Por trás da aparência, a realidade repulsiva: bacon com fezes de ratoFoto: reprodução

O carioca tem no hábito de comer fora quase uma extensão da vida cotidiana. Do milho da pipoca na esquina ao sashimi servido em restaurante de shopping, o prato chega bonito, cheiroso, organizado. Mas por trás da vitrine arrumada pode estar escondido um veneno silencioso.

Nos últimos dias, três operações diferentes mostraram como a procedência dos alimentos no Rio é cada vez mais uma incógnita.

Barra da Tijuca: sushi vencido no shopping de luxo

No dia 28 de agosto, o flagrante foi em endereço nobre. O restaurante japonês Benkei, dentro do BarraShopping, um dos mais movimentados da Zona Oeste, foi alvo da Polícia Civil.

No local, agentes encontraram “peixes, camarões, carne bovina e frango vencidos e sem identificação de validade”. O gerente e um cozinheiro foram presos em flagrante por crime contra a relação de consumo. Hoje, dia 10 de setembro, o restaurante foi reaberto após nova vistoria da Vigilância Sanitária, que autorizou o funcionamento. A reabertura, no entanto, não apaga a gravidade do flagrante anterior.
São Cristóvão: bacon com fezes de rato

No dia 3 de setembro, um depósito clandestino na Rua Ceará, em São Cristóvão, foi interditado. No local, a Prefeitura apreendeu 115 quilos de alimentos impróprios, entre eles sacolés sem identificação, milho de pipoca mal armazenado e pedaços de bacon “contaminados com fezes de rato”. Dez carrocinhas também foram recolhidas.

Centro do Rio: meia tonelada de alimentos suspeitos

Ontem, dia 9 de setembro, foi a vez do Centro do Rio entrar na lista. Um depósito clandestino na Rua Visconde do Rio Branco armazenava “mais de 500 quilos de alimentos de procedência duvidosa”, entre eles bebidas, pipoca, farinha, milho, presunto e queijo. Todos estavam mal embalados.

Além da carga, foram apreendidas “50 carrocinhas e triciclos” usados para abastecer ambulantes irregulares na região central. Tudo foi descartado.

O “bonitinho” que disfarça o podre
Na pressa, na confiança ou até na ilusão, o consumidor não consegue enxergar além da vitrine. “O prato chega arrumado, o cheiro convence, a cor engana. Mas por trás pode haver contaminação, descaso ou até crime contra a saúde pública.”

E o mais assustador é perceber que “não há diferença entre o cachorro-quente da esquina e o sushi de shopping de luxo”. Ambos podem estar contaminados, ambos podem colocar em risco a saúde de quem consome.

A fiscalização que não pode ser só de ocasião

São Cristóvão, Barra da Tijuca e Centro. Três pontos diferentes, três escândalos em menos de duas semanas.
Se as operações pontuais revelaram o problema, fica a dúvida incômoda: “e o que não é flagrado?”

O consumidor continua à mercê de uma roleta russa alimentar, onde cada garfada pode ser um ato de fé.


Reflexão final

Do bacon com fezes de rato ao sushi vencido, passando pela meia tonelada de produtos suspeitos no coração da cidade, o Rio de Janeiro escancara uma verdade amarga: “o bonitinho pode matar”.

No prato do trabalhador, no lanche do torcedor ou no jantar sofisticado em um shopping de luxo, a aparência não garante nada. A lição é direta: “procedência importa e precisa ser cobrada todos os dias.”