Ministro Alexandre Silveira participou do programa 'Roda Viva'Reprodução / TV Cultura

Rio - As declarações do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sobre a Eletronuclear causaram polêmica entre funcionários da estatal. Na última segunda-feira (24), em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, ele criticou a gestão da empresa, mas elogiou o trabalho do diretor administrativo Sidnei Bispo, que enfrenta uma denúncia de racismo e assédio moral.

Ao falar sobre as obras da usina de Angra 3, em Angra dos Reis, na Costa Verde, o ministro afirmou que apresentou voto para avançar nos estudos do BNDES, através do Conselho Nacional de Política Energética.

“O único sinal que eu coloquei foi o aperfeiçoamento, ou melhoramento, da gestão da Eletronuclear. A Eletronuclear tem uma gestão ineficiente, que deixa muito a desejar. Para que a gente conclua a obra de Angra 3, assim como os militares, com eficiência com velocidade e que a gente avance na fonte nuclear, porque nós não podemos preterir, em especial na era da transição energética e da energia nuclear”, disse.

Questionado sobre Sidnei Bispo e as denúncias feitas contra ele, Silveira se defendeu ao ser apontado como protetor político e elogiou o trabalho do diretor.

“Não existe protegido do ministro. Existem bons profissionais que o ministro procura absorver. Uma das coisas que eu mais acertei foi na escolha da equipe, em especial no ministério. O Sidnei Bispo é um profissional extremamente dedicado, sério. Ele tem defendido aquilo que é interesse do governo, e do Brasil, que é sanear aquela companhia”, afirmou Silveira, que completou: 

“Eu não quero aqui fazer juízo de valor sobre essa denúncia, mas naturalmente ela está sendo apurada no âmbito administrativo da empresa, que é apenas vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Eu espero que, depois de apuradas essas denúncias feitas por alguns servidores com relação a esse profissional, se apurada alguma infração, que seja levada ao ministro e as providências serão tomadas de pronto.”

Sidnei Bispo é acusado de racismo e assédio moral. Segundo relatos, ele teria feito ofensas a um superintendente negro durante reuniões.

Após a entrevista, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica nos Municípios de Paraty e Angra dos Reis (Stiepar) emitiu um comunicado sobre a insatisfação dos funcionários da Eletronuclear com as declarações do ministro.
Para o presidente do sindicato, Cassio Tilico, os funcionários da companhia estão muito insatisfeitos. "Os trabalhadores da Eletronuclear estão de luto. É lamentável a entrevista do ministro Alexandre Silveira no 'Roda Viva'. O silêncio continua perturbando todos os trabalhadores. Angra 3 continua parada! O ministro Alexandre Silveira afirmou que o diretor administrativo indicado por ele é um tremendo sucesso... Os trabalhadores ficaram revoltados com essa entrevista", avaliou Tilico em vídeo publicado no Instagram do Stiepar.
Na gravação, Tilico seguiu criticando a escolha do diretor e afirmou, inclusive, que Sidnei questiona as medidas de segurança adotadas dentro das usinas. O presidente cobrou, novamente, respostas sobre Angra 3.
"O próprio diretor de administração falou à mesa que a operação se utiliza de muletas, chamadas de segurança nuclear. Como um diretor de administração pode colocar em questionamento a segurança nuclear das usinas? Sanear as usinas nucleares é um equívoco por parte do diretor de administração. [Ele] deveria se unir ao seu protetor, Alexandre Silveira, e trabalhar as contas de Angra 3, que traz sério prejuízo aos cofres da Eletronuclear. Queremos Angra 3."

Por meio de material enviado à imprensa, o sindicato também criticou a falta de respostas do Governo Federal sobre o projeto Angra 3, mesmo após o presidente Lula receber uma carta diretamente das mãos dos representantes da categoria.

O sindicato criticou, ainda, as falas de Silveira durante a entrevista e a manutenção do cargo de Bispo, mostrando descontentamento. 

“Ministro, o senhor jamais ouviu os trabalhadores. Não entende a dinâmica do setor nuclear, e seu apadrinhado está destruindo a base operacional da Eletronuclear. Uma hora o senhor diz apoiar Angra 3, na outra, não utiliza sua autoridade para destravar o projeto. Não confie cegamente nos números apresentados por seu diretor: ele pode acabar expondo o senhor a um constrangimento público ainda maior”, diz o comunicado.

A categoria afirmou que as medidas impostas por Sidnei “estão aprofundando as dificuldades da base nuclear e colocando em risco até mesmo as usinas já em operação”. “A insatisfação dos trabalhadores é antiga e amplamente conhecida, e não há justificativa para manter na companhia alguém com esse histórico e com tamanha rejeição interna.”

Para a sindicato, as medidas impostas pela gestão apontam para risco de acidente. “As denúncias existem, são graves e são de conhecimento de todos. O cenário para quem trabalha próximo a esse diretor é vexatório e temerário. O senhor precisa agir imediatamente. Caso contrário, poderá carregar nas costas a responsabilidade pelo primeiro acidente nuclear da história do país. E não haverá como transferir a culpa, apesar dos ataques diários vindos da própria Diretoria de Administração”, finalizou o sindicato, em nota.

Procurado por O DIA para comentar as críticas, o Ministério de Minas e Energia não respondeu aos questionamentos da reportagem até a publicação deste texto. O espaço segue aberto para manifestações.
A reportagem também tenta contato com o diretor Sidnei Bispo.