Bairro inundado localizado às margens do rio Cai, em Montenegro, no RSAFP

O baixar das águas no Rio Grande do Sul deixou à mostra a certeza de que a reconstrução daquele Estado passará, indubitavelmente, pela retomada do turismo. Foi o que disse ao Broadcast o secretário de Turismo de Gramado, Ricardo Bertolucci. Ele destacou a importância do turismo para a recuperação da economia gaúcha não só do município, mas de todas as cidades vizinhas, na Serra Gaúcha.

Pela disposição geográfica do polo turístico do Rio Grande do Sul, encravado na Serra, a estrutura deste segmento da economia sul-rio-grandense não sofreu os impactos das águas como as regiões mais baixas do Estado, entre as quais a capital, Porto Alegre — que ficou por dias debaixo d'água.

Mas para que o turismo gaúcho possa dinamizar a reconstrução das áreas destruídas pelos alagamentos, duas medidas se fazem necessárias, disse Bertolucci: o envio direto de recursos pelo governo federal para financiar os eventos turísticos da região e a reabertura do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre. Esta segunda já está se resolvendo, parcialmente.

Durante a visita que fez à redação da Agência Estado, no exato momento em que conversava com os jornalistas, saltou na tela do Broadcast a notícia de que o Aeroporto de Porto Alegre seria reaberto.

"Agora a gente volta ao jogo. Vamos voltar a vender o Natal Luz para todas as regiões", disse o secretário de Gramado, que contou que, devido à falta de conectividade aérea por causa do fechamento do Salgado Filho, Gramado só estava vendendo pacotes turísticos para as regiões Sul e Sudeste. De acordo com ele, nem tinha como vender grandes eventos turísticos para o Norte e o Nordeste porque não tinha como os turistas dessas regiões chegarem a Porto Alegre.

Bertolucci e sua equipe estão visitando as principais cidades do Sudeste para divulgar os grandes eventos turísticos de Gramado, como o Festival de Cinema, que ocorre de 8 a 17 de agosto, e o Natal Luz, considerado o maior evento natalino e que atrai anualmente 3 milhões de visitantes. Estiveram na segunda-feira em Campinas, e ontem em São Paulo, quando visitaram a redação da Agência Estado. Ainda nesta semana, irão ao Rio de Janeiro.

Resposta

A segunda medida citada por Bertolucci depende de resposta do governo federal. O governo do Estado do Rio Grande do Sul enviou ao ministro do Turismo, Celso Sabino, no dia 21 de junho um ofício por meio do qual explica a situação da indústria do turismo no Estado e solicita recursos diretos de R$ 90 milhões para financiar dez eventos turísticos no Estado, sendo três em Gramado.

"Temos sentido a presença do governo federal no Rio Grande do Sul. O ministro Paulo Pimenta já esteve três vezes com a gente, o governo acionou a Lei Rouanet para o setor cultural, e fez acordos com empresas para investirem no turismo dando como contrapartida isenções tributárias, mas precisamos de recursos diretos para realizarmos os eventos", defendeu o secretário.

Para se ter ideia da importância do turismo no Rio Grande do Sul, a atividade responde por 6% da economia local e representa 86% da economia de Gramado. Com a tragédia climática em maio, e o fechamento do Aeroporto Salgado Filho, a ocupação hoteleira — que nos meses de julho atinge 80% da capacidade instalada —, neste ano, em dias de semana, está em 25%, podendo chegar a 50% nos finais de semana com o movimento regional e uma parcela de público do Mercosul.

No ano passado, Gramado, de 40 mil habitantes, recebeu 8,2 milhões de visitantes, em média mensal de 680 mil. De todas as pessoas de fora do Estado que pousam em Porto Alegre, 55% têm como destino Gramado, disse Bertolucci. Ele acrescenta que "no mês passado, Gramado foi a terceira cidade que mais demitiu na região da Serra Gaúcha".

Por outro lado, o turismo no Rio Grande do Sul será, na previsão do secretário, será o primeiro setor da economia a dar a volta por cima se vier a contar com a ajuda direta de recursos do governo federal já que o aeroporto será aberto em outubro.

Gramado, de acordo com Bertolucci, por ser uma cidade estruturalmente preparada para atender as demandas de seus 40 mil habitantes, e ao mesmo tempo receber uma média de 680 mil turistas por mês, como qualquer outra cidade ainda oferece muitas oportunidade para investimentos em infraestrutura, como na área de saneamento, por exemplo.
Tragédia
O número de mortes provocadas pelos temporais que atingem o Rio Grande do Sul está em 182, segundo o último balanço divulgado pela Defesa Civil. O número de feridos chega a 806, e o de desaparecidos 31.
Os dados ainda mostram que pelo menos 478 cidades foram afetadas e mais de 2,3 milhões de pessoas sofrem com as inundações.