Imaginei que o conselho fosse direcionado aos meses de gestação de uma nova vida. E voltei a refletir sobre a intensidade da exclamação: o tempo passa rápido!Arte: Paulo Márcio

O fim do ano já surgia pelo caminho quando entrei certo dia em uma farmácia em Duque de Caxias, na Baixada. Ao me dirigir ao balcão de medicamentos, reparei que uma mulher grávida acariciava a barriga enquanto se despedia de uma funcionária do local, que lhe dizia: “Aproveita que passa rápido!”. Imaginei que o conselho fosse direcionado aos meses de gestação de uma nova vida. E voltei a refletir sobre a intensidade da exclamação: o tempo passa rápido!
Essa, aliás, foi a constatação que ouvi de uma funcionária do caixa de um supermercado nessa mesma cidade onde nasci e cresci. Enquanto ia passando as compras na esteira, ela me falava da sua percepção de que hoje em dia o ritmo é outro. Afinal, o ano voou! É o que costumamos dizer na reta final de mais um ciclo coletivo. Basta novembro aparecer no caminho para pensarmos nos meses que ficaram para trás e colocarmos na balança se esse período foi feliz ou não. Já pensei assim por muitos anos até que descobri que tempos não são lineares. Em um ano, há momentos felizes e outros tristes, planos concretizados e outros frustrados, surpresas boas e outras ruins. Posso dizer que 2024 foi exatamente assim para mim.
Curiosamente, da mesma forma como o ano voou, eu me lembro de momentos tristes em que o tempo se arrastava. Como pode mais de 300 dias terem passado tão rapidamente se alguns desses instantes pareciam intermináveis? A percepção da miudeza de um momento é mesmo diferente do todo.
No comércio da minha cidade, as caixinhas de fim de ano também logo denunciavam a chegada do Natal. São embaladas com papel de presente e enfeitadas à espera de uma gorjeta. Em um estacionamento, tinha até cartinha dos funcionários em agradecimento aos clientes. Eu saí clicando!
Voltando ao mercado, as estações da vida também se mostraram evidentes ali, com a presença da ameixa vermelha na seção de frutas, avisando sobre a chegada das festas.
Sim, o ano parece que passou voando! Foi o que senti em outra ida às compras, no mesmo lugar, novamente na hora do pagamento. Desta vez, eu me deparei com um rapaz que também trabalha no caixa. Já até decorei seu nome. Olhei para ele e me lembrei de que, em dezembro do ano passado, ele me contava sobre a sua aposta na Mega da Virada e dizia que, se o clientes notassem sua ausência por lá após o Réveillon, já saberiam que ele teria sido um dos sortudos.
Revivi essa lembrança com ele quase um ano depois e rimos do nosso insucesso no jogo — eu entrei no bolão do trabalho, mas só ganhei experiência, como dizem por aí. Na hora de passar as compras, no entanto, notei que dois meninos aguardavam atrás de mim. Eles estavam com poucos produtos nas mãos. Carregavam bolos prontos, leite de condensado e mais alguma coisa. Deixei que passassem na minha frente, e um deles disse: “Obrigado, tia!”. E isso escancarou que o tempo passa rápido mesmo: eu era adolescente outro dia e hoje sou chamada de tia por garotos mais jovens e também mais altos do que eu.
Fiquei atenta ao bate-papo deles com o rapaz do caixa, o mesmo da Mega da Virada, que já os conhecia, e descobri que os meninos estavam comprando as guloseimas para o passeio da escola no dia seguinte. Eles se lamentaram um pouco de precisar acordar cedo e falaram algo sobre alguma caminhada durante a atividade do colégio. Tinhamuma certa preguiça, mas aposto que devem ter se divertido. Logo eles pegaram os itens e se despediram me agradecendo mais uma vez. Dei tchau para eles, mas a minha vontade era ter tido: aproveitem porque passa rápido!