Tabata AmaralMyke Sena/Câmara dos Deputados

A deputada federal Tabata Amaral (PSB), candidata à Prefeitura de São Paulo, disse nesta quinta-feira, 12, durante sabatina realizada pelo Estadão, não temer ser vítima do voto útil e pode até se beneficiar do movimento e receber votos de eleitores que querem evitar que o influenciador Pablo Marçal (PRTB) ou o prefeito Ricardo Nunes (MDB) estejam no segundo turno. Pesquisa do Instituto Travessia mostrou que parte dos eleitores cogitam adotar o voto estratégico para impedir que Marçal avance. "As pessoas, ao verem Nunes, Marçal e (Guilherme) Boulos (PSOL) enrolados (na liderança das pesquisas), sabendo que sou a única que vence com margem do Nunes e do Marçal, podem fazer o movimento para cá."
Questionada sobre propostas para a cidade, a deputada afirmou que, se eleita, manterá a tarifa de ônibus congelada em R$ 4,40, mas disse ser inviável expandir a Tarifa Zero para todos os dias da semana, como querem Nunes e Boulos. Defendeu ainda o uso de câmeras corporais por fiscais da Prefeitura. A sabatina foi mediada pelo colunista Ricardo Corrêa, com participação do repórter especial Marcelo Godoy.
Pesquisas mostram que a sra. permanece consistentemente em quarto lugar, sem avançar, mas sem perder votos. Como avalia?
Graças a Deus, né? Porque, competindo contra o financiamento ilegal e o uso da máquina, consegui subir, me estabilizei em quarto lugar e vou disputar o terceiro. Os desafios ainda são aqueles que mencionei. Estou competindo contra candidatos que fazem uso abusivo da máquina. As denúncias que venho apresentando, de que Marçal financia sua campanha de forma ilegal, ainda não foram respondidas pela Justiça, mas o bom é que quem decide é o povo. Tivemos uma semana sem debate, mas no domingo a disputa começa, e, a cada dois ou três dias, teremos novos debates. É nesses momentos que tenho conseguido apresentar minhas propostas.
O eleitorado da sra. está preocupado com a possibilidade de Pablo Marçal ser eleito. Teme que esse eleitor fique tentado a optar pelo voto útil, ou seja, vote em algum outro candidato para evitar que ele avance?
Não. Saiu na Atlas, e em outras pesquisas, que sou a única que não perde para ninguém no segundo turno. Ganho com margem do Nunes, do Marçal, e tive empate técnico com Boulos. Sou a candidata com a menor rejeição. Então, me parece que o cenário pode ser o oposto. As pessoas, ao verem Nunes, Marçal e Boulos embolados, e sabendo que sou a única que vence o Nunes e o Marçal, podem acabar migrando para a minha candidatura. É claro que a campanha do Boulos defende essa tese (do voto útil), porque é conveniente, mas votar no Boulos é colocar no segundo turno um candidato que perde para o Nunes e tem chance de perder para o Marçal. Isso parece um voto inútil.
Hoje a cobertura da Estratégia Saúde da Família em São Paulo está em 40%. A sra. fala em elevar esse número para 75%. Tem ideia de quanto isso custaria e de onde viria o dinheiro?
Com certeza. O custo disso é de R$ 1,25 bilhão. Me perguntam: de onde vem esse dinheiro? A primeira coisa é reorganizar o que já temos. Houve um aumento no investimento em saúde - são mais de R$ 20 bilhões por ano -, mas o sistema é caótico. A Prefeitura não usa tecnologia nem faz a gestão das filas. O primeiro passo é cuidar da gestão. O segundo, com os dados em mãos, que hoje a Prefeitura não tem, é conseguir mais repasses do governo do Estado e do governo federal. E é por isso que insisto muito nessa questão. Eu não sou a candidata nem do Lula nem do Jair Bolsonaro, sou independente. Mas sou a única que tanto o (governador) Tarcísio (de Freitas) quanto o Lula já disseram que poderão apoiar.
A sra. defende o uso de câmeras corporais por fiscais. Eles usariam o tempo inteiro durante o período de atividade profissional?
A política de câmeras corporais é um grande sucesso. Qual a ideia? É para que fiscais também tenham essas câmeras. Por quê? É uma proteção para eles, mas também para quem está sendo fiscalizado. Estou diariamente na rua, ouvindo reclamação de pequeno comerciante, de ambulante que tem autorização, mas que diz que é obrigado a pagar uma propina, que sofre uma violência. Esses fiscais têm que estar lá para proteger a população, e não para cobrar uma propina.
A sra. propõe criar o Centro de Justiça Restaurativa, com capacidade para receber casos relacionados a drogas que ocorram na região central. Como tirar isso do papel se não é algo que depende necessariamente da Prefeitura?
Muitas coisas que estão no meu plano dependem do governo federal, do governo do Estado, e é por isso que reforço: terei o apoio do governador e terei o apoio do presidente da República. Quando a gente fala da Cracolândia, é o problema mais complexo que a gente tem em São Paulo. Porque vou precisar da PM, da GCM, da Polícia Civil, vou precisar do Ministério Público, lideranças religiosas, Judiciário. De onde vem essa proposta da Justiça Restaurativa? É uma experiência que está comprovada pelo Conselho Nacional de Justiça. Você traz a pessoa e, quando você vai dar a pena dela, você traz condições para que essa pena seja atenuada. Um exemplo é, se a pessoa busca tratamento, se ela faz curso profissionalizante, você olha para o todo.
Uma questão que preocupa é a infiltração do PCC no transporte Como lidar com esse problema?
É importante trazer qual foi a atitude do prefeito Ricardo Nunes, porque a minha será oposta. Ele não quis abrir mão desses contratos. Ele só fez o que eu teria feito desde o momento zero, que é assumir o serviço para não prejudicar os trabalhadores nem a população abrindo mão desses contratos até que se faça nova licitação, quando o Ministério Público mandou. Quando você tem órgãos independentes dizendo ‘isso aqui é crime’, o prefeito tem argumento jurídico para abrir mão daquele contrato.
Sobre o futuro da Tarifa Zero e o congelamento da passagem de ônibus. Qual é a posição da sra.?
Manterei a Tarifa Zero aos domingos e temos uma proposta de remodelá-la. Sobre os outros dias, a gente não tem condição hoje de implementar. Para fazer a Tarifa Zero no dia de semana, seria pelo menos mais R$ 10 bilhões. Com ônibus quebrando, frota reduzida. As pessoas querem qualidade. Mas é possível manter a tarifa congelada? Meu compromisso de primeiro mandato é não alterar a tarifa de ônibus.
A sra. tem em seu partido o vice-presidente Geraldo Alckmin, que se uniu a Lula em 2022 contra Bolsonaro. Por que não teve uma campanha conjunta com Boulos ou um outro candidato do PT em São Paulo?
Falta de convite não foi. Mas não tenho nenhuma identificação com o projeto do Boulos. Isso você percebe nas posições que eu tenho em relação a ditaduras de esquerda, nas minhas posições econômicas e na forma como faço política.