Entre janeiro e agosto de 2024, o bioma já teve 4 milhões de hectares afetados por queimadasMarcelo Camargo/Agência Brasil

O fogo queimou 88 milhões de hectares de Cerrado brasileiro entre 1985 e 2023, uma média de 9,5 milhões de hectares todos os anos, o que supera as queimadas na Amazônia, com 7,1 milhões de hectares por ano, em média, apontou nesta quarta-feira, 11, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), que coordena o mapeamento do bioma na Rede MapBiomas. O estudo informa também que a área queimada equivale a 43% de toda a extensão do Cerrado brasileiro e supera o território do Chile e Turquia.

O desmatamento do Cerrado apresenta, além disso, números grandiosos no relatório do MapBiomas, alcançando, entre 1985 e 2023, 38 milhões de hectares, ou redução de 27% na vegetação original do bioma, que, hoje, tem quase metade da sua área alterada por atividades humanas.

"Atualmente, 26 milhões de hectares do Cerrado estão ocupados pela agricultura, dos quais 75% são destinados ao cultivo de soja", aponta o estudo. O bioma abriga quase metade da área cultivada com o grão no Brasil, somando 19 milhões de hectares.
O MapBiomas informa que a outra metade da vegetação que permanece em pé corresponde a 101 milhões de hectares e representa 8% de toda a vegetação nativa do Brasil, "garantindo o posto do Cerrado como savana mais biodiversa do mundo".

Desse remanescente, 48% estão nos Estados da região Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piaui e Bahia), que viu sua área de agricultura aumentar 24 vezes desde 1985. A região também concentra 41% do desmatamento registrado no bioma nos últimos 39 anos.

Para o pesquisador Dhemerson Conciani, do Ipam, é necessário, diante deste cenário, efetivar "políticas públicas e mecanismos financeiros que incentivem a conservação do Cerrado", diz ele, na nota. "Seguir com o desmatamento nesse ritmo trará consequências ainda mais graves para a regulação do clima e para os setores econômicos, principalmente o agronegócio, que depende do clima e dos recursos hídricos no Cerrado."

Por outro lado, 14,7% estão em áreas protegidas e públicas de uso coletivo, como unidades de conservação, terras indígenas e territórios quilombolas, que mantêm mais de 93% da sua vegetação nativa preservada. Apesar da preservação, o desmatamento em terras indígenas no bioma, por exemplo, aumentou 188% em 2023, comportamento oposto ao observado no restante do país, que registrou uma redução de 27% da área desmatada.

Sobre os incêndios no bioma, de acordo com dados do Monitor do Fogo, entre janeiro e agosto de 2024, o bioma já teve 4 milhões de hectares afetados por queimadas. Deste total, 79% (ou 3,2 milhões de hectares) ocorreram em áreas de vegetação nativa.
Esse valor representa um aumento de 85% em relação a igual período do ano passado, quando 2,2 milhões de hectares foram queimados. O mês de agosto de 2024 registrou a maior área queimada desde 2019, com mais de 2,4 milhões de hectares afetados no Cerrado, superando os valores observados no mesmo período nos anos anteriores.