A educação é um dos principais fatores determinantes da melhoria do padrão de vida de uma pessoaJosé Cruz/Agência Brasil

Dona Mercedes criou os cinco filhos com muito sacrifício, lavando roupa para famílias de um bairro próximo. Casada e viúva ainda muito cedo, trocou os estudos pelo trabalho, equilibrando o orçamento doméstico, vivendo um dia de cada vez. Mas teve a felicidade de ver a filha mais velha, a Camila, formar-se em Pedagogia e ser aprovada num concurso público.
Casos como este ilustram um fenômeno que chamamos de “mobilidade social”. Acontece quando indivíduos ou grupos se movimentam dentro de uma estrutura social em relação à sua posição socioeconômica. Em outras palavras, é a capacidade de as pessoas mudarem de classe social ao longo do tempo — seja para cima (ascensão) ou para baixo (descensão).
Na análise sobre desenvolvimento e qualidade de vida de um município, estado ou país, a mobilidade social é um componente necessário, que vai muito além do Produto Interno Bruto (PIB) ou de indicadores como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Índice de Progresso Social (IPS). Porque a realidade de um determinado território é dinâmica. Assim sendo, retratos de um momento nem sempre traduzem a realidade. Faria mais sentido falar em filme do que em fotografia.
Para quem quiser conhecer melhor o tema, indico o Atlas de Mobilidade Social. Desenvolvido pelo Instituto de Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), ele atribui, a cada município do país, a probabilidade de os filhos, quando adultos, terem uma renda pelo menos 10% maior que a dos pais. A publicação também se aprofunda na análise sobre os fatores que levam à ascensão ou descensão, utilizando informações sobre declarações do Imposto de Renda, Registro Anual de Informações Sociais (RAIS), Cadastro Único (CadÚnico), Bolsa Família e dados de pesquisas domiciliares do IBGE.
No estado do Rio de Janeiro, entre os municípios com mais de 200 mil habitantes, lideram o ranking: Campos dos Goytacazes e Itaboraí, com um percentual de probabilidade de mobilidade social de 49%. Em seguida, estão Volta Redonda (48%), Macaé (47%), Magé (47%), Belford Roxo (44%), São Gonçalo (43%), Duque de Caxias (43%), Niterói (43%), Petrópolis (43%), Rio de Janeiro (42%), Nova Iguaçu (42%), São João de Meriti (42%), Cabo Frio (42%), Maricá (42%) e Nova Friburgo (42%).
Estudioso de estatística, o geógrafo e professor William Passos analisa que os principais determinantes da melhoria do padrão de vida de uma pessoa são as oportunidades econômicas, o nível de renda dos pais, o grau de apoio familiar (em casos financeiros), o acesso a uma rede de proteção social, com programas de transferência de renda, e, especialmente, o grau de escolarização do indivíduo; isto é, o fato de uma pessoa ter ensino fundamental completo ou diploma de ensino médio, superior ou pós-graduação.
Por isso, uma economia que gera empregos e uma sociedade que apoia o empresário e as pessoas em situação de vulnerabilidade são tão importantes, assim como o investimento em educação — desde a primeira infância até a pós-graduação. Mais do que os demais fatores, a educação garante a independência econômica do indivíduo e aumenta as suas chances de alcançar um padrão de renda superior ao dos próprios pais.
Foi exatamente o que aconteceu com a Camila, que transformou as dificuldades da infância em motivação para conquistar seu espaço. Seu avanço representa não apenas uma vitória pessoal, mas também a esperança de que políticas públicas bem executadas podem abrir caminhos mais promissores para as próximas gerações. É assim que a mobilidade social se materializa — quando o futuro se torna maior que o passado.