Ao longo da vida, vi muita gente tratar o dinheiro como inimigo. É comum ouvir “dinheiro não é tudo”, e é verdade; ainda assim, ele está presente em quase tudo: nos estudos dos filhos, no remédio do idoso, no aluguel do começo de carreira, no investimento que viabiliza um sonho antigo. O dinheiro atravessa a vida; por isso, precisa ser colocado no lugar certo: instrumento, não ídolo; servo, não senhor.
A Bíblia é direta: o problema nunca foi o dinheiro, mas o amor ao dinheiro (1Tm 6:10). O apego desordenado escraviza; a boa administração liberta. Jesus também nos ensina sobre fidelidade nas coisas “pequenas” (Lc 16:10–11): quem governa bem o pouco adquire estrutura interior para o muito. Ou seja, antes de falar de quantias, falamos de caráter. Antes de números, falamos de governo pessoal.
Grande parte da nossa relação com o dinheiro nasce em casa. Repetimos padrões: o medo de faltar, o impulso de compensar frustrações comprando, o silêncio que transforma finanças em tabu, ou a fantasia de que “um dia eu dou um jeito”. Se os seus pais tinham uma relação tensa com dinheiro, isso pode ter virado lente. A boa notícia é que lentes podem ser trocadas. Crenças aprendidas não são destino; são ponto de partida para escolhas novas.
O primeiro passo é retirar o dinheiro do campo da culpa e colocá-lo no campo da consciência. Não é sobre quem ganha muito ou pouco, é sobre como você trata proporcionalmente o que recebe. Quem organiza o salário mínimo com disciplina, constrói mais futuro que quem desperdiça um grande contracheque. Provérbios nos lembra: “Os planos do diligente tendem à abundância” (Pv 21:5). Diligência aqui não é dureza; é direção. É escolher um norte e sustentar hábitos que apontem para ele.
Assumir o comando exige trocar frases que nos paralisam por decisões que nos movem. “Não entendo de finanças” vira “vou aprender o básico que me protege”. “Nunca sobra” torna-se “vou guardar antes de gastar”. “Não é para mim” se transforma em “posso começar pequeno, hoje”. A mudança é mais de ritmo do que de milagre. Aliás, o milagre costuma visitar quem respeita processos.
Se você não teve chance de aprender, comece pelo simples e confiável: assista a boas palestras, estude conteúdos introdutórios, entenda juros, prazos e riscos. Aprenda a diferença entre gastar e investir, entre desejo e necessidade, entre preço e valor. Monte um orçamento honesto (sem autoengano), reduza gastos que não conversam com o seu propósito, crie uma reserva — o famoso “colchão” que dá fôlego e baixa a ansiedade — e só então pense em multiplicação. Domínio primeiro; crescimento depois.
Há uma regra silenciosa que muda a vida: pague a si mesmo antes de pagar o mundo. Separar uma parte logo que o dinheiro entra ensina o coração a não depender do impulso. Outra prática: nunca opere no limite. Limite é emergência disfarçada de normalidade. Quando vivemos cravados no teto, qualquer vento vira tempestade. Uma margem de segurança não é luxo; é prudência. “Honra ao Senhor com os teus bens” (Pv 3:9–10) começa na honra à verdade: saber quanto entra, quanto sai, quanto fica, e por quê.
Também é essencial dar ao dinheiro um sentido. Recursos sem propósito viram só números; com propósito, viram caminho. Para quê você quer prosperar? Para estudar mais? Abrir um negócio? Amparar a família? Sustentar uma causa? Apoiar a igreja e ações sociais? Quando o dinheiro serve ao propósito, ele perde poder de nos dominar. Nós o orientamos; ele nos obedece. E quando obedecemos princípios — trabalho honesto, generosidade responsável, prudência nas dívidas, constância nos hábitos — colhemos paz, que vale mais do que qualquer extrato.
Talvez hoje você esteja cansado, dizendo a si mesmo que “não dá”. Dê um passo pequeno, mas real. Escolha um gasto para cortar e direcione esse valor para a sua reserva. Escolha uma dívida para negociar e faça disso uma vitória concreta. Escolha um conteúdo confiável para estudar esta semana e anote três aprendizados. Escolha uma conversa franca em casa para alinhar expectativas e combinar regras simples. O amanhã melhora quando o hoje ganha um gesto.
Quem o transforma em aliado experimenta liberdade onde antes havia medo. Deus nos deu a capacidade de administrar — não para nos tornarmos reféns do ter, mas para servirmos melhor com o que temos. Não é sobre ostentar riqueza; é sobre administrar bem. Pense nisso, e comece hoje — pequeno, consistente, com propósito. O resto, a vida confirma.
Vamos Orar Senhor, ensina-me a colocar o dinheiro no lugar certo: como servo, não senhor. Dá-me sabedoria para administrar, generosidade para repartir e disciplina para guardar. Que cada recurso sirva ao Teu propósito e promova paz, não ansiedade. Em nome de Jesus, amém.
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