Segundo direção da escola, a situação seria diferente da contada pela mulher e que o docente pediu desculpas. Declara, ainda, que ações contínuas contra o bullying são realizadas no ambiente estudantil Reprodução/Internet

Depressão não tem sexo, nem idade. É uma doença que deve ser tratada e levada a sério. Em Cabo Frio ,na Região dos Lagos, uma mãe, que preferiu não se identificar, tem lutado, juntamente ao filho, de apenas 14 anos, que sofre do transtorno, contra isso. O menino tem passado por problemas sérios e, em 2019, chegou a tentar cometer suicídio. Desde então, o menor vem realizando acompanhamento psicológico e psiquiátrico, e seguia apresentando melhoras gradativas. Entretanto, em 2022, um fato piorou expressivamente seu estado: o professor de história de sua antiga escola, Colégio Sagrado Coração de Jesus, conforme denúncia, teria o incentivado a se matar.
De acordo com mãe, que também trabalhava na instituição, o caso aconteceu em abril do ano passado, quando o garoto estava dentro de sala de aula. Tudo corria normalmente, até que, de acordo com a denúncia, um outro aluno questionou ao professor se poderia mudar de mesa. Em resposta, o docente teria respondido, em tom de brincadeira, que “não, porque ele era chato”. Foi então que o filho dela se envolveu na zombaria.
O adolescente, que, conforme laudos psicológicos, costumava sofrer bullying e, até mesmo confrontos corporais com outros colegas, após sessões de terapia, estava começando a se sentir à vontade para participar de momentos descontraídos como esses. No caso, o menor teria dito: “nossa, se ele é chato, o que eu seria então?”
Como resposta, o professor teria dito que “para ele não haveria adjetivo, pois era muito chato”. Até este momento, conforme denúncia, tudo corria bem, pois a situação ainda estava com tom de brincadeira. Em seguida, o garoto teria dito: “depois dessa, entrei em depressão profunda”. Foi então que o docente fez uma declaração que, segundo a mãe, abalou profundamente seu filho.
“Ah, então ficasse em casa, entrasse na cozinha, pegasse uma faca e se matasse”, teria dito o professor.
De acordo com o laudo psicológico do menor, o ambiente, naquele momento, parecia de brincadeira e descontração, mas o afetou profundamente.
“O que para muitos poderia ser facilmente esquecido, para ele ficou reverberando em sentimentos negativos, de rejeição e não pertencimento. De acordo com a fala do paciente, ele não entendia como um professor podia ter falado assim. ‘E se eu fizesse o que ele mandou?’, era uma fala recorrente nas sessões”, constatou o laudo.
MÃE AFIRMA QUE PROFESSOR SABIA DA DEPRESSÃO
De acordo com a mãe, o adolescente, que estudou por dez anos no Colégio Sagrado Coração de Jesus, foi diagnosticado com TDAH, depressão e ansiedade generalizada. Em 2019, quando ele cometeu a tentativa de suicídio, ela afirma que pediu ajuda aos colegas, para que o acolhessem. O professor acusado seria um deles.
No caso, conforme relato, o menino tentou se suicidar com uma faca, e, segundo a mãe afirma, esse fato teria sido comentado com o docente.
“Estranhamente agora ele instigou meu filho a cometer suicídio com uma faca”, disse a mulher.
Diante da situação, o garoto prontamente comunicou à sua mãe, que ainda atuava na escola como professora, o que havia acontecido. Em seguida, ele foi encaminhado para orientação educacional da instituição que, de acordo com a mulher, “classificou o fato como um simples desentendimento entre professor e aluno, e nem sequer comunicou à família formalmente”.
Com toda a situação, a mãe do menor, após cinco dias do fato, solicitou a ida da psicóloga dele à escola. Lá, a profissional conversou com a equipe pedagógica e apresentou uma carta aberta, onde pedia por apoio ao adolescente, que estava vivendo um momento difícil.
Após a conversa entre a equipe da escola e a psicóloga, a mãe do jovem exigiu uma retratação por parte do professor. No dia seguinte a esta reunião, o mesmo a fez, mas, segundo denúncia, não teria explicado ao certo a motivação de estar ali, pedindo desculpas.
“Segundo relato do menor, o professor colocou a música Ave Maria, pediu perdão por todo mal que possa ter causado e que não foi sua intenção ofendê-lo. Apesar da atitude, o clima da turma com o jovem tornou-se inóspito e ele continuava se sentindo excluído e rejeitado, através das atitudes em sala de aula e também das mensagens do grupo de Whatsapp da turma, e então começou a não conseguir assistir as aulas do docente”, diz o laudo psicológico do garoto.
Ainda conforme o relatório, o jovem, ao longo de quase todo o mês de maio de 2022, no horário da aula do professor, mandava mensagens aflitas para a mãe, solicitando que o buscasse. Ao todo, de acordo com a denúncia, foram dez faltas, sem que a escola percebesse ou interviesse.
Após fato, o laudo psicológico do menor aponta desmotivação: as notas nas provas, até mesmo em disciplinas que gostava, começaram a cair. Ele também começou a morder suas blusas a ponto de rasgá-las, apresentou dermatite nas pontas dos dedos, bruxismo, espasmos, crises de choro, entre outros sintomas.
