Em reunião com Bolsonaro, general Heleno sugeriu ação da Abin nas eleições e falou em 'virada de mesa'
Ex-titular do Gabinete de Segurança Institucional mencionou conversa com diretor do do órgão de inteligência para infiltrar agentes em campanhas de adversários
General Augusto Heleno foi alvo de mandado de busca e apreensão nesta quinta-feira (8) - Marcelo Camargo/Agência Brasil
General Augusto Heleno foi alvo de mandado de busca e apreensão nesta quinta-feira (8)Marcelo Camargo/Agência Brasil
Um novo trecho do documento da PF que desencadeou nesta quinta-feira (8) a operação Tempus Veritas mostrou que o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, comunicou ao presidente Jair Bolsonaro a participação de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na campanha presidencial de 2022. No texto, divulgado pelo programa Conexão Globonews, Heleno — que foi alvo de mandados de busca e apreensão — informou que conversara com um diretor da Abin para colocar infiltrados nas campanhas de adversários políticos.
Durante a reunião, segundo a PF, o ex-presidente Jair Bolsonaro teria demonstrado preocupação com a possível identificação dos envolvidos. Ele pediu que Heleno e os demais participantes "conversassem em particular sobre o que a Abin estaria fazendo".
No entanto, o general teria prosseguido com o discurso e evidenciado a "necessidade de os órgãos de estado vinculado ao Governo Federal atuarem para assegurar a vitória do então presidente Jair Bolsonaro". Heleno teria dito: "(...) não vai ter revisão do VAR, então, o que tiver que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições". Nesse momento, ele citou uma "virada de mesa". "Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições".
Em seguida, o então ministro do GSI afirma que "deveriam agir contra determinadas instituições e pessoas". "Vai chegar um ponto que não vamos poder mais falar, nós vamos ter que agir, agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso para mim está muito claro", disse.
General foi intimado a depor sobre 'Abin paralela'
A Abin fez parte da estrutura administrativa do GSI enquanto Heleno esteve no cargo. A agência passou para o guarda-chuva da Casa Civil em março de 2023, já no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo o militar, o papel de Mauro Cid estava restrito a cumprir ordens dadas pelo então presidente, e que, portanto, não participava de reuniões, nem teria relevância para a tomada de decisões. Publicidade
"Cid era apenas um ajudante de ordens do ex-presidente. Ou seja, cumpria ordens", disse Heleno ao afirmar que os depoimentos de Mauro Cid estão sendo utilizados de forma indevida. "Não sei o que ele falou. Ninguém sabe", disse à época.
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