Angélica Laureano e Magda Chambriard: na diretoria executiva da Petrobras, as mulheres agora são maioria João Mário Nunes-TBG
Elas merecem estar no topo
A presença feminina avança na liderança corporativa. É sinal de que as empresas apostam na equidade. E que competência não têm gênero.
Embora sejam maioria da população, as mulheres ainda caminham com passos cautelosos — e muitas vezes solitários — rumo ao topo das estruturas de poder. Elas são as que mais estudam, as que mais cuidam, as que mais conciliam, mas ainda enfrentam portas entreabertas quando o assunto é liderança nas empresas.
Por isso, a nomeação da engenheira Angélica Garcia Cobas Laureano como diretora executiva de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras é uma excelente notícia, que representa um momento simbólico na maior companhia brasileira. Pela primeira vez, a diretoria executiva da Petrobras tem mais mulheres do que homens. São cinco, incluindo a presidente, Magda Chambriard, entre nove integrantes. Um feito raro em qualquer empresa brasileira, e quase inédito no universo corporativo de grandes companhias listadas na bolsa.
Não se trata de favoritismo. Trata-se de corrigir um desequilíbrio que, por décadas, foi visto como normal. Um estudo da B3 mostrou que, em 59% das empresas listadas na bolsa em 2024, não há sequer uma mulher na diretoria. Elas já são maioria entre os diplomados no ensino superior. Mesmo assim, são apenas 39,3% nos cargos de gerência, segundo o IBGE. Ganham menos — 20,7% menos, em média — mesmo quando ocupam as mesmas funções, com a mesma qualificação. E ainda dedicam quase o dobro do tempo aos cuidados domésticos.
Quando chegam lá, são bem avaliadas. Mais confiáveis, mais próximas, mais conhecidas por suas equipes. Em 2023, segundo pesquisa da FIA Business School, 79% dos funcionários disseram confiar plenamente em suas CEOs — enquanto, entre os CEOs homens, esse número caiu para 72%.
É muito bom ver que a maré está mudando. Em empresas reconhecidas como excelentes lugares para se trabalhar, metade já conta com programas estruturados voltados ao desenvolvimento das mulheres. Algumas monitoram diferenças salariais, outras criam comitês para discutir liderança feminina. Os dados ainda são tímidos, mas o movimento é claro: elas estão chegando, e quando chegam, mostram a que vieram.
Exemplos positivos começam a surgir em diferentes setores e regiões. A Ferroport, por exemplo, que opera no Porto do Açu com foco na exportação de minério de ferro, tem se destacado por adotar políticas consistentes de equidade de gênero. A empresa atua com metas de inclusão e promove o crescimento profissional das colaboradoras, contribuindo para um ambiente corporativo mais equilibrado e diverso — mesmo num setor historicamente masculino, como o da mineração. É um bom sinal de que a transformação não está restrita às grandes metrópoles ou às empresas públicas, mas pode (e deve) alcançar todos os segmentos.
A nomeação de Angélica Laureano é um símbolo dessa virada. Numa empresa de peso, em uma área de futuro — a transição energética —, a escolha de uma mulher envia uma mensagem poderosa: competência e liderança não têm gênero. E diversidade, além de justa, é inteligente. As empresas que entenderem isso mais cedo não estarão apenas fazendo o certo. Estarão se preparando melhor para o futuro. Afinal, se as mulheres já fazem tanto com tão pouco espaço, imagine o que podem fazer quando finalmente tiverem a chave da sala da diretoria.

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