender com esta verificação: O post usa vídeos verdadeiros de pessoas parecidas para confundir e difundir uma informação falsa. Diante de postagens como essa, que fazem denúncias sensacionalistas ou apresentam teorias conspiratórias sem identificar as fontes dos conteúdos utilizados, faça buscas na internet para localizar informações sobre o tema fornecidas por veículos jornalísticos ou fontes com autoridade para falar sobre o tema em questão. Se fosse verdadeira a informação, a participação de um integrante do MST na tentativa de golpe de 8 de janeiro seria veiculada em diversos sites e programas de notícias e não somente em perfis de redes sociais cuja autoria não pode ser confirmada.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: Estadão, Aos Fatos e Fato ou Fake, do G1, também verificaram o conteúdo. Sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o Comprova já checou outras publicações, como a de que o FBI não estava no Brasil para investigar os atos, diferentemente do que afirmava vídeo e de post que enganava ao associar vídeo de 2022 a início de movimento contra Lula.
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