Para a mãe do adolescente, a atitude do professor não foi assertiva. “Quando pediu desculpas, ele, no mínimo, tinha que citar a fala dele e dizer para as crianças que não fizessem daquela maneira, que ele tinha agido errado, né. Mas, no momento das desculpas, ele generalizou. Disse que se em algum momento tivesse ele ofendido alguém, pede desculpas. Isso para mim não foi um pedido de desculpas, né? E como a escola não viu da maneira como eu vi, resolvi procurar o Conselho Tutelar”, enfatizou a mulher.
CONSELHO TUTELAR E MINISTÉRIO PÚBLICO FORAM ACIONADOS
De acordo com a responsável pelo menor, o Conselho Tutelar foi acionado e ouviu todas as partes envolvidas, além de um colega de classe que teria praticado bullying contra o jovem.
Ainda conforme a mulher, o órgão se recusou a entregar a cópia do inquérito feito ao professor. Ela disse que lhe foi informado que poderia pegar a documentação na presença de um advogado, mas, mesmo assim, não foi feito.
“Eles leram o procedimento para mim, mas não me deram cópia, só do relatório da escola, que só falava sobre bullying, mas, em momento nenhum cita o que o professor cometeu”, declarou.
Posteriormente, o caso foi arquivado. Foi então que a mulher decidiu procurar pelo Ministério Público, que a orientou realizar um boletim de ocorrência.
PROFESSOR FOI OUVIDO
Diante de toda a situação, a mulher efetuou o R.O. na 126ª DP (Cabo Frio), onde relatou toda a situação.
O professor, que atua na unidade há dez anos, prestou depoimento ao lado de seu advogado. Ele afirma que costuma agir de forma descontraída com os alunos e negou que tenha mencionado ‘faca’ dentro de sala de aula.
No documento apresentado pela mulher, o docente afirmou que o adolescente teria dito que “iria se matar de tanto escrever”, por conta da quantidade de matéria que havia sido passada à turma. Em resposta, ele teria falado: “então se mata, porque preciso escrever”.
Enfatizou dizendo que, durante o tempo que atua no colégio, nunca teve problemas com a forma que lida com os alunos, e jamais recebeu quaisquer reclamações.
Além disso, também no documento apresentado pela mãe, ele afirmou que, ao ser comunicado pela escola, havia pedido desculpas ao aluno. Declarou, ainda, que não havia sido ouvido pelo Conselho Tutelar e finalizou dizendo que não sabia do fato acontecido em 2019, onde o garoto havia tentado se suicidar.
O QUE DIZ A ESCOLA
Conforme a mãe, o professor está sendo investigado, mas continua dando aulas normalmente. “Nenhuma penalidade sofreu em nenhum de seus trabalhos”, frisou.
Diante dos fatos, o O DIA  conversou com o Colégio Sagrado Coração de Jesus, que apresentou uma versão diferente dos fatos.
A instituição explicou que, no caso, o aluno, que foi desmatriculado pouco tempo depois da situação, tinha costume de falar “vou me matar de escrever”, sempre que tinha muita matéria no quadro.
Neste dia, o menor teria dito essas mesmas palavras e, em seguida, o docente teria respondido: “então se mata” e, em seguida, voltado a passar matéria no quadro.
Dias depois, a mãe teria relatado o acontecido à instituição e, segundo afirmam, “valorizado” a situação, já que, no caso, a palavra ‘faca’ não teria sido dita.
O professor foi chamado à secretaria, onde foi realizada uma conversa sobre o caso. Lá, ele contou sua versão sobre o acontecido, afirmando que, em momento algum, teria mandado o garoto se matar com uma faca.
Como a mãe e o adolescente haviam se sentido ofendidos com a fala do professor, o mesmo foi orientado a pedir desculpas, e assim o fez. Entretanto, a mulher não se sentiu satisfeita e buscou o Conselho Tutelar, que foi à instituição e ouviu a equipe e alguns alunos. O professor não chegou a ser ouvido.
Durante conversa com um dos menores, de acordo com a escola, a versão do professor teria sido confirmada. Diante dos fatos, o órgão arquivou o caso.
Até este momento, para a instituição, o caso havia sido resolvido. Entretanto, insatisfeita com a atitude do Conselho Tutelar, a mãe do menor realizou um boletim de ocorrência contra o docente e a instituição.
Todos foram ouvidos na Delegacia de Polícia e o processo segue em andamento. Ainda em depoimento, a instituição afirma que sempre deu um acompanhamento especial ao menor, tendo em vista que ele possuía problemas nas relações interpessoais.
BULLYING
Foi dito ainda, que a escola atua diariamente contra a prática de bullying e realiza constantes atividades em prol da saúde mental para com os estudantes. Que isso está, inclusive, na grade curricular nos estudantes. Além disso, quando se trata de estudantes com laudos e que necessitem de uma atenção maior, o acompanhamento é mais direto.
A instituição afirma que não entende o porquê da situação estar sendo compartilhada à mídia, tendo em vista que todas as ações necessárias sobre o caso foram tomadas pela escola.
Em relação às faltas do menor, foi dito que, pouco depois do fato, ele foi desmatriculado da instituição, logo, não teria como isso acontecer.
Sobre a relação do professor com os alunos, a escola afirma que ele é extremamente querido, e que atua no colégio há, aproximadamente, 12 anos. Que, durante todo esse tempo, nunca foi registrado qualquer problema.
Por fim, ao serem questionados sobre a tentativa de suicídio do menor em 2019, assim como no depoimento do professor de história, a instituição afirma que o caso apenas veio à tona durante o acontecido de 2022 e que, antes disso, nada havia sido informado.