Homens negros no Brasil enfrentam um impacto desproporcional da violência armada. Além de uma elevada mortalidade por armas de fogo, eles representam 68% dos atendimentos no sistema de saúde por agressões armadas. Jovens de 20 a 29 anos e adolescentes de 15 a 19 anos são os mais afetados, com taxas de homicídio duas e três vezes superiores à média de homicídios masculinos, respectivamente. Esses dados são da pesquisa “Violência Armada e Racismo: o papel da arma de fogo na desigualdade racial”, do Instituto Sou da Paz, que ressalta como a violência armada reflete desigualdades raciais e de gênero, apontando para a necessidade de integrar políticas de segurança pública e sociais para combater o problema.
A pesquisa analisou dados do Ministério da Saúde, entre 2012 e 2022, e revelou que armas de fogo foram responsáveis por quase 38 mil mortes anuais de homens. Dois a cada três homens assassinados no Brasil foram mortos por armas de fogo. A faixa etária de 20 a 29 anos concentra 43% das mortes, seguida pela de 30 a 59 anos, com 40%. A desigualdade racial é marcante: homens negros representam 79% das vítimas e têm três vezes mais chances de serem mortos por armas de fogo do que homens não negros.
“A desigualdade racial está no cerne da mortalidade por arma de fogo no país”, afirma Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz. Ela destaca que a violência armada contra homens negros é uma realidade persistente, reflexo das vulnerabilidades estruturais que afetam essa população.
Geograficamente, o Nordeste lidera em homicídios armados, com uma taxa de 57,9 mortes por 100 mil homens, seguido pelas regiões Norte (49,1), Centro-Oeste (27,0), Sul (23,2) e Sudeste (16,1). As vias públicas concentram 50% das ocorrências de homicídios, especialmente entre adolescentes e adultos jovens, enquanto crianças e idosos são mais frequentemente vítimas em suas residências. Essa distribuição reforça como a violência armada é visível e gera impactos na sensação coletiva de segurança.
A pesquisa também enfatiza a importância de compreender as desigualdades raciais como um componente central na formulação de políticas públicas eficazes, buscando reduzir a mortalidade armada e promover maior equidade social.
Impactos da Violência Não Letal
Em 2022, o Brasil registrou 4.702 notificações de violência armada não letal contra homens. A desigualdade racial também se reflete nesses dados: em quatro das cinco regiões do país, homens negros são maioria entre as vítimas. No Norte e Nordeste, eles representam mais de 80% das notificações, enquanto no Sul, os não negros predominam com 65%. No entanto, considerando as taxas relativas, todas as regiões apresentam índices mais elevados de violência armada não letal contra homens negros.
Perfil dos Agressores
A maior parte das agressões armadas é cometida por pessoas não identificadas, correspondendo a 46% dos casos. Agressores conhecidos representam 17% e policiais, 7%. A idade das vítimas também influencia o perfil dos agressores: entre crianças, 32% das agressões são cometidas por pessoas conhecidas. Já entre adolescentes e jovens adultos, policiais respondem por 9% das notificações de violência armada não letal.
Analisar esse cenário colabora para que soluções sejam elaboradas e executadas. “É preciso compreender os diferentes cenários regionais e implementar políticas públicas capazes de atuar sobre diversos fatores de risco, estruturais e conjunturais, que sujeitam a população negra à violência armada”, diz Carolina Ricardo.
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