Arte Paulo Márcio / O DIA

Vou reservar uma considerável quantia de uma poupança imaginária para adquirir uns oito produtos anunciados em algumas emissoras de tevê. Nenhum deles é chamado de medicamentos. Mas, as propagandas são irresistíveis. Curam tudo o que podemos ter de mal em nossos organismos. Só não achei uns que provocam nova dentição e, ou, o nascimento de cabelos. Ah, e se o telespectador for um dos 50 primeiros a encomendar, e pagar, tem 50 por cento de desconto. Curam tudo! Impotência, dores nas juntas, preguiça, mau humor, dores nas pernas e na coluna e por aí vai. Nunca mais o doutor Adolfo vai me ver.
Lembrei dos velhos comerciais da minha infância. Lembram do "Rhum Creosotado"? O mais famoso nos anos 50, 60, imortalizado em cartazes em todos os bondes do Rio: "Vejam, ilustres passageiros, o belo tipo faceiro que está ao seu lado. No entanto, acredite, quase morreu de bronquite, salvou-o o Rhum Creosotado". Ih, vendia aos baldes.
Os produtos milagrosos de agora têm algo em comum: não são vendidos em farmácias ou drogarias. As "garotas" e "garotos"-propaganda contam vantagens sobre os resultados maravilhosos dos "produtos". Dá inveja de ver. Dá até desejo de pular corda, correr, pedalar, e outros mais íntimos. Um leitor da Histórias do Luar me passou um ZAP, contando que pagou um dinheiro por um destes "produtos". Depois do segundo ou terceiro frasco, notando que nada mudou em sua saúde, procurou o médico que o acompanha desde quando o América
era campeão carioca de futebol.
– Doutor, comprei isso aqui. Nada aconteceu. E o que o senhor acha? – O médico o aconselhou a jogar fora o que restou. E bateu o martelo: – Assuma sua idade. Tenha vida saudável, sem abusos da alimentação e bebidas. A velhice só dá em quem ainda está vivo... – pronto.
Esses produtos trazem nos rótulos dos frascos a saída técnica: complemento alimentar. São compostos com ervas medicinais, indicados para um sem-número de problemas. As mensagens dos "garotos-propaganda", entretanto, é que induzem a delírios de curas.
Essas ervas eu tenho no quintal. Claro que, aqui, o boldo jamais falta. Vizinhos e vizinhas, vez por outra, aparecem para - pegar umas folhas" - do ora-pro-nóbis à erva cidreira. Ih, não vou mostrar a variedade.
O amigo Ibiapina bem que deu a ideia de usar essas ervas, da caverna, no preparo de "batidas": – Ô Luar, não usaremos limão. Só as ervas. – E foi em frente: – Cada batida levará o nome do vizinho que merecer!
Acho melhor pensar no assunto. Vai sair bem mais em conta do que comprar as cápsulas que oferecem milagres. Na verdade, só levam o suado dinheirinho dos velhinhos. Dá até para patentear nossas bebidas, anunciar nas televisões e faturar um dinheirinho. Consegui bolar até um slogan: A trombada milagrosa!
Coluna publicada aos sábados