O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi atrapalhado por um trompetista que tocou a marcha fúnebre de Chopin e a música "Tá na hora do Jair já ir embora" enquanto o político dava entrevista no Senado Federal, no final da tarde desta quarta-feira (26), após virar réu por tentativa de golpe de Estado.
O trompetista responsável se chama Fabiano Duarte, conhecido como "trompetista do PT". Ele tocou as músicas até policiais legislativos tentarem afastá-lo do local. Bolsonaro deixou o prédio do Senado poucos minutos depois.
O ex-chefe do Executivo chegou a rir ao ouvir a música. "Saudade do meu tempo de quartel esse toque de corneta", declarou.
Após virar réu por tentativa de golpe de Estado, Trompetista toca marcha fúnebre e atrapalha entrevista de Bolsonaro.
"Ele riu? Que bom. Ele riu porque está com medo do que vai acontecer com ele. Então ele tem que disfarçar o desespero rindo", replicou Duarte.
O trompetista disse que foi ao Senado celebrar o fato de que o ex-presidente virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. "Estou aqui me manifestando, comemorando porque nesse país ainda há justiça", afirmou.
No Senado, de onde acompanhou o julgamento, Bolsonaro falou a jornalistas por quase duas horas. Ele disse que é alvo de acusações "graves e infundadas".
"Eu espero, hoje, colocar um ponto final nisso aí. Parece que tem algo pessoal contra mim e as acusações são muito graves e são infundadas", afirmou.
Denúncia
O relator do processo, o ministro Alexandre de Moraes, aceitou na íntegra a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Ele foi seguido pelos ministros Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
Com a decisão, será aberta uma ação penal contra o ex-chefe do Executivo, Walter Braga Netto (ex-ministro da Defesa e Casa Civil), Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa), Almir Garnier (ex-comandante da Marinha), Alexandre Ramagem (deputado e ex-diretor-geral da Abin) e Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro).
O grupo vai responder por crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.
Agora, terá início o trâmite da ação penal contra o ex-chefe do Executivo e demais acusados. Somente ao final de todo o processo, que inclui uma série de oitivas e diligências - que podem ser requeridas tanto pela acusação como pela defesa -, será marcado o julgamento que pode sentenciar Bolsonaro. As acusações podem render uma pena acumulada de cerca de 40 anos de prisão.
Em um país ainda marcado pela memória da última ditadura militar (1964-1985), um julgamento contra o ex-presidente, que se declara um nostálgico daquele período, seria histórico.
O suposto plano incluía medidas como a elaboração de um decreto para justificar um "estado de defesa" e, potencialmente, o assassinato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ministro Alexandre de Moraes.
O complô não teria sido consumado por falta de apoio dos principais comandantes do Exército, segundo a denúncia.
A investigação também vincula Bolsonaro aos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando milhares de seus apoiadores invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, uma semana após a posse de Lula.
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