Secretário da Casa Civil, Arthur Lima, e o governador Tarcísio de FreitasReprodução: Governo do Estado de São Paulo
As nomeações de Duque Estrada, assim como a de todos os conselheiros de companhias saíram da caneta do Lima já que, em janeiro do ano passado, Tarcísio publicou decreto que obriga todos os secretários a submeter suas indicações para conselhos de empresas estatais à Casa Civil, que passou a centralizar as nomeações para esses cargos. Pela regra, a pasta envia os nomes ao Conselho de Defesa dos Capitais do Estado (Codec), também presidido por Lima, que então solicita uma avaliação de conformidade aos comitês de elegibilidade e aconselhamento das empresas.
Segundo a Casa Civil, as indicações para conselhos de administração são feitas estritamente levando em consideração o cumprimento dos requisitos previstos em leis, exigências e vedações previstas no Estatuto Social da empresa estatal, além de terem sua indicação escrutinada pelo Comitê de Elegibilidade.
Procurada, a Prodesp afirmou, em nota, que Duque Estrada foi nomeado com o aval do comitê de elegibilidade e em cumprimento integral dos requisitos do art. 17 da Lei das Estatais. Já a Desenvolve SP disse que o advogado cumpriu os requisitos legais, que a nomeação não viola o estatuto social da entidade e que a posse foi autorizada pelo Banco Central.
Escritório fechou negócio de R$ 20 milhões após entrada de secretário
Oficialmente, Arthur Lima passou a constar como sócio do escritório de advocacia Duque Estada Advogados Associados em fevereiro do ano passado, um mês após se tornar chefe da Casa Civil de Tarcísio de Freitas. Dois meses depois, o escritório fechou um negócio de R$ 20 milhões com o fundo Lassie 1, criado pela Lass Capital e administrado pelo BTG Pactual.
Arthur Lima não fazia parte do escritório quando o processo contra a Varig foi iniciado na Justiça, em 2005, mas somente agora, quando o escritório recebeu a quantia. Além dos dois, há um terceiro sócio: Carlos Henrique Dosciatti. Ao Estadão, por telefone, o secretário disse ter auxiliado no caso em 2022, quando ainda não integrava o governo paulista, embora seu nome não conste nos autos.
Posteriormente, por meio de nota, a Casa Civil afirmou que ele "não participou da transação do caso da Varig nem recebeu qualquer valor, uma vez que os honorários advocatícios cedidos" foram os dos serviços prestados pelo advogado Duque Estrada. Disse ainda que, na prática, sua atuação no escritório se iniciou em 2022, mas só foi formalizada no ano seguinte devido à duração de trâmites burocráticos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Ao Estadão, Duque Estrada diz ter convidado o secretário para a sociedade porque queria expandir sua atuação para a área de Parcerias Público Privadas (PPPs), mas teve de adiar o plano com a entrada de Lima no governo.
Parte do pagamento pode acabar sendo feito pelo próprio governo de SP
Para garantir o pagamento ao fundo Lassie 1, caso os créditos da Varig não rendam os R$ 80 milhões acordados, foram oferecidos créditos de outra companhia aérea falida, a Vasp, cujo sindicato de funcionários também é representado por Duque Estrada.
Questionado, o fundo Lassie 1 disse, por meio de nota, que Lima e Duque Estrada "não têm qualquer ingerência sobre o pagamento dos créditos adquiridos". Lembrou ainda que esta função cabe à Procuradoria-Geral do Estado, que, em janeiro, se manifestou contrariamente ao pagamento da dívida pelo Estado em recurso extraordinário apresentado ao STF.
Quanto ao negócio realizado com o escritório Duque Estrada, o fundo afirmou que a negociação para a compra dos direitos creditórios "foi iniciada no começo de 2022, quando não havia sequer a expectativa de quem seria o novo governador e, muito menos, seus secretários". Já o BTG Pactual informou que, na condição de administrador do Lassie 1, não tem qualquer ingerência sobre gestão, compra e venda de ativos.
A Desenvolve SP é o principal canal de que dispõe o governo paulista para fomentar a economia por meio de crédito a taxas subsidiadas. Em 2023, primeiro ano de mandato de Tarcísio, a agência ganhou ainda mais relevância. Emprestou R$ 1 bilhão a municípios e empresas privadas, 36% a mais do que no ano anterior.
Já a Prodesp é a empresa de informática do governo do Estado, criada para desenvolver e implementar soluções de governo eletrônico, gestão e atendimento ao cidadão. A Prodesp atua tanto no Executivo quanto no Legislativo e no Judiciário, com soluções de Internet, serviços de data center, consultoria, assessoria e suporte técnico, elaboração de projetos e instalação de redes e treinamentos.
Para José Rogério Cruz e Tucci, professor titular de Direito Processual da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USB), a participação societária do secretário, por si só, não fere o Código de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas levanta questionamentos acerca de um conflito de interesses
"A rigor, não há impedimento. O código de ética da OAB não prevê casos como esse, mas é evidente que há um conflito de interesses Primeiro, por ter colocado o sócio no conselho de empresa pública e, depois, por se associar a um escritório em litígio contra o governo. A última coisa que se extrai disso é coincidência. No caso, me parece haver indícios de tráfico de influência."
A Casa Civil nega que haja conflito de interesses, já que a pasta não atua junto a procuradores do Estado em suas defesas judiciais, nem detém competência para que o próprio secretário possa representar o Estado perante o Judiciário.
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