Darci Alves (de amarelo), assassino de Chico Mendes, durante cerimônia de posse do PLReprodução / Internet

O presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, mandou afastar da presidência do diretório municipal de Medicilândia, no interior do Pará, o réu confesso do assassinato do ambientalista e seringueiro Chico Mendes, Darci Alves Pereira. Ele foi condenado, junto com o pai, a 19 anos de prisão em 1990. Alves, que apresenta nas redes sociais como "Pastor Daniel", também é pré-candidato a vereador no município. A decisão vem após o assunto vir à tona nesta terça-feira, 27.


Darci tomou posse no diretório do PL de Medicilândia no dia 26 de janeiro, mas a sua participação na sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi revelada pelo jornal ECO e confirmada pelo Estadão nesta terça-feira, 27. Em nota enviada à imprensa na noite desta terça, Valdemar afirmou que mandou o presidente do PL paraense, o deputado federal Éder Mauro, destituir Darci do comando da sigla em Medicilândia. O dirigente disse também que descobriu pela imprensa o passado do réu confesso por assassinar Chico Mendes.

"Gostaria de esclarecer que não tinha conhecimento de que Darci Alves Pereira, que assumiu recentemente a presidência do PL de Medicilândia, no interior do Pará, é o mesmo indivíduo acusado do assassinato do ambientalista Chico Mendes. Agradeço à imprensa por trazer ao nosso conhecimento esse importante fato", disse Valdemar.

O mandato de Darci como presidente do PL de Medicilândia era de um ano e começou a ter vigência em novembro, embora a cerimônia de posse tenha acontecido só em janeiro deste ano. No evento, que foi realizado na Câmara de Vereadores da cidade, ele foi prestigiado pelo deputado estadual Rogério Barra (PL-PA), secretário-executivo do diretório estadual da sigla.

O município de Medicilândia fica localizado no sudoeste do Pará, a 900 quilômetros de Belém, capital do Estado. Segundo estimativas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2020, a cidade tem 31.975 habitantes.

O Estadão procurou Darci Alves Ferreira e o PL de Medicilândia, mas não obteve retorno.

Condenação

Em 22 de dezembro de 1988, Darci o seu pai, o fazendeiro Darly Alves da Silva, assassinaram Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, em Xapuri, no Acre. O ambientalista, que era ameaçado de morte por conta do seu ativismo na defesa dos seringueiros, foi atingido por tiros de escopeta dentro da sua própria casa, enquanto saía para tomar um banho na parte externa do imóvel.
No desenrolar das investigações, Darci admitiu que foi o responsável pelos disparos, enquanto que Darly, que era um grileiro de terras da região de Xapuri, foi o mandante do crime. Em 1990, em um julgamento que durou quatro dias, os dois foram condenados a 19 anos de prisão. Eles chegaram a fugir da cadeia em 1993, mas foram recapturados pela polícia em 1996.

Nas redes sociais, Darci se apresenta como "Pastor Daniel" e diz ser pré-candidato à vereador em Medicilândia. Em uma postagem no dia da posse no PL de Medicilândia, ele conclamou os moradores a se filiar ao partido do ex-presidente Bolsonaro e disse que a cerimônia reuniu "patriotas".

"O evento contou com a presença de patriotas, líderes e dos empossados a fazer parte da comissão do partido liberal em Medicilândia, se fez presente em nosso evento o deputado estadual Rogério Barra e demais apoiadores das causas patriotas", disse Darci.
Quem foi Chico Mendes
Chico Mendes foi um ambientalista e sindicalista que atuava em favor dos seringueiros da Bacia Amazônica, cuja subsistência dependia da preservação da floresta, além da defesa dos povos nativos que viviam no entorno da região. Ao mesmo tempo que que o ativismo lhe promovia reconhecimento internacional, a causa despertou descontentamento dos grandes fazendeiros locais.
No ano de 1985, Chico Mendes organizou o primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros, que criou o Conselho Nacional da profissão, com mais de 100 integrantes. A entidade chegou a elaborar um projeto inicial de reforma agrária: a Reserva Extrativista, que após a sua morte, ganhou seu nome e foi ampliada para 20 regiões do país, num total de 32.000 km². Além disso, batizou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), unidade responsável por gerir, proteger, monitorar e fiscalizar as 335 Unidades de Conservação Federais (UC) existentes no Brasil.
A atuação do sindicalista lhe rendeu premiações como o Global 500, promovido pela ONU, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society, nos Estados Unidos. Além disso, Chico Mendes foi procurado por diversos meios de comunicação de todo o mundo, se tornado uma figura internacional. Ele chegou a se candidatar duas vezes a deputado estadual pelo Acre, sem sucesso.
No entanto, duas lideranças contemporâneas ao ambientalista prosseguiram na carreira política: a atual ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e o senador Jorge Viana (PT-AC).

* Com informações do Estadão Conteúdo