Foi assim, durante uma rodada de ostras com vinho, lá no fundo da caverna, aqui, no Principado da Água Santa. Chamamos de Reunião dos Velhos Amigos que Quase Nada Fazem, ou RVAQNF. Aparece cada ideia... A mais badalada, e que não chegou aos finalmente até hoje, deve render várias seções. Ah, em vários dias, é claro. A proposta foi do Júlio. Que imaginação: a construção de bunkers à prova de ataques da milícia e outros grupos. Sem licitação!
O que está pegando, até agora, é o custo. Quem financiará? O governo, as prefeituras, ou a iniciativa privada? Ou eu??? Vai faltar bebida e tira gosto até o final da discussão da ideia. Mas, somos democratas e temos tempo. Então, Ibiapina foi pedindo a palavra: "Vai ter estacionamento sem flanelinhas e com quiosques?" Nelson entrou atropelando: "Teremos cerveja nos quiosques?"
Fred, atrapalhado com uma ostra rebelde, foi mais fundo: "Quem vai explorar os abrigos, o estacionamento e os quiosques?" Silêncio somente interrompido pelos latidos da cadela Chiquinha, perseguindo o gato do vizinho no quintal. Adilsinho, preocupado com a saúde de todos, aproveitou um lapso no latido e acrescentou: "E equipes médicas? Teremos?" Caramba! Foi na mosca.
Mais silêncio, sem latidos. Já estávamos reunidos umas três horas. Vizinhos de bombordo, de boreste e do Sul, que trouxeram sardinhas, camarão e mais bebidas, nada falaram. Somente o do Norte, falou baixinho: Vamos precisar de medicamentos, mantimentos e papel higiênico. Eita, retruquei. Resolvi meter o bedelho: "E a água com geosmina, detergente, coliformes... como vamos purificar?"
Entusiasmado, continuei: "Se ficarmos sitiados, sem condições de sobrevivência, precisaremos de internet para pedir auxílio. E teremos que providenciar baterias, geradores, creme dental, absorventes para mulheres, joguinhos para os netos... televisores".
"Isso não vai dar certo!", gritou um vizinho, que estava na casa ao lado, espiando e escutando a conversa, pelo muro. Fred não gostou da intromissão. Mas, não perdeu a calma. Precisamos, desde cedo, organizar um canal com organizações humanitárias. E explicou: "Sim, teremos diálogos para ter como ser resgatados, se preciso". E foi além. "E, receber, por um corredor seguro, mantimentos. Vamos lembrar das bebidas e os camarões!"
Pronto, acabou em festa os planos dos bunkers. Parece até as reuniões da ONU. Nada resolvido. Adilsinho, com o braço direito no ar, decretou: "Ó Luar, providência outra rodada. O papo deu sede".