É surpreendente a capacidade de Lula – e a frequência! – com que vem nos brindando com disparates. Poupo-me de enumerar os anteriores. Mas o último na linha de “esse negócio de democracia é relativo”, em que mal disfarça o apoio a Maduro, a quem deu direito a tapete vermelho, é realmente patético. Ainda me recordo de uma declaração dele, de muitos anos atrás, dizendo que havia aprendido com Marx que o motor da História era a luta de classes. Motor enguiçado, é claro. A China e a ex-URSS já se livram dele faz tempo, mas Lula continua encantado com o socialismo venezuelano.
Vera Magalhães, em 30/06/2023, no Globo, intitulou sua coluna com as seguintes palavras: “Democracia não é relativa”. E denuncia Chaves e Maduro, arrolando os crimes seriais cometidos por ambos como censura à imprensa, presos políticos, aparelhamento das forças armada, do Legislativo e do Judiciário. Ainda não havia ocorrido a cassação da candidatura à presidência de Maria Corina Machado, líder nas pesquisas eleitorais.
O tom do artigo de Vera Magalhães é curioso, pois ela relembra a Lula que muita gente que votou nele por exclusão. Rejeitavam Bolsonaro. Segundo ela, os riscos corridos pela democracia brasileira levaram muitos eleitores a sufragar o nome de Lula. Em momento algum, tocou nas reiteradas declarações de Lula a favor do controle social dos meios de comunicação. Todo mundo sabe que este é o primeiro passo para pôr a caneta da censura na mão governo.
A defesa da democracia, que estaria em risco, propalada por boa parte da grande mídia, supõe que o Brasil vive numa plenitude democrática. Um teste simples seria fazer uma pesquisa com eleitores dos EUA, Canadá e países europeus lhes fazendo a seguinte pergunta: “Gostaria de viver e votar num país em que não há voto distrital puro (ou equivalente) e recall, a possibilidade de revogação de mandatos?”.
A boa notícia é que é desnecessário fazer tal pesquisa porque a resposta é óbvia. E seria um redondo (e exclamativo) não! A longa tradição democrática desses povos os levaria à recusa por saberem que sem tais dispositivos de controle de seus representantes eles perderiam o controle sobre eles no longo período entre as eleições, que é o que torna a democracia efetiva. No Brasil, é apenas o direito de votar a cada dois ou quatro anos até a próxima enganação.
Não temos um dispositivo que permita o exercício da democracia de baixo para cima. O voto do colégio eleitoral nos EUA elege um presidente que não ganhou a disputa no voto popular. O candidato que ganha em determinado estado recebe para si todos os votos daquele colégio eleitoral. Foi uma fórmula definida pelos pais fundadores da democracia americana de tal forma que ela pudesse ser de baixo para cima. Infelizmente, não é o caso brasileiro.
Como perdemos o instituto do poder moderador desde 1889, nunca usado para oprimir o povo, mas sim, para coibir os desmandos do andar de cima, ficamos órfãos de dispositivos capazes de garantir a real democracia. É o óbvio ululante do Nelson Rodrigues a que não damos ouvidos. Até quando?
Nota: No Google, “Dois Minutos com Gastão Reis: Humildade para aprender”. Ou pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=s_oAVkiL6nU&t=6s
* Gastão Reis: é economista e palestrante
Autor: Gastão Reis Rodrigues Pereira Empresário e economista . E- mails: gastaoreis@smart30.com.br// ou gastaoreis2@gmail.com Contatos: (24) 9-8872-8269 ou (24) 2222-8269
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