Maior prova de vestibular do Brasil, o Enem se aproxima, e os estudantes vão entrando na reta final de suas preparações. Os exames serão realizados nos dias 3 e 10 de novembro, com o primeiro deles sendo dedicado a linguagens, ciências humanas e suas tecnologias e ela, a tão temida redação. Com peso alto na nota da grande maioria de cursos e universidades, além de um tema que só é conhecido pelos alunos no momento da avaliação, a redação requer uma atenção especial, e algumas dicas e medidas podem ser seguidas para que se busque a tão sonhada nota 1000. O DIA conversou sobre o assunto com especialistas e alunos que fizeram excelentes provas recentemente.
Thiago Braga, gestor da área de redação do Colégio pH, detalhou separadamente cada uma das cinco competências cobradas pela banca do Enem, com dicas para cada uma delas.
Competência 1: ter poucos ou nenhum erro de norma culta. Isso significa ter atenção a todos os parâmetros correspondentes a esse nível de uso da linguagem: ortografia, pontuação, concordância verbal e nominal, regência verbal e nominal e organização sintática. Se o aluno cometer um erro isolado de uma dessas categorias, ele ainda assim pode obter grau máximo (200) nessa competência.
''A dica aqui é sempre revisar o texto depois que ele estiver pronto, sempre com atenção aos tópicos mencionados anteriormente.'', disse.
Competência 2: Para obter a nota máxima, o candidato precisa entender o tema proposto e versar sobre ele. Além disso, é necessário respeitar os parâmetros de um texto dissertativo-argumentativo, ou seja, uma introdução que apresente o tema e o posicionamento diante dele, parágrafos argumentativos que desenvolvam esse tema e uma conclusão que consiga finalizar a abordagem e ainda apresentar uma proposta de intervenção. Por último, ainda faz-se necessário, para obtenção de grau máximo nessa competência, utilizar um repertório sociocultural produtivo, que consiste em uma referência externa que contribua com a argumentação do aluno e demonstre que ele possui conhecimento de mundo e que consegue articulá-lo ao tema.
''A dica aqui é estudar bastante o formato ideal da redação Enem por meio de redações nota 1000 antigas publicadas em portais da internet. Além disso, vale a pena buscar ao longo do ano algumas referências que podem ser utilizadas em diversos temas para facilitar a inserção de repertório no texto da prova. O conceito de “banalidade do mal”, proposto pela filósofa Hannah Arendt, é bom exemplo de um repertório que serve a várias temáticas relacionadas a problemas sociais brasileiros'', destaca.
Competência 3: o grau máximo aqui é alcançado por meio de uma construção argumentativa bem fundamentada, construída por meio do uso de métodos argumentativos como causa/consequência, analogia, indução, dedução e outros. Além disso, o aluno consegue a nota máxima demonstrando a sua autenticidade, que, para a banca do Enem, é representada pela capacidade de demonstração de um texto que foi planejado previamente e que se conecta em suas mais variadas partes.
''A dica aqui é produzir muitas redação ao longo do ano, pelo menos uma por semana, e receber o feedback de um corretor que conheça bem os critérios avaliativos da banca. Somente assim, o aluno vai saber se está produzindo uma argumentação competente e eficaz para o modelo do Enem. O ideal é somente fazer uma redação depois de receber o feedback da anterior e aplicar as proposições de melhoria feitas pelo corretor.', sugere.
Competência 4: O grau máximo é alcançado se o aluno consegue utilizar recursos variados de coesão textual, como conectivos, pronomes, sinônimos, hiperônimos e hipônimos e elipses, demonstrando que consegue conectar as diferentes partes do texto de modo habilidoso, sem repetições excessivas de palavras ou de expressões e sem períodos truncados e confusos, que possam atrapalhar a experiência do leitor.
''A dica aqui consiste em estudar os diversos mecanismos coesivos e aplicá-los nas produções semanais. O feedback do corretor será fundamental para identificar possíveis problemas que necessitem de alguma mudança para as próximas produções", destaca Braga.
Competência 5: O aluno deve propor uma sugestão de intervenção para o problema apresentado pela banca. Ela precisa respeitar alguns itens:
- Estar conectada aos argumentos utilizados no texto.
- Ter necessariamente a ação em si, um agente realizador dela, um meio/modo para ela ser realizada e uma finalidade/efeito gerado por ela. Além disso, o aluno deve detalhar um dos itens da proposta.
''A dica aqui está em ler propostas de textos nota 1000 e tentar reproduzir suas estruturas para o tema que está sendo feito. O aluno também deve estudar os diferentes agentes sociais realizadores de ações que possam alterar o meio social brasileiro'', explica.
