No auge da novela "O Direito de Nascer", que estourou a audiência da Rádio Nacional, lá pelas bandas de 1951, o governo federal decretou um apagão diário. Não lembro o período da interrupção do fornecimento da energia elétrica. Era um racionamento de uma ou duas horas diárias, por aí. Mas, às 19 horas, quando começava o programa "A Voz do Brasil", uma espécie de amostragem de obras e outras informações do governo, o fornecimento era restabelecido. Em troca de entubar ouvido adentro a propaganda oficial, os ouvintes ganhavam o direito de assistir, e aguardavam impacientes, o começo, às 20 horas, da novela mexicana. As desventuras do personagem Albertinho Limonta, podem crer, eram mais importantes que A Voz... Na minha lembrança, foi o primeiro apagão que o país enfrentou.
Mas, quarenta anos depois, aqui no Principado da Água Santa, apagão era apelido do corte para os inadimplentes. Mas, aqueles eram flagrados pelos fiscais da Light com gatos e tinham os relógios lacrados também eram apontados nas ruas como apagados.
O Hélio Tatu, velho amigo que partiu antes do combinado, nos papos descontraídos na esquina, sempre se gabava de não ter gatos em casa. Pronto, a conversa virava chacota da rapaziada. O Jorge Arara era sempre o primeiro a gozar o Hélio: - Pois eu tenho um gatinho e não me arrependo.
Bem, amigos, para encurtar o papo, Jorge foi um dos primeiros, que lembro, que sofreu o apagão aqui na área. A Light cortou a energia da casa dele. Um funcionário da concessionária, que era o marcador da empresa, chegou a comentar comigo, como sabia quem tinha ligação clandestina. Vejam os detalhes: -
Seu Luar, quando chego para verificar o consumo do mês, o morador sempre pede para eu aguardar.
Curioso, perguntei: - Por que? E ele respondeu: - A desculpa dos trambiqueiros é sempre a mesma... Vou prender o cachorro, mas eles iam é desarmar o gato.
Mas é bom lembrar, os inadimplentes, que entravam no corte do fornecimento, estavam sempre de carona na ligação dos vizinhos. E foi assim que o gato pagou o pato e ganhou a fama de bandido no dito popular. Até tevê a cabo clandestina virou gatonet. Por isso, quando ouço falar em apagão, lembro de outro dito popular: Tem gato na tuba!