No Dia Mundial de Luta contra a Aids, Haysam Ali revisita a dor e a coragem de uma geração ao viver Prior Walter em "Angels in America", com cena de nudez integral que expõe as marcas da doença e promete emocionar o públicoFoto: Divulgação
Haysam Ali encara nudez e emoção em nova montagem de 'Angels in America' nos EUA
Ator brasileiro vive Prior Walter em produção que revisita a epidemia de AIDS nos anos 1980 e aposta em cena de nudez integral para expor, sem filtros, as marcas da doença e a força de uma geração
Neste 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta contra a Aids, a história de quem enfrentou de frente o estigma e a dor da doença ganha um novo capítulo nos palcos. Prestes a dar vida a Prior Walter na aclamada peça “Angels in America”, Haysam Ali se prepara para um dos maiores desafios de sua carreira em uma nova montagem nos Estados Unidos, com estreia marcada para 4 de dezembro. Depois de passar por uma sequência de testes, o ator conquistou o papel central da obra de Tony Kushner e aceitou encarar, pela primeira vez, uma cena de nudez integral em cena.
Na produção, Haysam ficará completamente despido em um trecho que se passa em um consultório médico. Ali, Prior expõe as manchas no corpo provocadas pelo agravamento da AIDS, em um momento em que o personagem já está fisicamente debilitado e emocionalmente em ruínas. A cena, que integra o terceiro e último ato da peça, com cerca de três horas de duração, promete ser um dos pontos mais impactantes da montagem.
“Eu assisti à série da HBO, li o texto e acompanhei a montagem em que Andrew Garfield interpreta esse trecho crucial com a doutora Emily. Quando assumi o papel, aceitei a proposta de realizar a nudez porque não é algo gratuito. Há um contexto muito forte ali, mostra a deterioração da doença naquela época. Confesso que me emocionei com esse momento. Fiquei arrasado ao pensar nas pessoas que realmente viveram isso. Apesar de ser uma obra de ficção, é algo que mexe profundamente comigo”, conta o ator.
Para além do desafio físico em cena, Haysam mergulhou em um intenso processo de preparação. Conversou com pessoas soropositivas e com familiares que viveram a epidemia de AIDS nos anos 1980 e 1990, em busca de entender a dimensão humana e histórica por trás da trajetória de Prior Walter.
“Esses encontros me transformaram. Ouvir relatos reais me fez perceber o tamanho da dor e da coragem que essa geração carregou. Entendi que não estou interpretando apenas um personagem, mas também honrando memórias”, afirma.
Personagem central de “Angels in America”, Prior Walter é um jovem gay que vive em Nova York nos anos 1980 e recebe o diagnóstico de AIDS em meio a um cenário de preconceito, abandono e medo. Sensível e espirituoso, ele enfrenta a progressão da doença, o afastamento do parceiro Louis Ironson e uma série de visões sobrenaturais, incluindo a aparição de um anjo que o proclama profeta. Sua jornada, física e espiritual, simboliza a luta de uma geração marcada pela epidemia e pela marginalização da comunidade gay.
Embora a peça seja coral e traga figuras poderosas como Joe Pitt e Roy Cohn, é em Prior que se concentram as dimensões mais místicas e humanas da obra. Não por acaso, “Angels in America” se tornou um marco do teatro contemporâneo desde sua estreia nos palcos de Nova York, em 1991, ganhando o mundo e inspirando diversas adaptações.
Uma delas é a minissérie homônima da HBO, lançada em 2003 e escrita pelo próprio Tony Kushner. A superprodução reuniu um elenco estrelado, com nomes como Al Pacino, Meryl Streep, Emma Thompson, Patrick Wilson e Justin Kirk, intérprete de Prior Walter na TV. Em 2004, a obra fez história ao conquistar 11 prêmios Emmy, incluindo Melhor Minissérie, e o Globo de Ouro de Melhor Minissérie ou Filme para TV, consolidando-se como uma das produções mais premiadas e influentes de seu tempo.
Agora, em plena data símbolo da luta contra a Aids, Haysam Ali se soma a essa linhagem de intérpretes que ajudam a manter viva a força de “Angels in America”. Em cena, seu Prior Walter despido não é apenas um corpo nu, mas o registro brutal de uma época e um convite à empatia diante de cicatrizes que ainda ecoam na memória coletiva.

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