Arte coluna Alem da vida 25 março 2023Arte Paulo Esper

Os chamados livros sagrados, como a Bíblia, o Corão e a Torá, estão repletos de passagens que remetem à comunicação com os espíritos. Ricardo Baraviera foi preciso na sua análise, onde capta trechos que não deixam dúvidas: “Não extingais o Espírito; não desprezeis as profecias” (I Epístola de Paulo aos Tessalonicences 5:19-21); “Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem para ver se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo” (I Epístola de João 4:1)
O fenômeno mediúnico expressou-se em todas as culturas ao longo da História, destaca Baraviera. Esse fenômeno, contudo, sempre foi frequentemente negado. O Velho Testamento, por exemplo, é repleto de fenômenos mediúnicos. Em Gênesis 18, o patriarca Abraão é visitado por três anjos, descritos como “varões”, sem qualquer referência à figura que se tornou comum, a de anjos com asas, mas com a mesma compreensão da visão espírita: o que se chama de anjo são apenas espíritos purificados, e não seres à parte na criação.
Espíritos, sejam ou não angelicais, não são visíveis aos encarnados, de modo que, para os enxergar, só os médiuns videntes, salienta Ricardo Baraviera. Outra possibilidade, segundo ele, é a materialização do espírito. No mesmo capítulo de Gênesis, Abraão conversa com Deus. Dialogar diretamente com o Criador (como também aconteceria a Moisés no Sinai), parece pouco provável para muitos. À luz do Espiritismo, é mais lógico que tal diálogo tenha se dado com um espírito iluminado, de acordo com a vontade de Deus. Afinal, um emissário de Deus tem autoridade para falar por Ele.

É a mesma confusão que se faz quando Jesus nos diz que ele e o Pai são um só. Jesus é um espírito que já compreendeu a vontade do Pai, e por isso, quando fala, é como se o próprio Deus falasse. Poderia ser Abraão também médium auditivo.

A previsão do futuro é um modo de mediunidade, sendo bastante comum no Velho Testamento, especialmente no que se refere às predições da vinda do Messias. Mas o Novo Testamento contém todo um livro profético, o Apocalipse de João, oriundo de uma espécie de sonho, quando o apóstolo recebeu informações do plano espiritual.
No Velho Testamento encontra-se a célebre proibição de Moisés quanto à comunicação com os espíritos, frequentemente utilizada por aqueles que não aceitam que o Espiritismo seja uma doutrina cristã. Ora, se a comunicação não fosse possível, Moisés não a teria proibido, e se somente espíritos inferiores (“demônios”) se comunicassem, então Deus nos teria deixado à mercê de tais entes, sem oferecer uma saída, retirando-Lhe uma de suas maiores características: a misericórdia.
Ricardo Baraviera lembra Buda, que passou por um processo de iluminação. Ainda chamado Siddhartha Gautama, o príncipe deixou o palácio e tomou contato com a realidade da vida, comovendo-se especialmente ao ver um monge que fizera voto de pobreza. Buda, ao deixar o palácio, inicia então, a sua jornada de transformação. Toda mudança é um processo. Paulo de Tarso, por exemplo, viu Jesus às portas de Damasco, mas precisou de anos para tornar-se um apóstolo.
No Espiritismo, o médium entra também em um estado especial de consciência para sintonizar-se com o plano espiritual, o que chamamos de transe mediúnico. É possível que Buda tenha mantido contato com a espiritualidade superior nesse transe, a ele sendo relatadas verdades ocultas aos encarnados.
Muitas vezes, a espiritualidade nos toca fazendo-nos observar uma cena cotidiana que nunca havíamos percebido, ou nos levando a olhar com o devido cuidado para a dor de uma pessoa. Às vezes, puxamos uma conversa inesperada e alguém nos relata sua dor, permitindo-nos a oportunidade de auxílio. Por isso, como ressalta Baraviera, precisamos ficar atentos para os sinais dos pedidos de ajuda, pois a verdadeira caridade persegue a dor do próximo, ao invés de aguardá-la.
A história do persa Zoroastro (também conhecido como Zaratustra), é também outro exemplo. Um sacerdote notou que, desde o nascimento, Zoroastro era uma criança diferenciada. A personalidade da criança foi considerada perigosa para o poder e as religiões daquela época. A criança foi levada ao fogo, mas nada teria sofrido. Não satisfeito, o sacerdote persa colocou o menino à frente de uma boiada, mas o primeiro boi parou em frente ao jovem e desviou os outros animais. O garoto foi ainda foi colocado na toca de uma loba que, ao invés de devorá-lo, o protegeu.
Mito ou história? O que podemos dizer é que situações similares são relatadas a respeito de Paulo de Tarso que, picado por uma cobra, nada sofreu. Ou Santa Clara, cuja família tentou retirá-la do convento, mas a missionária ficou rígida e pesada, de modo que diversos homens não conseguiram mover seu corpo. Na Bíblia, temos o profeta Daniel, lançado aos leões, mas encontrado ileso na manhã seguinte.
Um corpo comum não sobrevive às chamas ou fica indiferente ao veneno de uma cobra. Algum fenômeno mediúnico há que ter ocorrido, protegendo o corpo carnal. E que dizer do animal que protegeu Zoroastro? Ao que tudo indica, interferências espirituais dirigiram o animal, assim como o lobo pacificado por Francisco de Assis deixou de incomodar os moradores de Gubbio.

Na próxima semana, continuaremos analisando algumas passagens pelos ditos livros sagrados, onde é inequívoca a comunicação com os espíritos.
Átila Nunes