Chanceler Mauro Vieira falou sobre a operação de resgate de brasileiros no LíbanoJoédson Alves/Agência Brasil

Articulação constante, acolhimento e ajuda humanitária. Em entrevista ao Bom Dia, Ministro desta quarta-feira, 9 de outubro, o chanceler Mauro Vieira detalhou conceitos, desafios e o trabalho do Itamaraty para resgatar brasileiros e familiares da zona de conflito no Líbano. A Operação Raízes do Cedro já concluiu dois voos, que trouxeram 456 pessoas e seis animais domésticos ao Brasil. Nesta quarta-feira, 9, uma terceira escala está prevista para decolar de Beirute.

"É uma operação de grande vulto. Será maior do que foi a operação na Palestina, na Faixa de Gaza, em Israel no ano passado, quando 1.560 pessoas, aproximadamente, foram resgatadas. Agora, as projeções e expectativas são maiores. Em torno de três mil pessoas estão em contato com a Embaixada do Brasil em Beirute”, explicou o ministro das Relações Exteriores.

“Há um contato constante, um diálogo entre a embaixada e a comunidade brasileira. Um sistema de contato por e-mail, WhatsApp, grupos que reúnem os brasileiros na região. São cerca de 20 mil brasileiros que vivem em Beirute, arredores de outras cidades do Líbano e um número grande manifestou interesse em voltar”, disse.

A operação Raízes do Cedro foi determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em função do conflito entre Israel e o grupo Hezbollah, que atua no Líbano. A ação humanitária envolve equipes do Ministério das Relações Exteriores em Brasília e na Embaixada do Brasil em Beirute, do Ministério da Defesa, e conta com a logística operacional da Força Aérea Brasileira (FAB).

A prioridade nas listas de resgate é para mulheres, crianças, idosos e brasileiros não residentes no Líbano. Na tripulação, vai sempre uma equipe multidisciplinar com médicos, enfermeiros e psicólogos para garantir assistência aos repatriados. No receptivo no Brasil, servidores de vários ministérios atuam para acolher os brasileiros e familiares em áreas como saúde, regularização de documentos, assistência social, abrigamento e traslados internos.

A mesma aeronave que traz os brasileiros tem sido usada pelo governo para enviar insumos de saúde. Nesta terça-feira, 8, 491 quilos de medicamentos, envelopes para reidratação e seringas descartáveis foram enviadas, numa ação coordenada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores, em parceria com Ministério da Saúde e o Ministério da Defesa. Além dessa carga, foram enviadas sete toneladas de medicamentos arrecadados em iniciativa coordenada pelo Consulado-Geral do Líbano no Rio de Janeiro.
No domingo, 6, a primeira doação enviada ao Líbano no avião deslocado para resgatar os brasileiros tinha 20 mil seringas com agulhas e 4 mil agulhas individuais. “Também já foi informado que há doações de roupas, vestimentas e outros tipos. Temos a disponibilidade nesses voos de levar donativos, outros medicamentos, doações que surjam. É uma prova da solidariedade da comunidade brasileira descendente de libaneses e da sociedade brasileira como um todo”, disse Mauro Vieira.

Crise no Oriente Médio
Questionado sobre a posição do Brasil frente ao conflito entre Israel e o Hezbollah, o ministro ressaltou que o Brasil se posiciona a favor da diplomacia.
“O Brasil tem sido muito vocal em condenar os atos de violência que levaram ao início desse conflito, com o ataque do Hamas a Israel há um ano atrás, mas também tem criticado constantemente a reação desproporcional de Israel”, declarou. Vieira mencionou os dados resultantes do conflito, que já deixou mais de 1,2 mil mortes em Israel, 41 mil mortos na Palestina, cerca de 1,2 milhão de pessoas deslocadas e 2 mil mortes no Líbano. “Disso ninguém sai ganhando", frisou.