O DIA também recebeu as dicas e a rotina de Ana Coutinho, ex-aluna do Colégio pH que tirou nota 1000 na redação do Enem. Atualmente, cursa Direito na UFRJ.
Ela diz que buscava ampliar suas possibilidades de repertório sociocultural em quase todas as aulas, como sociologia, filosofia e literatura. Praticava bastante sua redação, fazia simulados frequentemente e, nas aulas, nunca perdia a oportunidade de parar os professores para conversar, pedir conselhos e tirar dúvidas.
''Os simulados são essenciais também para a sua consciência durante a prova. Eu já sabia a ordem das questões que eu ia fazer e quanto tempo eu demorava. Sabia o momento certo de ir ao banheiro e comer, por exemplo. Isso ajuda muito na organização e na confiança para a prova,'' contou.
Para a nota 1000 na redação, o principal conselho de Ana foi que o aluno descubra, na prática, o seu modelo próprio de escrita e a melhor forma de se adaptar as exigências da banca.
''Eu diria que não existe modelo pronto. Você mesmo pode fazer seu próprio, descobrir quais repertórios combinam contigo, qual seu jeito de escrever. Isso facilita muito porque você se encaixa no seu próprio molde, não de outra pessoa. Além de deixar o texto com a sua cara, o que não só é muito legal, ler um texto e saber que tem sua personalidade, mas também traz originalidade, fator que é muito importante pro mil.''
Alessandra Castro dos Santos, professora e coordenadora de redação do Pensi, falou um pouco como é a preparação feita no colégio. Segundo ela, em um cenário educacional cada vez mais competitivo, alcançar a tão almejada nota máxima no Enem tornou-se não apenas um objetivo, mas também uma porta de entrada para inúmeras oportunidades educacionais e profissionais. Para muitos estudantes, atingir a pontuação máxima na redação representa mais que um desafio, constitui-se como a concretização de um sonho.
A coordenadora falou que uma boa preparação conta com extensos repertórios de dinâmicas e profissionais experientes.
''Nosso objetivo é aprimorar técnicas e estratégias de escrita, ampliar repertórios discursivos-argumentativos e aumentar a confiança e autoria dos estudantes, além de promover maior dinamismo às correções das redações e maior possibilidade de desenvolvimento da escrita a partir de feedbacks constantes e assertivos.''
Alessandra também fala sobre a importância de se manter atualizado sobre o que está acontecendo no mundo, fortalecendo o repertório sociocultural do aluno, tão necessário e que conta pontos no exame. o desenvolvimento de temas especialmente escolhidos para cada concurso e de temas avulsos (para desafiar e treinar os alunos em todos os cenários possíveis).
Fortalecer a capacidade de elaboração do texto dissertativo-argumentativo, modelo de redação adotado pelo Enem, é fundamental. Além disso, a professora também destaca a importância de se ter autoria e uma identidade própria no texto. ''Valorizar e incentivar a autoria na elaboração de textos resulta em uma escrita sólida, organizada e poderosa, imprescindíveis para o alcance da nota de excelência.''
Monique Machado Monnerat Rodrigues Campos, de 17 anos, ex-estudante do Pensi e que atualmente cursa Medicina na Unirio, falou sobre sua experiência e preparação que a possibilitou tirar 980 na redação do Enem 2023.
Ela diz que os pontos fundamentais para a conquista de uma boa nota são o estudo da estrutura e a prática: ''Pesquisar sobre cada uma das competências requeridas pela banca e o que leva à perda de ponto é uma ótima maneira de começar os estudos, pois desse jeito é mais fácil compreender os seus erros e consequentemente consertá-los.''
Monique também deu grande destaque a importância da saúde emocional e o seu impacto direto tanto nos estudos quanto no desempenho durante a prova. Ela conta que, no início da redação, estava muito ansiosa e sem conseguir fazer o seu melhor. Porém, sabendo do peso da redação em sua média geral, abriu mão de algumas questões da prova para dedicar mais tempo do que o planejado em aperfeiçoar seu texto.
''Conseguir tomar essa decisão naquele momento crítico foi o que possibilitou a minha aprovação, e é por isso que um dos maiores conselhos que eu tenho para quem vai prestar vestibular esse ano é que saiba priorizar as partes de prova com maior peso para o seu curso, e não tenha medo de seguir sua intuição em momentos de nervosismo.''
*Matéria do estagiário Diego Cury, sob supervisão de Marlucio Luna.
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